Com a confirmação da sede no Rio de Janeiro, a previsão é de que as instalações da universidade britânica sejam lançadas ainda em dezembro deste ano.
“Com as instalações prontas neste ano na cidade do Rio de Janeiro, os primeiros cursos devem começar em março de 2024. Eles serão ministrados para brasileiros e estrangeiros, porque a ideia é que a Oxford Latam Unit seja uma referência de ciência e tecnologia global na América Latina.”
A Oxford Latam Unit surgiu durante a pandemia. Um grupo de cientistas brasileiros contribuiu com estudos e testes com a vacina da AstraZeneca/Oxford, segundo Sue Ann:
“Em 2021 criamos essa unidade de Oxford no Brasil pelo reconhecimento do nosso trabalho durante a pandemia, afinal, contribuímos para mostrar a eficácia da vacina desenvolvida por Oxford e com isso geramos dados de qualidade no Brasil, que foram inspecionados por cinco agências regulatórias a nível internacional."
O resultado pode ser comparado por meio dos centros, diz a médica. "Com apenas 6 centros, o Brasil conseguiu recrutar a mesma quantidade de vacinados que o Reino Unido em 19 centros."
A universidade é apenas um dos pilares dessa unidade, que se divide em três grupos, de acordo com a professora:
“A pesquisa e a informação científica estamos fazendo desde 2020, só a educação que vamos começar agora, porque os cursos precisavam ser criados e existem um processo para isso. Precisamos criar uma grade curricular que é submetida no formato da universidade de Oxford, que necessita de um tempo para aprovar.”
Os cursos na Universidade de Oxford podem demorar de um a sete anos para serem aprovados. afirma Sue Ann. O diferencial dos cursos da Oxford Latam Unit é que além do certificado da universidade britânica, alguns cursos contarão com aprovação de mais de uma universidade.
“Estamos fazendo a aprovação dos cursos em nível de consórcio de universidades, o que é muito comum na Europa e que gera para o aluno mais certificados de valor. Por exemplo, alguns cursos foram aprovados por duas universidades, como a Universidade de Oxford e de Viena, e a gente está tentando aprovar aqui pelo MEC também,” diz Sue Ann.
Na última quarta-feira, 20, foi divulgada uma doação de £ 5 milhões, o que vale a mais de R$ 30 milhões, feita pela SAIL for Health Chair, empresa brasileira de saúde global e desenvolvimento clínico, se tornando a maior doação a uma universidade, feita por uma instituição brasileira, para criar uma cadeira perpétua na universidade britânica.
“As cadeiras na Universidade de Oxford, dependendo da doação, podem durar dez, 20, 50 anos, mas essa cadeira é perpétua,” diz a professora da Oxford.
Após um processo de seleção, a dra. Sue foi escolhida para chefiar essa cadeira.
“Me senti honrada por ser a escolhida, porque isso se soma a minha missão, que é de aumentar os anos de vida da população por meio de uma medicina de qualidade e preventiva, mas para isso, nós, cientistas, precisamos de capacitação e acesso a tecnologias e inovação.”
As parcerias ainda estão sendo construídas, e o Rio de Janeiro está contribuindo muito para isso, segundo a dra. Sue Ann.
“O fomento e as parcerias estão realmente nos levando para o Rio de Janeiro. O governo do Rio, principalmente a cidade do Rio de Janeiro, nos apoiou desde o início, desde que nós inauguramos a nossa unidade, sempre tivemos o apoio científico.”
Um dos cursos também contará com uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o que contribui para a escolha do local.
“A ideia desse investimento é fazer desse centro um polo de tecnologia, educação e ciência. Queremos expandir essa capacitação científica para o Brasil e a América Latina.”
Os cursos da Oxford Latam Unit não serão ministrados apenas para alunos da América Latina. Assim como na Universidade de Oxford e Siena, os cursos serão abertos globalmente, e por isso todos serão ministrados em inglês. Os primeiros cursos serão de extensão e terão os seguintes nomes:
“O público-alvo deste curso será profissionais de saúde pública que desenvolve a fórmula das vacinas, ou seja, profissionais com conhecimento em saúde e cientistas. Este curso será presencial de 4 semanas e terá um internato na Fiocruz.”
“Neste curso, serão abordados temas mais globais, como nutrição e estudos de doenças, voltados para profissionais que não tenham o perfil de desenvolvimento do produto, mas que estudem a parte clínica, como análise de comitê da Anvisa e os tipos de vacinas para aquela doença. Será um curso mais aberto a profissionais de outras áreas.”
“Esse terceiro curso será muito focado para o profissional que atua como coordenador de centro, que seja investigador ou sub-investigador, que trabalhe com logística do centro de vacinação.”
A médica também reforça que há um curso de mestrado que está sendo construído:
“O primeiro curso estamos trabalhando para transformá-lo em um curso de pós-graduação e há expectativas para que em 2026 seja lançado um curso de mestrado, que cubra as lacunas de pesquisa, imunidade, biotecnologia e políticas em saúde pública. A submissão está sendo realizada neste ano.”
Por ser um curso global, os valores dos cursos ainda estão sendo estudados, mas alguns cursos terão bolsas para alunos internacionais, e há buscas para bolsas nacionais também, afirma a Dra Sue.
“A nossa expectativa é de que em março cerca de dez alunos africanos terão bolsas e farão parte das primeiras turmas. Agora, estamos abordando instituições brasileiras para conseguir bolsas para alunos brasileiros. Temos como propósito que a Universidade de Oxford chegou no Brasil para o mundo,” afirma Dra Sue.
Entre algumas missões da Universidade Latam Unit, está a de entregar vacinas em até 100 dias e para isso é preciso desenvolver ações preparatórias, segundo Sue Ann.
“Se eu acho essa missão provável? Talvez. Temos uma lista de recordes, mas não chega aos 100 dias. Precisamos nos esforçar muito, e capacitação faz parte disso.
A médica reforça que é preciso também ter profissionais mais qualificados e profissional em volume suficiente: "Sentimos a falta de profissionais e de estrutura na pandemia. Por isso, reforço que para novos treinamentos, precisamos de investimos públicos e privados em pesquisa, infraestrutura e manufatura.”
A empresa está investindo em um “know-how” de qualidade, segundo Sue Ann.
“A Universidade de Oxford desenvolveu um produto de ponta a ponta. A universidade tem até uma fábrica para produzir o produto inicial para ser testado, só não pode fazer o escalonamento para produzir a vacina no mundo.”
Poucas universidades do mundo têm essa expertise, afirma a médica brasileira, que diz que no Brasil há muita inovação em genéricos, mas que não há exemplos de vacinas que foram desenvolvidos de ponta a ponta aqui.
"Ou temos transferência de tecnologia ou herdamos parte do processo de algum lugar. A ideia desse investimento na Universidade de Oxford é desenvolver a capacitação em conjunto. Não falta talento na América Latina, falta investimento.”
“Ouvi um dia do Nelson Mandela que a educação é uma das armas mais poderosas, e tenho certeza de que é. Se capacitarmos, teremos qualidade e volume no futuro para poder desenvolver o que é necessário em escala global. A Oxford Latam Unit faz parte desse investimento e estamos otimistas para começar”, afirma a professora de Oxford.