InTrodução
A osteoartrose do quadril e do joelho são as condições clínicas mais frequentes para a indicação da cirurgia de artroplastia
de substituição da articulação com uso de próteses. A osteoartrose apresenta uma condição clínica progressiva, evoluindo
com limitação e incapacidade funcional devido à dor, diminui-
ção da amplitude de movimento, rigidez e, consequentemente,
fraqueza muscular.
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Na população geral, os adultos acima de
30 anos têm a doença sintomática na articulação do joelho em
aproximadamente 6% dos indivíduos, e no quadril em 3%.
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É
responsável pela incapacidade laborativa de aproximadamente
15% da população adulta no mundo, ocupando no Brasil o
terceiro lugar na lista dos segurados da Previdência Social que
recebem auxílio doença, superada apenas pelas doenças mentais
e cardiovasculares.
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As artroplastias com próteses são indicadas para os pacientes
com falha do tratamento conservador ou naqueles onde houve
a progressão da osteoartrose, mesmo após cirurgias de preserva-
ção da articulação.
A indicação das artroplastias é mais freqüente em pacientes
com idade entre 65 e 79 anos.
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Em razão da tendência de aumento significativo da longevidade na população mundial nas
últimas décadas, verificamos aumento crescente da demanda
deste tratamento cirúrgico, com objetivo de melhorar a dor e a
mobilidade articular e a função dos pacientes nas suas atividades de vida diária.
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No Brasil, verificamos que no período de 1995 a 2000
houve uma ascensão constante (107%) nos gastos do Sistema
Único de Saúde (SUS), tendo sido gastos com órteses, próteses
e materiais R$ 242,7 milhões em 2000 frente a R$ 116,9 milhões em 1995, o que representou aumento do gasto per capita
de R$ 0,75 para R$ 1,46.
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Esses dados demonstram que há
necessidade de refletirmos sobre qual o melhor tipo de prótese
a ser utilizada, considerando-se a relação custo/efetividade deste
procedimento cirúrgico.
aSpecToS reLeVanTeS para
IndIcação do TIpo de próTeSe
O sucesso ou a falha da cirurgia de artroplastia com próteses
podem ser influenciados basicamente por três fatores:
a. Fabricação – No processo de fabricação do implante, é fundamental que haja um controle rígido do tipo, da qualidade
e especificações técnicas na seleção do biomaterial (propriedades físico-químicas, magnéticas e mecânicas compatíveis)
utilizado no implante, o que é regido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A inobservância destas
normas leva frequentemente a falhas por corrosão e consequente quebra do implante ou a reações tissulares locais
por oxidação do metal e produção de reação inflamatória
asséptica, dita metalose. Além da utilização de materiais
biocompatíveis, deve haver muito rigor quanto ao projeto
do implante (secção transversal, equilíbrio de concentrações
de tensão do material) e de sua execução (qualidade técnica de fabricação do implante e precisão dimensional). É de
fundamental importância para o sucesso da cirurgia que o
instrumental específico para a realização da prótese tenha o
mesmo rigor de controle de qualidade.
b. Ato cirúrgico – O segundo fator diz respeito ao ato cirúrgico, desde seu planejamento, com a indicação adequada do
tipo específico de implante a ser utilizado, o emprego da técnica cirúrgica correta para sua utilização até os cuidados de
reabilitação pós-operatória. A falta de conhecimento técnico
ou utilização de instrumentais inadequados para realização
da cirurgia pode determinar deformações ou mau posicionamento do implante e sua consequente quebra ou soltura
precoces. De forma semelhante, o não seguimento do protocolo pós-operatório pode provocar sobrecarga precoce do
implante e consequente falha.
c. Características epidemiológicas do paciente – As características individuais do paciente, como idade, doenças sistêmicas associadas, qualidade óssea, potencial osteogênico, e as
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Doutor em Ciências, Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Mestre profissional em Efetividade em Saúde Baseada em Evidências Unifesp- EPM. Médico ortopedista e cirurgião de
mão do Departamento de Ortopedia e Traumatologia (DOT), Unifesp-EPM.