Diante do cenário macroeconômico previsto este ano, as empresas que concedem convênio médico aos seus funcionários estão indo além das negociações tradicionais de preço. Agora, as empresas estão aumentando a fatia da coparticipação paga pelo empregado em alguns procedimentos, analisando planos de abrangência regional ou mesmo a troca de operadora ou seguradora de saúde. O benefício é a segunda maior despesa da área de Recursos Humanos, mas não pode ser simplesmente eliminado devido a acordos sindicais ou porque provocaria uma insatisfação generalizada na equipe.
Há muitas empresas aumentando a coparticipação para pagar o plano de saúde. Deixou de ser um valor simbólico. Nas consultas feitas em pronto-socorro, a contribuição do funcionário em alguns casos já chega a 30%, disse Marcelo Avena, vice-presidente da Willis, consultoria inglesa que administra uma carteira com cerca de 800 mil usuários de planos corporativos de saúde e dental no Brasil. Pela coparticipação, os funcionários pagam uma parcela de cada consulta ou exame simples realizado. O mecanismo é adotado em planos empresariais para inibir o uso exagerado do benefício e garantir às companhias um desconto de cerca de 5% na renovação da apólice. O mais comum era que fosse descontado do empregado, em média, 10% do valor do procedimento. Esse percentual agora está subindo para uma faixa entre 20% e 30%.
Segundo Avena, outra demanda de alguns empresários é a troca do plano de saúde com abrangência nacional para cobertura regional. Uma das operadoras que está de olho nessa oportunidade é a São Francisco Saúde, que atua no interior de São Paulo, sul de Minas Gerais e Centro-Oeste. Estimamos um crescimento de cerca de 20% na receita neste ano. Em períodos de crise, vamos na contramão e já percebemos um aumento nas prospecções, disse Lício Cintra, superintendente da São Francisco Saúde, que tem 700 mil usuários de convênios médico e dental.
O grupo São Francisco também é dono de hospitais, laboratórios, consultórios e de uma empresa de resgate, com ambulância e helicóptero, que atua nas rodovias privatizadas e no Aeroporto de Guarulhos. A grupo prevê fechar o ano com faturamento de R$ 1 bilhão. Nosso tíquete médio é de R$ 110. Conseguimos esse valor porque temos uma rede própria e atuamos em praças específicas em que a concorrência, muitas vezes, não quer ir, explicou Cintra.
Na Aon, consultoria americana que administra convênios médicos de 1,3 milhão de usuários no país, cresceu a procura por novos formatos de planos. As empresas também estão mais abertas a analisar outras seguradoras ou operadoras. Antes havia uma resistência em trocar de seguradora e a prioridade era negociar o reajuste. Mas, hoje, as empresas estão abertas a ver outros planos, inclusive, com grande antecedência da data de renovação [dos seus contratos atuais], disse Marcelo Borges, vice-presidente executivo da Aon.
A preocupação das empresas não é à toa. Segundo um levantamento da Aon, a previsão é que os planos de saúde empresariais, que representam 65% do total, sofram neste ano um reajuste médio de 18% no Brasil. Trata-se de um percentual bem acima da média mundial estimada em 10,5%. Além disso, os custos brasileiros da saúde caminham para uma curva crescente e nos Estados Unidos, por exemplo, há uma desaceleração.