A tecnologia digital vem transformando radicalmente a área da saúde. Esse é um processo que se aprofunda há décadas, mas a pandemia foi decisiva para tornar claro que smartphones e aplicativos serão cada vez mais uma parte integral da medicina, mediando nosso relacionamento com médicos, hospitais, laboratórios e farmácias.
Conhecemos bem a parte mais visível dessa revolução digital, ilustrada pelas teleconsultas e demais modalidades de atendimento remoto. Mas há várias outras novidades tecnológicas com as quais não estamos tão familiarizados e que, no entanto, vêm transformando o setor da saúde de maneira até mais profunda.
Um bom exemplo é a chamada interoperabilidade. Você pode nunca ter ouvido essa palavra, mas certamente já entrou em contato com ela na prática.
Pense na seguinte situação: você quer acessar um site ou aplicativo novo e recebe a opção de fazer login com uma conta do Google ou do Facebook. Ou está finalizando uma compra e o Google se oferece para preencher seus dados de cartão de crédito.
Isso é interoperabilidade. Trata-se da capacidade de conectar dois ou mais sistemas digitais, para que eles “conversem” entre si, compartilhem dados e criem uma relação de cooperação tecnológica.
Interoperabilidade é diferente de integração, pois não há fusão ou dependência entre os sistemas. Cada um continua existindo independentemente – no exemplo dado, os sistemas do Google, do Facebook e do novo app, embora troquem informações e falem a mesma língua, se mantêm separados.
Mas como esse princípio se aplica à área da saúde? Nesse contexto, a interoperabilidade está permitindo conectar os sistemas de laboratórios, hospitais, farmácias e demais organizações do setor, como as gestoras de planos de saúde.
São muitas as vantagens desta aproximação. Em primeiro lugar, ela torna toda a jornada do paciente mais ágil e certeira, sobretudo no caso de novos atendimentos. Com sistemas digitais conectados, o médico que atende um paciente pela primeira vez tem acesso a todo o seu histórico de consultas e exames, o que, por conseguinte, tornará a tomada de decisão do profissional mais assertiva.
As empresas de saúde também podem cruzar informações de diferentes fontes para traçar perfis mais acurados de seus clientes, o que ajuda na organização de toda a operação, na previsão de custos e no desenho de pacotes de serviços mais adequados às necessidades reais dos pacientes. O mesmo vale para órgãos do Estado, que ficam capacitados a traçar políticas públicas mais eficientes e melhor direcionadas.
Talvez o maior ganho trazido pela interoperabilidade seja possibilitar atendimentos mais proativos. Hoje, a vasta maioria dos serviços prestados por instituições de saúde é reativa, isto é, o paciente procura a instituição, que então reage à demanda trazida por ele.
Atendimento proativo significa que a própria instituição inicia esse contato, o que só é possível quando ela tem tecnologia suficiente para identificar tendências, prever demandas e fazer sugestões.
Significa também melhorar a jornada longitudinal do paciente, isto é, seu acompanhamento rotineiro, ao longo do tempo, após uma consulta ou procedimento. A riqueza de dados trazida pela interoperabilidade permite refinar e até parcialmente automatizar modelos de coordenação de cuidado, para que a instituição de saúde se certifique de que cada paciente segue as recomendações do médico especialista, bem como possibilita abrir canais de comunicação e resolução de dúvidas.
Isso tudo mostra que a área da saúde é uma das que mais têm a ganhar com a existência de sistemas digitais mais cooperativos, capazes de conversar entre si para explorar todo o potencial dos dados que acumulam.
Nesse sentido, inovações digitais como a interoperabilidade chegaram não para “desumanizar” o atendimento em saúde, mas para fazer o oposto: permitir, de forma inteligente, econômica e automatizada, a construção de um sistema de saúde mais personalizado e mais próximo de cada paciente.