Mais de 60% dos pacientes com câncer no Brasil são diagnosticados tardiamente
20/07/2023

Mais da metade dos casos de câncer do Sistema Único de Saúde (SUS) iniciam seus tratamentos já nos estágios avançados ou metastáticos. É o que mostram os dados do Ministério da Saúde, compilados e analisados pelo Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos dos pacientes com câncer. Todas as informações estão disponíveis na plataforma Radar do Câncer, mantida e atualizada pela instituição.

Considerando dados levantados entre 2008 e 2021, o SUS atendeu cerca de 2,7 milhões de pacientes com câncer, com uma média de 192 mil novos casos por ano. Ainda que o sistema público tenha conseguido expandir sua rede de cuidado e abarcar cada vez mais pessoas no tratamento oncológico, esse atendimento vem sofrendo atrasos e um baixo investimento, o que impacta diretamente no prognóstico dos pacientes.

Nos 13 anos de dados disponíveis, em média, 58% dos pacientes iniciam seus tratamentos (quimioterápico e/ou radioterápico) com o câncer nos estágios avançados ou metastáticos. O estadiamento refere-se a avaliação da extensão da doença. A necessidade de se classificar os casos de câncer em estágios baseia-se na constatação de que as taxas de cura são diferentes quando a doença está restrita ao órgão (inicial), quando está no órgão e em linfonodos regionais (localmente avançado) ou quando já está disseminado para outros órgãos (avançado/metastático).
 

As taxas de diagnósticos tardios vêm aumentando. Em 2008, 53% dos pacientes iniciaram o tratamento em estágio avançado. Em 2021, esse número foi de 62%, um aumento de nove pontos percentuais.

Na distribuição por sexo, os homens são os que têm diagnósticos mais tardios: 67,2% iniciam tratamentos com tumores mais avançados, contra 59,4% das mulheres.

Entre os obstáculos que dificultam a detecção precoce da doença estão a dificuldade de acesso e demora no agendamento de consultas e exames, a falta de informação sobre sintomas e diagnóstico do câncer. “São falhas na estratégia de atenção ao câncer que podem significar um impacto gigantesco na sobrevida daquele paciente. O câncer precisa ser mais priorizado, o que, na prática, significa termos programas e políticas mais efetivas que garantam de verdade o acesso a um cuidado atual, integral e efetivo para os pacientes”, ressalta Luciana Holtz, presidente e fundadora do Oncoguia.

No câncer de pâncreas, por exemplo, em que o diagnóstico em estadiamento avançado ocorre em 85% dos casos, a taxa de sobrevida após cinco anos do diagnóstico tardio é inferior a 5%. Com o diagnóstico precoce, de acordo o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, a taxa de sobrevida em cinco anos salta para 43,9%.

Dados regionais

O Radar do Câncer também diferencia as informações de estadiamento por região e estado brasileiro.

De acordo com os dados referentes ao período de 2019 e 2021, 59% dos pacientes oncológicos foram diagnosticados tardiamente em São Paulo. O estado com o pior cenário é o Acre, com 80,5% dos novos pacientes iniciando tratamento em estadiamento localmente avançado ou metastático.

Em contrapartida, o estado com o melhor cenário é o Amapá, com 26,7% dos novos casos sendo diagnosticados tardiamente.





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