Entrevista exclusiva: Denise Santos pontua divergências construtivas no avanço da organização?
10/10/2023

A primeira mulher a comandar uma rede de hospitais no Brasil em meados dos anos 2000. Já foi reconhecida em premiações da Forbes Brasil, EY e Valor Econômico... Conhecimento, experiência e histórias não faltam à Denise Santos, CEO da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo há 10 anos.

Sua atuação como gestora sempre foi pautada nas pessoas. Afinal, nada é construído sozinho. Somado isso, ela enfatiza que o alinhamento com os princípios e valores da empresa é fundamental para enfrentar novos desafios.
 

Na entrevista a seguir, a executiva conta como a inovação e a promoção de um ambiente colaborativo, formados por colaboradores, parceiros e fornecedores, são estimulados na instituição. Entenda de que forma conflitos saudáveis e a não convergência de posicionamentos podem ser transformados em oportunidade para aprimorar as tomadas de decisão e impulsionar a excelência nos resultados.? 

Saúde BusinessA diferença de ideias e visões, se bem aproveitada, é algo que enriquece as equipes de trabalho e as entregas. Mas em alguns momentos divergências acontecem. Como líder, como você consegue tornar as divergências construtivas dentro das equipes? O que é fundamental para isso?

Denise Santos: Acredito que o importante é promover um ambiente onde as pessoas consigam se posicionar. Um ambiente que gere abertura, pois sem isso você não consegue criar confiança, que é a base para que possa expor suas ideias, ouvir e contribuir. Não necessariamente você vai ter um equilíbrio de conhecimento e de formação entre essas pessoas que estão reunidas debatendo um tema, mas, acima de tudo, terá respeito.É preciso promover um ambiente que traga essa possibilidade de abertura ao diálogo.

Saúde Business: Quais ações são desenvolvidas para que esse ambiente seja criado?

Denise: Realizamos vários eventos. Um deles é uma roda de conversa que chamamos de “Papo Reto”. Sempre que percebemos que um processo não está caminhando bem, independentemente da razão, reunimos equipes multidisciplinares para discutir.  Promovemos essas conversas – virtual e presencialmente –, junto com especialistas de recursos humanos, e cada um vai pontuando aquilo que, na sua opinião, não está indo bem. Mas é preciso contar com ferramentas que promovam a participação e a colaboração. Por isso, a importância do RH.

Outro evento que realizamos, focado na liderança, é o chamado “Liderança em Movimento”. Reunimos os líderes de todas as áreas, a cada dois ou três meses, para debatermos, com base no nosso planejamento estratégico, não apenas o desempenho do trimestre, mas o que é preciso fazer para que possamos seguir adiante. Nessa reunião, fazemos muitos subgrupos de trabalho, nos quais aplicamos o conceito do “Papo Reto”, associado a dinâmicas para extrapolação de ideias. Olhamos para o futuro, para onde queremos chegar, e o que precisamos fazer para desenhar o novo.

Do ponto de vista de governança, temos um conselho bastante atuação, que vai além de um trabalho como um órgão de cobrança do dia a dia, mas que nos ajuda a refletir sobre os processos de rotina e sobre o desenvolvimento de estratégias. Temos na empresa um Comitê de Estratégia e Finanças e, nas reuniões do conselho, levamos vários executivos para debater esses assuntos. Temos um ambiente de muita abertura e de muita conversa, e isso vai criando um elo de confiança entre as pessoas.

Saúde BusinessA BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo é reconhecida por sua capacidade e agilidade de inovação. Como sustentam essa cultura inovadora dentro da organização? Há um incentivo para que se tenha um ambiente colaborativo e participativo?

Denise: A cultura inovadora se sustenta de algumas maneiras. Primeiro, no nosso mapa estratégico, que está resumido em uma única folha, um dos nossos pilares é a organização inovadora. Dentro desse pilar, definimos os objetivos estratégicos e quais projetos irão nos ajudar a atingi-los.

Temos uma área de Estratégia e Project Management Office (PMO), que se refere ao gerenciamento de projetos estratégicos. Inovação geralmente está ligada à tecnologia, mas sabemos que não é só isso. Então, criamos um fórum, que batizamos de “Protagonize”, realizado durante três dias, no qual reunimos parceiros e fornecedores e desenvolvemos várias dinâmicas diferentes. Cada um contribui com suas ideias e, para facilitar essa dinâmica, contamos com uma metodologia para ajudar nesse pensamento.

