Em junho, a Jornada Digital da Anahp segue abordando o macrotema “A necessidade dos hospitais brasileiros se reinventarem para sobreviver à crise do setor” e, na última quinta-feira (15), discutiu “Como enfrentar as questões trabalhistas na saúde?”, em um debate ampliado para a gestão de pessoas. Para iniciar a conversa, o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, relacionou o enfrentamento da pandemia com a realidade atual e perguntou: “A normalidade voltou?”.

“Nunca mais voltaremos ao que era antes”, afirmou Raquel Oliveira, gestora de Pessoas do Grupo Albert Sabin. Para ela, os profissionais de saúde estão pressionados há bastante tempo, vivendo em estresse permanente, agravado pela pandemia. “Ganhamos em vivência, é verdade, mas a custo muito alto”.

Segundo Lorena Morelato, coordenadora do GT Gestão de Pessoas da Anahp e diretora de Gente e Gestão do Grupo Kora Saúde, os ambientes de trabalho mudaram definitivamente. “O maior desafio atualmente é a saúde mental. As pessoas continuam doentes”, explicou.

Daniela Bernardo, sócia do escritório Machado Nunes Advogados, trouxe uma abordagem jurídica para a questão e destacou que absenteísmos e turnovers relacionados com transtornos psicológicos estão chegando aos tribunais com mais volume do que o normal. “O Ministério Público do Trabalho está atento, investigando o aumento desses conflitos nas organizações de saúde”, alertou.

Teresa Gutierrez, também sócia do escritório Machado Nunes Advogados, acrescentou que absenteísmo e turnover em alta prejudicam programas de treinamento e capacitação contínua, colocando em risco a qualidade dos serviços, o que também pode ser foco de litígios, na sua opinião. “É preciso manter protocolos rígidos para evitar essas situações”, orientou.

Oliveira concordou que a educação continuada e os programas de treinamento não estão alcançando os resultados esperados por causa da saúde mental. “Não bastasse isso, estamos perdendo talentos para outros setores da economia”, revelou. Para ela, é fundamental “criar um cenário mais confortável para o desempenho dos colaboradores”. Nesse sentido, Morelato completou dizendo que “é preciso trazer inovações para os nossos ambientes de trabalho”.

As especialistas abordaram uma tendência na gestão de pessoas que é a contratação por meio de cooperativas. Bernardo lembrou que existem regras para utilizar essa alternativa, mas destacou que “muitas não seguem essas regras”. E, pelo ângulo da gestão, também não é uma solução simples, segundo o que explicou Morelato. “O grande desafio é como absorver esse profissional. Não são colaboradores, mas eu espero que eles entreguem o mesmo que os colaboradores entregam. Então, como me relacionar de modo a estimular engajamento sem gerar passivo trabalhista?”, questionou.

O piso salarial da enfermagem também foi colocado em discussão. Britto reforçou a posição da Anahp em valorizar os profissionais, mas sob a condição de uma solução para o financiamento desse reajuste. Bernardo alertou para a probabilidade de demissões e redimensionamento da atividade. “Isso gera incerteza e já observo profissionais procurando sindicatos. É preciso ter uma solução”, afirmou. E Gutierrez reforçou dizendo que o imbróglio pode gerar consequências díspares e que “os próprios enfermeiros temem pelo desfecho”.

Por fim, Bernardo listou o que caracterizou como as principais vulnerabilidades das organizações de saúde na Justiça do Trabalho. “Hora extra é um problema recorrente na justiça e outro é a insalubridade. É fundamental tratar os riscos biológicos com as melhores práticas. As doenças dos profissionais também exigem atenção, principalmente com o aumento da relevância da saúde mental”, finalizou.

Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais

O debate “Como enfrentar as questões trabalhistas na saúde?” teve a participação de Daniela Bernardo, sócia do escritório Machado Nunes Advogados; Lorena Morelato, coordenadora do GT Gestão de Pessoas da Anahp e diretora de Gente e Gestão do Grupo Kora Saúde; Raquel Oliveira, gestora de Pessoas do Grupo Albert Sabin; e Teresa Gutierrez, sócia do escritório Machado Nunes Advogados. A moderação foi feita por Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp.

O próximo debate de junho, que acontece no dia 22, vai abordar “Estratégias operacionais para redução de custos nas instituições hospitalares – Cases“. Saiba mais e inscreva-se.