Quando o tecido entra em contato com a pele, libera partículas naturais microscópicas que melhoram a circulação sanguínea, relaxam a musculatura, combatem celulite ou repelem insetos. Os produtos usam uma tecnologia de encapsulamento patenteada pela Nanovetores, que atua há sete anos na capital catarinense. Em 2014, a empresa cresceu 60% e este ano irá abrir uma filial nos Estados Unidos.
A ADNano, também de Florianópolis, investiu no universo invisível a olho nu para criar uma inovação na indústria da mobilidade: um amortecedor automotivo "inteligente", produzido com um nanofluido à base de óleos vegetais, que muda de viscosidade conforme o campo magnético a que é submetido. Outra aplicação desse fluido é substituir o poluente óleo ascarel no isolamento de transformadores elétricos, com a vantagem adicional de aumentar em até 30% a eficiência energética desses aparelhos.
Ambas as empresas atuam em uma das áreas mais promissoras da ciência: a nanotecnologia, manipulação de átomos e moléculas para criação de novos elementos. Esse mercado movimenta US$ 1 trilhão por ano e pode chegar a US$ 4,4 trilhões em 2018, estima a LuxResearch. Estados Unidos e Japão lideram as pesquisas na área. O Brasil ainda dá os primeiros passos, mas tem avançado por meio de iniciativas como o Sistema Nacional de Laboratórios em Nanociências e Nanotecnologias (SisNano), que articula 260 grupos de pesquisa, 2,5 mil pesquisadores e 3 mil estudantes.
Das 90 empresas brasileiras de nanotecnologia, 23 têm sede em Santa Catarina, onde funcionam instituições de referência na área. Os pesquisadores e profissionais do meio lidam com estruturas que medem de um a cem nanômetros. Bilionésima parte do metro, um nanômetro é 50 mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo. Se um metro tivesse a extensão do litoral da Bahia, um nanômetro seria como um grão de areia.
A integração entre academia e mercado é fundamental para conquistar relevância neste campo de conhecimento, destaca o pesquisador e empresário Leandro Antunes Berti. Ele acumula as atribuições de sócio da ADNano com as de secretário executivo do Arranjo Promotor de Inovação em Nanotecnologia (API.nano), uma rede nacional formada por 85 empresas, parceiros estratégicos e agentes de fomento. "Este ano vamos lançar um livro sobre conceitos, boas práticas e diretrizes, para favorecer o diálogo entre os empreendedores", informa.
Um dos segmentos em que o Brasil mais se destaca é a nanotecnologia verde, voltada para a agricultura. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de São Carlos (SP) anunciaram recentemente a criação do filme plástico comestível, um bioproduto fabricado com alimentos como espinafre, mamão, goiaba e tomate, com resistência e textura semelhantes às dos plásticos convencionais.
"Sete empresas já nos procuraram, interessadas em parcerias", conta o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, Luiz Henrique Capparelli Mattoso. A nova tecnologia resulta de dez anos de pesquisas no âmbito da Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio (AgroNano). Formada por 50 instituições, a rede desenvolve produtos como a língua e o nariz eletrônicos, que auxiliam no monitoramento da produção de sucos, e plásticos biodegradáveis a base de amido de milho ou de mandioca.
Outro campo promissor no mundo microscópico é a biotecnologia, que manipula DNA e organismos vivos para obtenção ou modificação de produtos. Sua cadeia de valor global é estimada em US$ 300 bilhões e deve crescer em média 12,3% ao ano até 2020, segundo a Grand View Research. Em Santa Catarina, dois destaques na área são empresas que atuam em conjunto, aplicando técnicas de computação às ciências da vida.
A Neoprospecta faz diagnóstico microbiológico, via análise digital, do sequenciamento do DNA de vírus e bactérias. Sua solução serve para mapear focos de infecção hospitalar e pode ser aplicada em indústrias de alimentos, entre outras. Já a parceira GNTech desenvolveu uma tecnologia farmacogenética que personaliza o uso de medicamentos a partir das características únicas de cada paciente, o que aumenta a eficácia e reduz os efeitos colaterais.
Em São Paulo, a Mendelics utiliza um sofisticado sistema de computação para interpretar os dados do sequenciamento de DNA e diagnosticar enfermidades genéticas. Sua especialidade, a genômica, vive uma revolução. "O projeto Genoma Humano levou 13 anos - entre 1990 e 2003 - e investiu US$ 3 bilhões para sequenciar um único genoma", conta o presidente da empresa, David Schlesinger. "Hoje o exame custa US$ 1,5 mil e fica pronto em 48 horas."
Em 2010, a genômica representava menos de 5% do mercado mundial de diagnóstico. Estima-se que chegue a um terço nas próximas duas décadas.
Também há grandes avanços no campo da imunização, em que o Brasil é referência. Uma parceria entre o Instituto Bio-Manguinhos - vinculado à Fundação Oswaldo Cruz - e a indústria farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK) pretende criar até 2020 uma vacina contra os quatro sorotipos da dengue. Em dezembro, a multinacional firmou acordo com o Instituto Butantã para desenvolver vacinas combinadas contra difteria e tétano. "Essa pesquisa servirá de base para criar uma vacina heptavalente, que imuniza contra sete doenças, um projeto de longo prazo do Ministério da Saúde", diz o vice-presidente da unidade de negócios de biotecnologia da GSK, José Carlos Felner.
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