A falta de eficiência operacional é um problema que não raro bate à porta dos mais variados setores dentro de uma empresa. Fatores como trabalho em excesso, atividades repetitivas e times enxutos são, muitas vezes, as justificativas mais aceitáveis no caso de possíveis erros em papeladas e em alguns processos tipicamente manuais, como a prestação de contas.
A Arvo, startup de inteligência de dados, quer mudar esse estigma de erros convencionais e humanos no setor de saúde. Criada em agosto de 2022, a empresa usa inteligência artificial e aprendizado de máquina para agilizar e melhorar a auditoria de pagamentos por serviços e atendimentos na rede particular de saúde.
O foco está nas grandes operadoras de saúde, como:
Para redimir, ao menos em partes, os prejuízos financeiros causados a operadoras de saúde que lidam com uma quantidade imensa de transações no dia a dia, a Arvo criou um algoritmo dotado de inteligência artificial que avalia um conjunto de dados relacionado aos pagamentos feitos a prestadores de saúde de redes credenciadas, evitando fraudes, erros e desperdício de recursos em alguns procedimentos médicos.
O propósito, além de evitar gastos e cobranças indevidas, é o de melhorar o relacionamento entre esses prestadores e planos de saúde, já que operadoras são capazes de otimizar a gestão de contas médicas, reembolsos e autorizações, tornando os processos mais ágeis e assertivos, reduzindo desperdícios, fraudes e erros.
A Arvo atua na ponta, analisando os pagamentos feitos por planos de saúde que vão para os prestadores de serviço após a conclusão de cada atendimento ou procedimento médico. Em outra frente, a startup também avalia os indicadores de pagamento e identifica irregularidades ainda durante a autorização prévia feita pelos convênios.
O negócio vem dos esforços empreendedores de Fabrício Valadão, ex-executivo de saúde com passagens pela multinacional Aon e pela consultoria Bain & Company, onde atendia empresas do setor de saúde — e por Rafael Tinoco, executivo de tecnologia e saúde com passagens por companhias como Amil, Gympass e Alice.
Em comum, os dois compartilhavam a visão de que boa parte dos problemas de acesso à saúde no país poderia ser resolvido com tecnologia, já que a consequência direta dos processos de regulação gestão de contas, feitos de forma manual, gera o encarecimento dos serviços de saúde. Ao invés de criar uma rede com custos mais baixos e voltados às classes C e D — uma estratégia adotada por companhias como Alice, Sami e Dr. Consulta — eles decidiram colocar soluções de tecnologia à disposição das grandes operadoras, de uma só vez.
“O setor de saúde é um dos poucos que ainda não passaram por uma transformação digital, ao contrário de mercados como o financeiro, por exemplo”, avalia Tinoco. “O sistema que existe hoje ainda nos dá muito espaço para crescer e criar novas soluções”.
A Arvo já é alvo e alguns fundos de investimento. Um menos de um ano, foi investida pelo K50 Ventures, Preface, e Latitud VC, que atua com foco em LATAM. Além disso, em investidores-anjo como Mauro Figueiredo (ex-CEO Odontoprev e Fleury), Marcelo Homburger (ex-CEO Aon), Silvio Genesini (ex-CEO da Oracle no Brasil).
De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), fraudes e desperdícios beiram 19% de todo o valor movimentado pelo mercado de saúde privada no país. Apenas em 2022, esse valor foi de R$ 40 bilhões.
Desde que foi lançada ao mercado, a Arvo vem testando sua tecnologia com uma primeira base de clientes. Sem revelar a quantidade exata de usuários, os fundadores afirmam que o número é suficiente para validar a tese da startup, que agora está pronta para atender o mercado em larga escala. “Está na hora de colocar essa inteligência à serviços do setor”, diz Valadão.
De agosto para cá, segundo os empreendedores, a companhia processou algo como R$ 17 bilhões em sinistros, o que equivale ao custo de saúde de 1,6 milhão de pessoas e 50 milhões de contas médicas.
Do lado da economia, a Arvo estima reduzir em até 4% o valor gasto em sinistros de clientes. Apesar de baixo, o percentual é considerável, segundo o empreendedor. Já que, quando aplicado ao resultado total do setor, a quantia seria suficiente para estancar todo o prejuízo das operadoras de saúde no terceiro trimestre do ano passado, afirma.
Agora lançada ao mercado geral, a Arvo pretende aprimorar a sua tecnologia “plug-and-play”, cuja função será levar a inteligência de dados para dentro das operadoras com uma solução que pode ser “plugada” aos departamentos de auditoria internos.
“Veremos uma equação em cadeia: o dinheiro movimentado nesse mercado, quando melhor alocado, reduzirá ainda mais os custos e desperdícios. Com isso, o sistema de saúde respira melhor e consegue ser mais competitivo, o que fará dele mais acessível”, avalia Tinoco.