O Apocalipse na Saúde e a Vida Futura
06/05/2015 - por ISTVAN CAMARGO

Analisando de perto diferentes projetos voltados para a criação de valor, a partir de inovações digitais, no setor de saúde cheguei à conclusão de que uma organização muito semelhante às operadoras e seguradoras brasileiras é a Igreja Católica Apostólica Romana.

Pensando bem vejo que não poderia ser diferente. Afinal de contas foram as ordens religiosas que criaram os primeiros hospitais e que até hoje estão presentes em nosso ecossistema através de instituições como as Santas Casas de Misericórdia. Sim, existe um forte “componente genético” que talvez ajude a explicar a causa dessa situação, pelo menos na minha teoria.

Mas não é na causa histórica que quero centrar esse artigo. Minha observação nasceu em cima de algumas das possíveis consequências desse nascimento em berços tão próximos.

Acredito que qualquer um que, como eu, já tenha trabalhado no ramo possa ter notado esses paralelismos com a Igreja devido a fatores como a clara tendência ao tradicionalismo no modelo de gestão e a grande dificuldade em atuar sob regras vindas de uma entidade superior central que não contempla alegadas exceções práticas para sua sobrevivência. Além é claro da grandeza da missão de salvar vidas próximas da total falta de solução.

Sendo assim vou me centrar apenas num ponto que, esse sim, talvez passe desapercebido à grande maioria dos observadores desse segmento. Trata-se da enorme dificuldade em fazer a “urgente conversão no estilo de vida” de tantos adeptos, em função de um grave ceticismo e de uma profunda crise de comunicação.

É certo que os caminhos do mundo não nos levam a tomar sempre as melhores decisões para nossa saúde, da mesma forma que acontece com relação às nossas almas imperfeitas. As tentações e provações estão presentes por todos os lados e a todo momento; por mais que tentemos é impossível evitá-las.

O diabo é que mesmo sabendo dos grandes benefícios que a santidade nos confere, assim como o inferno que nos aguarda caso não tenhamos uma vida razoavelmente saudável, na maioria das vezes agimos movidos pela imprudência, para depois esperar por um milagre que nos salve de uma internação ou de uma doença crônica.

É certo que na fé contamos sempre com o poder da graça para nossa salvação; mas na saúde essa salvação nunca sai de graça.

Assim, por mais óbvios que os erros sejam, e por mais conhecidas que sejam suas consequências, a Igreja pede há séculos por uma mudança de mentalidade, uma conversão da humanidade, a fim de evitar nossa desgraça eterna.

Da mesma forma o setor de saúde parece pregar no deserto quando leva a cabo algumas miseráveis ações de promoção de saúde, visando converter potenciais pacientes crônicos em gloriosos exemplos da qualidade de vida.

Mas não acabam por aí as coincidências.

No centro da dificuldade enfrentada pela Igreja, dentre tantas questões complexas, reside uma dificuldade grande em influenciar uma população cada vez mais imediatista, conectada e distante de uma linguagem que, muitas vezes, parece saída de um antigo filme de época. Como resultado as pessoas acabam não mudando seus hábitos, convertendo-se apenas quando vivem uma experiência trágica, como uma doença sem cura ou uma morte anunciada.

Alguém se arrisca a dizer que a comunicação de operadoras e seguradoras de saúde não padece dos mesmos vícios junto a seu rebanho?

A Boa Nova, meus irmãos, é que os dogmas, ao menos para a Igreja, também são afetados pela razão humana. Assim, o boom dos recursos digitais nos últimos tempos tem servido aos planos de Deus ajudando milhões de pessoas no mundo a se conectar com outros interessados e se reconectar de uma forma rápida e eficaz com sua saúde espiritual. Sim, por incrível que pareça, até a Igreja parece mais aberta às atualizações tecnológicas seculares do que muitos gestores do nosso setor.

Comecemos pelos programas que visam a educação espiritual dos fiéis. Realizei uma pesquisa criteriosa na internet antes de elaborar essa minha tese, e descobri um surpreendente rol de recursos como blogs, videocasts, podcasts, comunidades online e plataformas de ensino a distância para atender o objetivo de massificar a mensagem eclesiástica de forma ampla e ainda assim muito responsável.

Também encontrei em redes sociais como o Youtube canais onde é possível assistir a missas e homilias, sem a necessidade de que o público-alvo saia de casa e tenha uma experiência capaz de fazê-lo mudar importantes aspectos de seu comportamento mundano.

Já no setor de saúde, podemos dizer, as coisas continuam acontecendo muitas vezes na base do sacrifício.

As operadoras nacionais continuam relutantes em utilizar recursos digitais para promover mudanças de comportamento junto à sua população e para tanto insistem na utilização de recursos físicos caros, raros e sobretudo pouco eficazes. Para engajar aqueles que se atrevem a participar de seus programas de saúde, continuam investindo dinheiro em prédios, telefones, pessoas e papel…muito papel.

Como resultado temos um baixíssimo índice de adesão reportados à autoridade reguladora, e sempre justificado na falta de interesse dos pecadores ou no alto investimento para levar as ações presenciais à cabo.

Sim, meus caros amigos, os dogmas do setor de saúde estão precisando ser questionados também na sua forma de se comunicar com os pacientes. No mundo digital a Vida Futura já chegou. Basta abrir os olhos e aprender a lidar com ela.

Do contrário, será preciso realmente de um milagre, ou de uma inesperada redenção, para salvar a todos – pacientes, pagadores e provedores – de um inevitável apocalipse no sistema como o conhecemos hoje.

E nesse caso torcer para que Deus tenha piedade de nós.

 





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