Estudo inédito liderado pelo Insper, com o apoio da biofarmacêutica AstraZeneca, realizou uma análise do impacto econômico do câncer de pulmão no Brasil, incluindo os custos diretos (de tratamento da doença) e indiretos (relacionados à perda de produtividade por mortalidade precoce e absenteísmo). A análise, realizada no período entre 2015 e 2019, evidenciou que 80% dos custos com câncer de pulmão no SUS (Sistema Único de Saúde) estão relacionados à alta taxa de mortalidade da doença. Para mudar esse cenário, o estudo apresenta recomendações para implementação de um sistema de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão como política de saúde nacional.
“Com o objetivo de quantificar os custos econômicos do câncer de pulmão, mapear e classificar as principais barreiras para implementação de políticas públicas e sistematizar propostas de soluções, realizamos o estudo analisando dados da saúde pública e suplementar referentes aos anos de 2015 a 2019. Também realizamos uma revisão sistemática de escopo, entrevistas qualitativas com especialistas e a idealização de um grupo focal para discutir o que seria necessário para a implementação de uma política de rastreamento nacional”, esclarece Vanessa Boarati, economista, pesquisadora e líder do estudo no Brasil pelo Insper.
Apesar de não ser o tumor mais incidente, com estimativa de 32.560 novos casos por ano do triênio 2023-2025, o câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer no Brasil e no mundo, com taxas maiores do que a soma de mortalidade dos cânceres de próstata, mama e colorretal.
Estudos já bem consolidados evidenciam que a antecipação diagnóstica resulta em uma redução do risco de morte por câncer de pulmão. No Brasil estima-se que cerca de 70% dos casos de câncer de pulmão sejam diagnosticados em estágio avançado, número que pode ser potencialmente reduzido em mais de 50% caso um programa de rastreamento seja implementado no Brasil.
Com base em análise de dados do DATASUS, o levantamento do Insper evidenciou que os custos totais (direto e indiretos) com câncer de pulmão no Brasil foram da ordem de R$ 1,3 bilhão em 2019, sendo que quase 80% do montante são custos indiretos e estão relacionados à mortalidade precoce e absenteísmo. Aproximadamente um terço dos pacientes que faleceram em decorrência da doença tinham idade inferior à de aposentadoria, o que gera um alto custo de produtividade para o País.
Ao comparar os custos do câncer de pulmão com os dois tipos de tumores mais incidentes no Brasil, o de próstata e de mama, depois do câncer de pele não-melanoma, fica claro o problema gerado pelo diagnóstico tardio do câncer de pulmão.
Isso porque, apesar da quantidade de casos novos do câncer de pulmão (31.270) corresponder a quase metade do câncer de mama (59.700), o custo indireto do câncer de pulmão (R$ 1,012 bilhão em 2019) se aproxima ao custo do câncer de mama (R$ 1,381 bilhão em 2019), doença que já possui um protocolo nacional de rastreamento, contribuindo para a redução da sua taxa de mortalidade e, por consequência, os custos associados ao seu tratamento.
Para o médico Daniel Bonomi, diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), “esse estudo pode contribuir para uma revolução no cenário do câncer de pulmão no Brasil. Nós, da SBCT, ao lado do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) acreditamos na importância de uma política nacional de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão, e por isso, lançamos o primeiro consenso médico nesse sentido. A principal recomendação é que seja feita uma tomografia de baixa dosagem em pessoas fumantes e ex-fumantes, a partir dos 50 anos, e com carga tabágica maior do que vinte anos por maço (ou seja, se a pessoa fuma 10 cigarros por dia há 40 anos, sua carga tabágica será 20 anos/maço), como forma de prevenção e, mais que isso, conscientização da importância da cessação do tabaco e a importância dos cuidados respiratórios”.
Não somente os custos são alarmantes, mas a jornada dos pacientes com câncer de pulmão demonstra-se desafiadora. Segundo o estudo do Insper, quando comparado com os cânceres de mama e próstata, esses pacientes têm um maior índice de falecimento durante a internação, maior demanda de internação em UTI e menor índice de cirurgias, mais relacionadas aos estágios iniciais dessa doença.
O oncologista Carlos Gil, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reforça que “o câncer de pulmão é um problema de saúde pública global. Além disso, pela alta mortalidade, tem grande impacto econômico. A melhor estratégia para aumentar a curabilidade dessa doença é o diagnóstico precoce. Nesse sentido, as estratégias de rastreamento ainda são muito limitadas no Brasil e precisam ser estimuladas. Nesse contexto, o estudo do Insper é muito importante e pioneiro no Brasil ao tentar levantar os custos desse tipo de câncer no país, com foco no potencial impacto das estratégias de rastreamento.”
Olavo Corrêa, diretor-geral da AstraZeneca no Brasil, ressalta a necessidade global de atualização das diretrizes para o câncer de pulmão: “Este levantamento inédito faz parte da estratégia da AstraZeneca, em linha com a Lung Ambition Alliance, em prol de melhorias significativas para o cuidado dos pacientes com câncer de pulmão. A grande ambição do projeto é dobrar a taxa relativa de sobrevida do câncer de pulmão de 5 anos, que atualmente é de 18%, para 36%, além de diversas outras iniciativas que contribuam para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Principais recomendações de políticas públicas
Por meio da condução de um grupo focal, o estudo traz recomendações de políticas públicas por meio de seis domínios:
O estudo completo pode ser acessado aqui.