Nós acreditamos na inovação para dentro e para fora. Temos uma parceria com o Learning Village, da HSM, e um hub de inovação na Vila Madalena, onde reunimos diversas pessoas para discutir o assunto. Trazemos desde startups até pessoas de outros setores, além da saúde, para participar de uma série de dinâmicas. Levar as pessoas para uma atmosfera diferente é o que tem nos ajudado bastante nessa questão da inovação, de desenvolvimento de novas ideias.

Saúde Business: Quando a pauta são as divergências setoriais, seja por remuneração mais justa, melhor qualidade de atendimento, melhor remuneração de profissionais de enfermagem, por exemplo, você tem uma visão sobre como tornar essas divergências mais construtivas? Vocês já fizeram algo nesse sentido na instituição?

Denise: No nosso setor, temos tentado levar conversas de convergência para dentro da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Ali, reunimos grupos e subgrupos de trabalho para esses debates, inclusive para debates junto aos principais órgãos em Brasília, junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou operadoras de saúde. Percebo que, ao longo do tempo, até pelo momento atual, que exige mais colaboração, temos conseguido caminhar nesse sentido. Mas acho que ainda pecamos em algumas questões no setor.

Por exemplo, a cadeia toda é fragmentada. As associações são um caminho para resolver questões como essa. Encontros, como o Saúde Business Fórum, são um caminho importante, porque nos levam a reflexões, seja em um evento de networking ou em uma reunião de negócios. Quando você reúne pessoas e pensamentos diferentes, você volta para a empresa com muitas ideias. É isso que faz a diferença.

Saúde Business: Em um ambiente de alta performance, onde a divergência de ideias é uma premissa fundamental, como promovem a cultura de encorajar e gerenciar as divergências de forma construtiva para impulsionar a inovação e a excelência nos resultados?

Denise: Buscamos ajuda de consultorias externas para nos auxiliar nesse momento de revisão de cultura, porque a questão de promover e encorajar, isso tem que, ao longo do tempo, estar internalizado na cultura da empresa. As pessoas precisam ter segurança para falar e contribuir com suas críticas e ideias. Buscamos ajuda para nos conhecermos melhor.

Criamos um programa, chamado “Potencializa”, onde buscamos alinhar a potência que cada um tem como ser humano – e existem várias ferramentas que podem ajudar nisso, como assessment, avaliação de desempenho 360º e feedback – com performance. Temos metas de performance, que estão atreladas a bônus, mas que não são apenas financeiras. Elas também englobam projetos individuais de desenvolvimento, porque não queremos que metas sejam atingidas a qualquer custo.

Saúde Business: Você poderia nos contar exemplos práticos de como a diversidade de perfis nas equipes responsáveis por tomadas de decisão contribuiu para o desempenho organizacional e para o avanço dos princípios ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance)? 

Denise: O pilar ESG possui um componente estratégico muito forte para nós. É natural que, no setor de saúde, o S (social) tenha uma força maior. Mas a governança e o meio ambiente precisam ser trabalhados. Estabelecemos dentro da BP um Comitê de Governança, Riscos e Compliance, que abarca desde comportamentos não adequados até como cuidamos do meio ambiente. Nele, temos um Comitê de Desenvolvimento Social, formado por médicos, mas também nos preocupamos em criar uma área de Sustentabilidade, formada por profissionais com conhecimento técnico nesse assunto. Essa é uma iniciativa recente, criada há cerca de dois anos. Dentro do ambiente hospitalar, existem alguns quesitos de meio ambiente que somos obrigados a cumprir, a adequação de descarte de resíduo hospitalar, por exemplo.

Temos que seguir as regras, mas isso não significa que você esteja dando uma pegada ambiental adequada para cada um deles. Tendo isso em mente, criamos uma métrica de indicadores climáticos (por exemplo, há alguns meses, toda a energia que usamos na BP é proveniente de fontes renováveis). Mas isso é fruto de um caminho construído. As metas de ESG fazem parte das metas anuais dos executivos – onde estabelecemos no que queremos focar em cada um dos indicadores de ESG.

Em governança avançamos muito, com a criação de um conselho independente, de comitês que se reportam para esse conselho. Trabalhamos metas claras e discutimos como poderemos alcançá-las. Dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), escolhemos 16 para atuarmos e a cada trimestre avaliamos quais metas estamos alcançando. Comparamos os indicadores de cada um desses objetivos com as práticas que temos dentro de casa e conseguimos, com isso, desenvolver uma calculadora climática que nos ajuda a medir nossos resultados de maneira bem prática.
 





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