A emergência sanitária global dos últimos três anos causou impactos emocionais, financeiros e econômicos relevantes para a sociedade. Na área da saúde, os aumentos dos custos de materiais médico-hospitalares, do índice de longevidade e da incidência de doenças crônicas ? além dos diagnósticos e tratamentos que deixaram de ser feitos no auge da pandemia e são colocados em dia agora ? estão, entre outros fatores, relacionados com um prejuízo operacional acumulado de R$ 11,5 bilhões para as operadoras de saúde, conforme a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que se configura como a maior crise do setor privado na história.
Embora o mercado tenha se reinventado para garantir qualidade, com foco na redução de desperdícios, sem onerar ainda mais as contas do paciente, aqui entra uma mudança de comportamento de todos os integrantes do setor: de médicos a pacientes, passando por hospitais e operadoras. A saúde digital é o mecanismo que garante acesso e soluções rápidas para as demandas da população, com comodidade e menos risco de contágio por doenças virais e infecciosas, principalmente nos serviços presenciais.
Nesse contexto, as teleconsultas são uma realidade que se instaurou no Brasil com a pandemia e cresce a cada dia. Os EUA foram pioneiros na prática da saúde digital, permitindo, desde 2007, a prescrição de receitas digitais. Segundo o estudo da Global Market Insights, o mercado de telemedicina no país atingirá a marca de US$ 64 bilhões até 2025. Já na Europa, pesquisa publicada no Journal of Medical Internet Research apontou que a telemedicina está bem estabelecida em todos os países da região e que a prestação de serviços de saúde usando dispositivos tecnológicos melhora significativamente os resultados clínicos dos pacientes e o acompanhamento de longo prazo.
Com foco na eficiência, a aposta do setor é para os cuidados integrais de saúde (física, mental e social) e com o digital contribuindo para desafogar o setor, resolvendo dores e queixas dos pacientes virtualmente. Nesse momento disruptivo, população, profissionais da saúde e o mercado precisam se conscientizar que o sucesso de qualquer terapêutica se dá por meio do cuidado coordenado, com o devido engajamento na solução dos problemas do paciente e retorno financeiro para os serviços de saúde. É o momento de engajar todo o sistema nessa estrutura baseada em promoção e prevenção para que a saúde não entre em colapso.
A saúde digital também pode contribuir imensamente por meio da coleta de informações de dados individuais e populacionais e o cruzamento de dados de registros médicos, prontuários eletrônicos, de sinistralidade. Com tais dados, é possível gerar informação preditiva e contribuir para a tomada de decisão de gestão de saúde pública. A partir dos dados populacionais, por exemplo, é possível indicar tendências, prever riscos de doenças e direcionar o recurso de modo mais eficiente, com novos modelos de diagnósticos, variáveis clínicas, geográficas, epidemiológicas, sociais, genéticas, fenotípicas. Há uma enorme gama de ações a serem exploradas.
É urgente darmos foco em eficiência e na promoção, prevenção e predição de saúde, usando a atenção primária e o cuidado coordenado como ferramentas. Precisamos fazer escolhas assertivas e isso envolve conscientizar e engajar a população, além de mobilizar todos os players para a sustentabilidade do setor por meio da saúde digital. É isso que vai permitir que continuemos a cuidar das pessoas com os mais avançados, inovadores e humanizados recursos que a medicina aliada à tecnologia nos oferece.
*Guilherme Weigert é cardiologista e CEO da Conexa.