No ano passado, os planos de saúde médico-hospitalares tiveram um prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões. A informação que repercutiu em toda a sociedade, teve como fonte o Painel Contábil da Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde (ANS). Esse foi o pior resultado da série histórica feita pela ANS desde 2001. E quais as razões desse desempenho? Crescimento da frequência de uso dos planos de saúde; o fim da limitação de consultas e sessões de terapias ambulatoriais com fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros; o aumento do preço de insumos médicos; a obrigatoriedade de oferta de tratamentos cada vez mais caros, com doses a cifras milionárias; a ocorrência de fraudes; e a judicialização estão entre os argumentos relatados por analistas e representantes do setor.
Acredito, no entanto, que esses aspectos revelam apenas um lado da história cuja pergunta mais relevante e essencial é outra: Como colocar o setor da saúde suplementar na trilha da sustentabilidade financeira? Para isso é preciso fazer uma mudança genuína do modelo mental de todos os atores desse segmento. O passo inicial é transformar em prática o que já está consolidado no discurso – colocar o paciente no centro e focar na pertinência do cuidado. É isso que ouvimos da maioria das pessoas que fazem parte do setor de saúde, sejam gestores, consultores, profissionais de saúde. Infelizmente, não é isso que acontece na totalidade das situações.
Em minha jornada como CEO da brain4care, ao lado de um time de cientistas, profissionais de saúde e empreendedores, é fácil convencer, diante das comprovações científicas que acumulamos, da efetividade de nossa tecnologia. No entanto, vivenciamos muitas vezes o desafio de convencer organizações de saúde que o fato de nossa tecnologia, que permite a monitorização não invasiva da pressão e complacência intracraniana, um indicador de saúde neurológica que contribui para decisões mais assertivas, cuidados mais pertinentes e altas mais seguras, não vai na contramão dos resultados financeiros. Ao contrário, inovações acessíveis e de fácil implementação, que contribuem de maneira importante para a pertinência do cuidado, auxiliam na redução do desperdício e contribuem para a qualidade e a perenidade das organizações, além de levar melhores desfechos ao paciente.
Em resumo: ainda há no setor da saúde quem ficou preso a um modelo equivocado, estruturado na doença – quanto mais exames, internações, procedimentos melhores serão os resultados. Isso não faz sentido e nós (e não apenas nós, mas todos os que estão na vanguarda da ciência e da boa gestão em saúde) sabemos que a pertinência do cuidado está diretamente relacionada à sustentabilidade da organização de saúde, independentemente de seu porte. Por isso é fundamental banir o desperdício. Vale resgatar um levantamento realizado na base de dados da plataforma Valor Saúde Brasil em 2021 que mostrou que 53% dos custos assistenciais são consumidos por desperdícios causados por falhas na entrega de valor. A conclusão, após avaliar mais de 4,09 milhões de altas em 340 hospitais, que atendem 16,8 milhões de vidas, tanto do SUS quanto da saúde suplementar, foi que a correção de problemas permitiria realizar 2,16 milhões de atendimentos a mais com o mesmo número de leitos, beneficiando 6,25 milhões de brasileiros.
Reestruturar o modelo de atendimento à saúde fica ainda mais urgente em um cenário de mudança do perfil populacional. O Brasil está deixando de ser um país de jovens e a população cada vez mais longeva já começa a demandar mais por cuidados. Vamos precisar aprender a fazer mais com menos, de maneira eficiente e o desenvolvimento tecnológico em saúde caminha alinhado a essa questão. O desafio da saúde suplementar repousa sobre mudanças profundas no modelo de pensar o negócio. Isso está relacionado a sobrevivência do setor e a responsabilidade perante a sociedade, lembrando que o Sistema Único de Saúde (SUS), apesar de merecer nossa admiração, está longe de ser capaz de atender a totalidade da população.