Realizado pelo Hospital e Maternidade Santa Joana, evento contou com a participação de mais de 150 obstetras e enfermeiros de todo País e palestras das especialistas internacionais Dra Ana Pilar Betrán, da OMS, e Dra. Sally Collins, referência mundial em acretismo placentário
Referência no cuidado com a gestante, neonato e gestações de alta complexidade, o Hospital e Maternidade Santa Joana, que celebra 75 anos de história em 2023, promoveu nos dias 10 e 11 de novembro o 8º Congresso Internacional de Medicina Obstétrica. Destinado a obstetras e enfermeiros, o encontro foi realizado em São Paulo (SP) e contou com a participação de importantes convidados internacionais, como a Dra. Sally Collins, professora de Obstetrícia da Universidade de Oxford na Inglaterra, reconhecida pela sua expertise em alta complexidade obstétrica e uma das maiores referências mundiais sobre acretismo placentário, e a Dra. Ana Pilar Betrán, que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS), onde desenvolve e implementa numerosos programas e iniciativas para melhorar os padrões de saúde materna e perinatal em nível global.
Um dos destaques do Congresso foi o acretismo placentário – condição clínica na qual a placenta não se descola espontaneamente da parede uterina ao nascimento e não pode ser removida sem que ocorra um sangramento anormal e uma das causas de morte materna no mundo. De acordo com a Dra. Sally Collins, 90% das mulheres com placenta acreta precisarão de transfusão de sangue em algum momento. Por isso, o diagnóstico no pré-natal é muito importante para que o parto seja bem planejado e realizado em uma instituição de referência com estrutura multidisciplinar e multiprofissional, o que contribui para reduzir os riscos de morte e morbidade materna.
“Como médica, uma das coisas mais importantes para a nossa área é a atualização constante. E uma das formas é participar de congressos com nossos pares onde temos a oportunidade de discutir diferentes temas. A troca de conhecimento é essencial para aprendermos e nos aperfeiçoarmos cada dia mais”, comenta Dra. Sally Collins.
Estudos mostram que um dos fatores que contribui para melhorar a segurança do paciente é o trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar que age com respeito e parceria. No Reino Unido, existe uma campanha chamada Civillity Saves Lives que mostra a necessidade de existir uma comunicação aberta entre toda equipe para garantir a efetividade e o desempenho dos profissionais durante uma cirurgia, por exemplo. “Isso porque cada um é parte fundamental da equipe e precisam confiar uns nos outros, já que as atitudes irão refletir no cuidado e segurança do paciente”, completa Sally.
Outro tema de destaque apresentado durante o Congresso foi a saúde mental das gestantes. De acordo com a OMS, nos países em desenvolvimento, uma em cada cinco mulheres terá um problema de saúde mental durante a gravidez e/ou no primeiro ano após o parto. A saúde mental materna comprometida pode aumentar o risco de complicações obstétricas como, por exemplo, pré-eclâmpsia, hemorragia, parto prematuro, natimorto, além de suicídio. Ainda segundo pesquisas internacionais recentes, 18% das mulheres apresentam sintomas de ansiedade no primeiro trimestre da gestação, passando para 19% no segundo trimestre e chegando a 24% no terceiro trimestre.
“Embora alterações na saúde mental durante o período perinatal e o puerpério possam ser esperadas, o tema ainda é muito estigmatizado. Ainda temos inúmeros desafios, mas estamos caminhando para trazer melhorias constantes no cuidado e apoio às mulheres durante esse período. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde lançou o Guia para integração da saúde mental perinatal nos serviços de saúde materno-infantil. Acreditamos que é muito importante ouvir mais as mulheres e tentar entender o que elas estão sentindo, quais são seus medos e anseios”, destaca Ana Pilar Betrán.
Alguns dos sintomas mais comuns que podem indicar problemas de saúde mental são sentir-se triste, nenhum prazer em realizar atividades que antes eram apreciadas, falta de energia e motivação, preocupação excessiva, dormir e comer muito ou pouco, dificuldade de concentração e/ou tomar decisões, sentimento de culpa e desesperança, sentir que algo ruim irá acontecer, dores inespecíficas no corpo e, até mesmo, se sentir inútil. Já entre os fatores de risco estão a gravidez na adolescência, experiências difíceis de parto anteriores, pobreza, discriminação e/ou violência baseada no gênero, má nutrição, baixas oportunidades de educação, pouco ou nenhum apoio social, desastres naturais, dificuldade para engravidar e uso de drogas.
A programação do Congresso incluiu, ainda, temas como a Medicina Fetal de precisão e anemia em gestantes como fator de risco para sangramento, além de palestra comandada pelo Dr. Drauzio Varella sobre a saúde mental dos profissionais de saúde na atualidade.