O Einstein deu início a um Grupo Médico-Assistencial (GMA) voltado a discutir temas de espiritualidade. Os GMAs reúnem médicos e profissionais de saúde de diferentes especialidades em torno de eixos temáticos e podem ser compreendidos como uma organização de conhecimento especializado, resultado de um modelo de gestão que mobiliza competências diversas de forma colaborativa em busca da melhoria contínua e da segurança dos pacientes, proporcionando um cuidado cada vez mais humanizado e desfechos mais favoráveis.
Muito além de viabilizar a presença de líderes religiosos durante internações de pacientes que façam essa solicitação para a equipe assistencial — oferta comum dentro dos hospitais e até garantida por certificações internacionais, como a Joint Commission International (JCI) e a Planetree International –, o grupo se reunirá para aprofundar o conhecimento sobre a intervenção da fé em aspectos individualizados de cada paciente e também no cuidado com o colaborador.
Articulando diferentes saberes e serviços, a proposta é que esses debates sejam conduzidos de forma transversal, podendo envolver novidades nas frentes de assistência, saúde populacional, ensino e pesquisa.
De acordo com Fábio Nasri, geriatra e coordenador do novo GMA, por muito tempo, a fé e a espiritualidade estiveram ligadas à cura nas mais diversas culturas e religiões, mas com o passar do tempo e o avanço da medicina, para algumas pessoas, essa perspectiva se perdeu. “Atualmente, há um movimento mundial de retomada dessa dimensão e incorporação desses aspectos junto ao paciente. Sob a ótica da medicina, a crença das pessoas tem impactos significativos relacionados ao autocuidado, prevenção e tratamento”, comenta.
O médico exemplifica, ainda, que em decisões para adoção de cuidados paliativos ou de intervenções com práticas de medicina integrativa, a crença de cada paciente entra na equação. “Para se ter uma ideia, no Estados Unidos, líderes religiosos passam visita junto com a equipe hospitalar — não para interferir na conduta clínica, mas para contribuir com um olhar de respeito à fé na discussão das melhores alternativas”, destaca Nasri.
Um estudo publicado em 2022 na revista JAMA, liderado por pesquisadores da Harvard TH Chan School of Public Health e do Brigham and Women’s Hospital, indicou que “a atenção à espiritualidade em doenças graves e na saúde deve ser uma parte vital do futuro cuidado centrado na pessoa, e os resultados devem estimular discussões e progressos nacionais sobre como a espiritualidade pode ser incorporada a esse tipo de cuidado sensível a valores” ¹.
Para Miguel Cendoroglo, diretor superintendente médico e de serviços hospitalares e embaixador do Programa de Diversidade e Inclusão do Einstein, a criação do GMA de espiritualidade permite que a organização dedique um olhar inclusivo também no que diz respeito à religião.
“No Einstein, valorizamos a construção de um ambiente plural, cada vez mais livre de estereótipos, preconceitos e discriminação, no qual pessoas de diferentes origens, etnias, religiões, gêneros, sexualidades, deficiências, entre outros possam conviver com respeito. E isso se aplica tanto ao quadro de colaboradores como ao de pacientes. Portanto, a formação do GMA de espiritualidade também é mais um importante passo nesse sentido. Independentemente de sermos um hospital fundado e que atua sob os preceitos judaicos, é uma organização na qual todos são acolhidos e respeitados dentro de suas crenças”, afirma.
Abrangência
Além da discussão sobre a melhora de processos para a inclusão da espiritualidade na prática assistencial, o GMA deve atender necessidades dos próprios colaboradores. À época da pandemia, por exemplo, os profissionais de saúde demonstraram o quanto a fé a espiritualidade tiveram impacto em suas rotinas — ajudando, inclusive, na manutenção da saúde mental.
As áreas de ensino e pesquisa também serão contempladas nas discussões, com avaliações sobre cursos optativos e palestras sobre o tema para estudantes de graduação, além da organização de novos estudos científicos sobre o impacto da espiritualidade na saúde e na mente humana, a importância de orações para o paciente, experiências de quase morte, entre outros.
“Os resultados de pesquisas como essas podem nos embasar a incentivar as pessoas a se reconectarem com o sagrado, com o divino, independentemente da percepção que elas tenham sobre o que isso significa e qual religião sigam, a fim de humanizarmos o cuidado e conduzir de forma mais personalizada algumas etapas dos tratamentos”, conclui Nasri.
¹ Spirituality in Serious Illness and Health, JAMA (2022). DOI: 10.1001/jama.2022.11086