Em razão do Dia Mundial da Prevenção do Câncer de Colo do Útero, a Fundação do Câncer lança a segunda edição do boletim info.oncollect, que trata do cenário da vacinação contra o HPV (Papilomavírus humano) no Brasil. O objetivo do documento é fornecer informações valiosas sobre a situação atual da imunização e contribuir no direcionamento para políticas públicas, reduzindo a incidência de doenças associadas ao HPV.
“O imunizante previne a infecção e, consequentemente, os casos de câncer do colo do útero, terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres, com estimativas de mais de 17 mil novos casos por ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer, o Inca”, destaca Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer. Mesmo com a divulgação de informações acerca da eficácia da vacina como forma de prevenção do principal causador dessa doença, os dados mostraram que o Brasil está longe da meta de cobertura de vacinação para esse vírus.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cobertura da vacina contra o HPV considerada adequada para atingir a meta proposta para eliminação do câncer do colo do útero é igual ou superior a 90%. “Mesmo com o desafio global da OMS para que todos os países implementassem ações para a eliminação do câncer do colo do útero, a vacinação, uma estratégia eficiente, econômica e acessível na rede pública de saúde, não avançou como se esperava. Por isso, nos debruçamos sobre o tema com o objetivo de identificar um panorama sobre a vacinação contra o HPV. E por meio dos resultados encontrados, podemos contribuir no direcionamento de políticas públicas para o avanço da imunização contra o vírus e, por consequência, o controle do câncer do colo do útero, doença que mata mais de 6 mil mulheres por ano”, declara Alfredo Scaff, epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer.
A publicação analisou os registros de vacinação de meninas de 9 e 14 anos no período de 2013 a 2021 e meninos de 11 a 14 anos entre 2017 e 2021 e mostrou que, no Brasil, a cobertura vacinal da população feminina é de 76% para a primeira dose e 57% para a segunda. Os dados revelam ainda que a adesão à segunda dose da vacina foi inferior à primeira dose em todo o país, entre 50% e 62%, dependendo da região. Segundo o Programa Nacional de Imunizações (PNI), a meta mínima de vacinação de 80% do público-alvo, com duas doses, não foi alcançada.
A adesão à vacinação contra o HPV da população masculina é inferior à feminina em todo o país. A cobertura vacinal entre meninos do Brasil é de 52% na primeira dose e 36% na segunda dose, muito abaixo do recomendado. Uma explicação para isso, segundo Yammê Portella, uma das pesquisadoras responsáveis pelo boletim, pode estar na falta de conhecimento acerca dos benefícios da vacina: “Muitos responsáveis acreditam que a vacina resguarda apenas contra o câncer do colo do útero. No entanto, ela também oferece proteção contra os cânceres de ânus, cabeça e pescoço e pênis. Além disso, quanto maior a população imunizada, menor a propagação do vírus”.
Diferenças regionais
Ao analisar as regiões brasileiras foi possível identificar que somente o Sul, com 88% de cobertura na primeira dose em meninas, chegou perto da meta preconizada pela OMS. O Norte se destaca como região com menor cobertura vacinal feminina: 68% na primeira dose e 50% na segunda dose. O Centro-Oeste conseguiu vacinar 75% das meninas com a primeira dose e 57% com a segunda. A região Nordeste alcançou 72% da imunização da população feminina com uma dose e 58% com duas doses. Já no Sudeste, a cobertura da dose inicial em meninas foi de 77% e a segunda dose atingiu 59%.
Para Flávia Corrêa, consultora médica da Fundação, a desinformação é uma das causas da baixa adesão à vacina. “Os motivos para essa baixa adesão foram apontados em outro levantamento da Fundação: entre 26% e 37% dos menores e 17% dos responsáveis desconheciam que a vacina previne o câncer do colo do útero. Além desses achados, a pesquisa mostrou que 33% dos responsáveis não sabiam que a vacina diminui a incidência de verrugas anogenitais; 74% achavam que a vacina protege contra outras infecções sexualmente transmissíveis; 20% acreditavam que a vacina pode ser prejudicial à saúde; 22% achavam que a vacina pode incentivar iniciação sexual precoce; 46% não sabiam o número de doses correto; entre 34% e 61% não conheciam a população-alvo elegível para a vacinação”.
“É fundamental a realização de ações que informem a população e reforcem a importância da vacinação, como a nossa atual campanha que destaca o papel principal da imunização como forma de prevenção do câncer do colo do útero”, completa Rejane Reis, também pesquisadora responsável pela segunda edição do info.oncollect.
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