No cenário em constante evolução da Medicina, a celebração do Dia do Cardiologista, em 14 de agosto, ganha ainda mais significado. Esses profissionais desempenham um papel importante para a saúde da população, enfrentando desafios cada vez mais complexos. Vale destacar que as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 18 milhões de pessoas falecem todos os anos em decorrência de problemas cardiovasculares e 80% dessas mortes poderiam ser evitadas com mudanças no estilo de vida e controle dos fatores de risco. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, 30% das mortes ocorridas no Brasil são atribuídas à doença cardiovascular.
A Cardiologia foi uma das especialidades que mais evoluiu nas últimas décadas, com aperfeiçoamento dos métodos diagnósticos, desenvolvimento de drogas mais modernas, bem como introdução de terapias por cateter e cirúrgica avançadas. Todos esses avanços foram alicerçados por fortes evidências científicas. Entretanto, apesar de todos esses esforços e do trabalho árduo nas áreas de prevenção e tratamento, a mortalidade associada às doenças cardiovasculares ainda é preocupante. Assim, a relevância epidemiológica das doenças cardiovasculares torna ainda mais crucial a busca por soluções inovadoras e eficazes.
Nesse contexto, com o conhecimento médico expandindo-se de maneira exponencial, impulsionado por essas pesquisas inovadoras e avanços tecnológicos, a capacidade do cérebro humano de processar essa quantidade avassaladora de informações está sendo testada. Atualmente, cerca de 30% do volume de dados do mundo é gerado pelo setor da Saúde. A quantidade de informações ultrapassa a capacidade cognitiva e de processamento do ser humano. Para se ter uma ideia, nos anos 1980, estimava-se que o conhecimento em Medicina dobrava a cada 7 anos, nos anos 2010, a cada 3,5 anos e, em 2020, a projeção era de 73 dias. Essa aceleração na geração do conhecimento traz desafios e oportunidades únicas para os profissionais da saúde, que precisam se manter atualizados para oferecer os melhores cuidados aos seus pacientes.
Uma área que tem chamado atenção recente e emerge como um parceiro promissor dos profissionais de saúde é a inteligência artificial (IA), não só por sua capacidade de processar e analisar grandes volumes de dados, de maneira rápida e eficiente, mas também de identificar padrões e correlações que podem passar despercebidos pelos seres humanos. Ela pode ajudar os cardiologistas a filtrar informações relevantes em meio ao mar de conhecimento, fornecendo uma visão mais precisa e atualizada sobre diagnósticos, tratamentos e tendências emergentes.
O avanço tecnológico também trouxe consigo uma série de dispositivos inovadores, que estão redefinindo a interação entre os cardiologistas e seus pacientes. A tecnologia surge como um aliado importante no monitoramento remoto de pacientes em tempo real, na prevenção de riscos e complicações por meio de algoritmos, auxiliando no engajamento dos doentes com emprego de aplicativos, entre tantas outras aplicações.
Wearables, como relógios inteligentes, sensores de ritmo cardíaco e monitores de atividade, coletam uma riqueza de dados em tempo real sobre a saúde cardiovascular. Esses dispositivos não apenas fornecem aos pacientes uma visão contínua de sua saúde, mas também possibilitam que os cardiologistas acompanhem os padrões e as tendências específicas de cada paciente. Essa abordagem mais personalizada e orientada por dados está revolucionando a forma como cardiologistas podem interagir e acompanhar seus pacientes. Só para termos uma ideia do tamanho do mercado, em 2021, segundo o Institute for Human Data Science, havia mais de 350.000 aplicativos digitais de saúde disponíveis nas lojas de aplicativos para celulares. Apenas em 2022, foram vendidos quase 200 milhões de wearables no mundo. Apesar de ainda restrito a uma pequena parcela da população devido aos seus custos, espera-se maior acesso e popularização desses dispositivos ou aparelhos, à semelhança do fenômeno observado com os celulares.
Além disso, plataformas de telemedicina e ferramentas de análise de dados se popularizaram na pandemia e estão cada vez mais presentes na vida dos pacientes e de seus médicos, nos consultórios e hospitais. A teleconsulta permite que os pacientes se conectem com os médicos de forma remota, aumentando o acesso aos cuidados médicos. Números recentes revelam que, entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões dessa modalidade de atendimento foram realizados no Brasil, sendo que 87% deles foram para primeiras consultas. O crescimento estimado do mercado é de que essa demanda possa dobrar nos próximos 5 anos.
Nossa esperança está na integração entre a expertise humana e essas novas tecnologias emergentes, transformando e aprimorando os cuidados cardiológicos e levando a diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e vidas mais saudáveis.
*Fabio Biscegli Jatene é Professor Titular de Cirurgia cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Líder Médico da Área Cardiológica do Hcor.
*Ieda Biscegli Jatene é Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e Líder Médica da Cardiologia Pediátrica do Hcor.