A figura do médico gestor nunca foi tão importante diante do cenário desafiador que a saúde suplementar vem enfrentando nos últimos anos no Brasil. O setor registra, após seis semestres consecutivos, prejuízos operacionais na ordem de R$ 11 bilhões. Outro grave problema é a alta sinistralidade dos planos de saúde, com patamar de 93,2%. É um percentual inédito em mais de duas décadas, segundo dados da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).
Como presidente da Unimed Nacional, que cuida de mais de 2 milhões de beneficiários e preza pela valorização dos médicos, faço um alerta sobre a sustentabilidade do setor.
O nosso futuro vai depender de fatores relevantes como empregabilidade, variação do custo em saúde e, principalmente, de uma gestão eficiente das operações. Temos de utilizar a formação técnica-especializada e as ferramentas de tecnologia como aliadas para o admirável futuro novo na saúde.
Tendo como foco o bem-estar e a saúde das pessoas, a chamada Saúde 5.0 precisa da tríade: gestão, tecnologia e inovação — e nada mais plausível do que ter o médico como protagonista dessa realidade. Precisamos formar cada vez mais gestores com elevada capacidade analítica para administrar uma clínica, um hospital ou centros médicos — cada vez mais digitais e automatizados.
O mercado ganhará e muito com a capacitação crescente do médico administrador, que poderá tornar os sistemas menos custosos e mais eficientes, com a melhora expressiva da qualidade assistencial. E, o mais importante de tudo, sem nunca perder de vista a importância e a valorização do ser humano, pois as pessoas devem estar no centro de qualquer tomada de decisões.
Maior número de médicos do que residentes
Outro ponto relevante é o número de novos registros médicos emitidos no Brasil. De acordo com dados recentes da Demografia Médica de 2023, divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o número de profissionais mais do que dobrou no país em 12 anos e atingiu um recorde no ano passado. Em 2022, cerca de 39 mil profissionais entraram no mercado de trabalho, contrapondo o ano de 2010, que formou quase 19 mil. O Conselho ainda projeta que, se for mantido o mesmo ritmo de crescimento da população e de escolas médicas, dentro de cinco anos, o Brasil contará com 3,63 médicos por mil habitantes, índice que supera a densidade médica registrada, por exemplo, na média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), que reúne algumas das nações mais ricas do planeta.
A chegada de médicos é sempre bem-vinda. As faculdades de medicina aumentam a cada ano, mas o mercado não tem acompanhado esse ritmo. O número de novos formados tem sido acima do que o mercado disponibiliza para residência médica, por exemplo. Existe uma projeção da escola Sanar, de residência médica, de que há 44% mais profissionais da medicina saindo da faculdade do que vagas para especialização. Em 2021, enquanto cerca de 25 mil médicos se formaram, existiam apenas 17 mil vagas de residência médica.
Por fim, ressalto a importância de o médico se abrir para novas possibilidades na carreira, incorporar as novas tecnologias e o valor que agregam à área da saúde. Uma gestão criativa, ao mesmo tempo eficiente e responsável, faz com que todos saiam ganhando.