Contornar todas essas questões é uma missão que empresas, como a Lincon – healthtech brasileira de monitoramento remoto de pacientes – tem recebido de clientes do tamanho da Dr. Consulta, Amparo Saúde, Siemens Healthiness e EMS. Contratam os sistemas da startup para integrá-los aos serviços de saúde existentes, permitindo que seus pacientes tenham um acompanhamento contínuo por médicos, enfermeiros, nutricionistas e outros profissionais da área.
"As pessoas pagam contas, fazem empréstimos, pedem comida, tudo com muita conveniência e otimização de custos, graças à tecnologia. No entanto, a saúde ainda é muito analógica. O nosso objetivo é inserir a saúde nesse universo digital", afirma Victor Navarrete, CEO da Lincon.
Fatores, como os crescentes problemas relacionados à má gestão de saúde populacional e a lei da telemedicina, sancionada no final de 2022, têm levado provedores de saúde a intensificar as buscas por soluções que permitam uma gestão, que una o melhor do cuidado individualizado com os ganhos de escala proporcionados pela tecnologia.
“Nesse cenário, surgimos como um parceiro natural, já que a Lincon nasceu e cresceu atendendo a pacientes enquanto outros fornecedores de tecnologia não têm a experiência de prestar os serviços de saúde propriamente ditos”, diz Navarrete. “Ter atuação no campo foi fundamental para criar soluções cada vez mais centradas em quem as usa: o paciente e o time de cuidado.”
Atuar no segmento de saúde tem desafios próprios. O setor é conhecido como um dos mais regulados do mundo, em razão da criticidade dos tratamentos feitos com pacientes. Como o processo regulatório gera maiores custos e toma mais tempo de pesquisa e desenvolvimento de produtos, muitas startups acabam se afastando do mercado. No Brasil, a A publicou, em Março de 2022, a RDC Nº 657 que regulamenta os softwares como dispositivos médicos, alinhada com as boas práticas de autoridades estrangeiras como FDA e Health Canada. A Lincon recebeu, recentemente, a aprovação da Anvisa para atuar com as suas terapias digitais no país. Além da startup estar conforme à legislação, o que é obrigatório por lei, a autorização traz também segurança para todos os stakeholders envolvidos com a solução.
Antes de atender empresas do setor de saúde, o único negócio da healthtech era a oferta de um serviço de monitoramento remoto, pelo qual um time de saúde multidisciplinar da própria startup acompanha a jornada de saúde do paciente em diferentes frentes, como: diabetes, hipertensão, obesidade, perda de peso e saúde mental. Esse serviço é contratado pelo RH de grandes empresas como Panvel, Malwee e Logcomex, interessados em oferecer um benefício para seus times ao mesmo tempo em que geram um impacto positivo nas linhas de custo relacionadas à saúde funcional.
“Nossos clientes corporativos apontaram excelentes impactos. Isso começou a chamar a atenção de clientes do setor médico, como o Hospital Santa Lúcia, uma instituição com 80 anos de história no Rio Grande do Sul. Foi essa demanda que nos levou a desenvolver uma ferramenta que pudesse ser usada diretamente pelos times de cuidado dos nossos clientes”, diz José Gutiérrez, CRO da startup.
Pela solução da Lincon, o paciente recebe, em um aplicativo, insumos para seu tratamento, com acesso a vídeos curtos e pílulas de conhecimento. O app permite ainda cadastrar lembretes de medicamentos, criar diários de sono, alimentação e atividade física, além de interagir com o time de saúde por meio de um chat direto, do cumprimento de tarefas pré-estabelecidas e de respostas a questionários. Tudo isso de forma integrada a outros aplicativos de cuidado, como o Google Fit, e a dispositivos inteligentes, como glicosímetros e medidores de pressão arterial.
Já a equipe de saúde dispõe de um sistema operacional, o HealthOS, para fazer toda a gestão da sua carteira de pacientes. Nele, é possível customizar linhas de cuidado de acordo com os protocolos desejados e seguindo diversos parâmetros obtidos no aplicativo do paciente, como qualidade do sono, nível de atividade física, mensuração da glicose, etc. De acordo com os dados, a equipe pode tomar medidas como alterar o paciente entre diferentes linhas de cuidado, cadastrar notificações em massa, intervir via chat integrado da própria ferramenta e configurar alertas, além de analisar dados populacionais, extrair relatórios clínicos e filtrar toda a base por parâmetros desejados para gerar iniciativas específicas com cada grupo. Além disso, por meio de inteligência artificial é possível identificar pacientes com necessidade de atenção especial pelo time de cuidado.
“Coletamos diversos parâmetros de comportamento do paciente e baseado neles conseguimos identificar, com alta precisão, quem irá desengajar em breve. Isso permite ao time de saúde intervir antes mesmo que o fato tenha ocorrido, melhorando a produtividade do time de saúde e o desfecho clínico de cada caso”, afirma Sullivan Santiago, CTO da Lincon.
A expectativa é que, ao oferecer uma solução ampla para gestão do cuidado do paciente fora do consultório, haja um impacto direto tanto na saúde das populações acompanhadas quanto nos resultados financeiros dos negócios. É o que já acontece com os clientes do segmento corporativo atendidos pela Lincon, com relatos de redução, para cada paciente, de 95 reais por mês nos valores de sinistralidade em apenas 6 meses. “São valores que representam, em média, 20% dos gastos de uma empresa com planos de saúde. Quando colocamos isso na escala de milhares de vidas cobertas, as cifras ficam ainda mais relevantes”, diz Navarrete. “Olhando para o potencial de longo prazo, é ainda mais impactante: se toda população brasileira com plano de saúde estivesse em monitoramento remoto, a economia anual estaria beirando os 60 bilhões de reais.”
Fundada em 2021 por Navarrete, Gutiérrez e Santiago, a Lincon já recebeu investimentos do braço de corporate venture capital do Grupo Panvel (uma das principais redes de farmácias do país), do Kria (plataforma de equity crowdfunding pioneira no Brasil), da MG Tech (veículo de investimento que possui em seu portfólio startups como Caju, Iugu, Fluke e NeuralMed) e Life Capital (venture capital focado em investimentos em saúde), e de investidores-anjo com experiência nos mercados de tecnologia e inovação.