No final de janeiro assistimos a um grande avanço que vai ampliar o acesso da população a medicamentos à base do canabidiol e outras substâncias extraídas da cannabis, com a sanção da lei que prevê seu fornecimento gratuito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em São Paulo.
A medida aplicada ao estado mais populoso do Brasil mostra uma tendência mundial de busca por soluções alternativas para problemas relevantes da civilização. À exemplo do que acontece no setor automotivo, com o aumento da produção de carros elétricos, ou no setor de energia, com os painéis solares, a indústria da saúde está se voltando para medicamentos naturais.
Todas essas soluções permitem uma redução nos custos de pesquisa e desenvolvimento comparadas aos produtos padrão já disponíveis. Além disso, o fato dos produtos à base de cannabis serem naturais não exige que sejam patenteados, o que, somando-se à disponibilidade de sua matéria-prima no mundo, pode gerar maior concorrência entre os agentes do mercado. É importante ressaltar, entretanto, que a entrada nesse mercado exige desses agentes uma comprovação bastante rígida da segurança e qualidade dos medicamentos produzidos, incluindo a rastreabilidade da matéria-prima até o produto final.
Apesar da rigidez para entrada no mercado, os medicamentos à base de cannabis oferecem uma saída frente às substâncias produzidas em laboratório por grandes farmacêuticas, contribuindo com a redução da pressão sobre os sistemas públicos e particulares diante do cenário desafiador da saúde no mundo, com custos crescentes e desigualdade de acesso.
Os ganhos em saúde também fazem da cannabis medicinal uma alternativa importante, já que tem se provado, cientificamente, uma opção para o tratamento de diversas doenças, podendo ser utilizada para tratar e controlar epilepsia, esclerose múltipla, síndromes raras, doenças mentais como depressão e ansiedade, dores musculares e outras comorbidades.
Desde 2020, 23 produtos de cannabis já foram aprovados no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sendo quase todos de origem estrangeira e poucos comercializados em farmácias. Um produto que se destaca pela produção ser local é da Ease Labs Group, farmacêutica brasileira especializada em cannabis e 100% certificada pela Anvisa, da qual sou conselheiro e que acompanhei de perto junto com meu time de Healthcare da A&M.
Juntos, desenvolvemos um projeto de consultoria para que a empresa tivesse sucesso ao entrar nesse mercado em crescimento. Em nosso projeto, apoiamos a startup a desenvolver toda sua estratégia de negócio para o seu produto de cannabis medicinal chegar à população com qualidade e segurança que a marca oferece, incluindo o desenho da força de vendas, precificação, jornada do paciente, estratégia promocional e comercial.
Além disso, atuamos em uma frente importante de conscientização do corpo médico e da população, por meio da construção da segmentação dos médicos e no preparo da força de vendas para informar e orientar os profissionais da saúde a prescrever esses medicamentos, escolhendo o tratamento mais adequado para cada paciente.
Todo esse trabalho cria mais um caminho rumo à facilitação do acesso aos medicamentos à base de cannabis, fitoterápicos e outras substâncias naturais. O produto da Ease Labs já está disponível em mais de 1500 pontos de venda da rede Raia Drogasil, em todo território nacional, com custo entre 20% e 40% menor dos que existem no mercado, já que seu produto é produzido no Brasil e não importado.
Apesar da medida de distribuição de medicamentos à base de cannabis no SUS ter sido aprovada somente no estado de São Paulo, a tendência é que o acesso e a busca por esse tipo de medicamento se expandam no Brasil e no mundo. Nossa expectativa é que soluções alternativas como essa ajudarão milhares de pessoas a viver com mais saúde e qualidade de vida, além de oferecer uma saída à pressão crescente no mercado da saúde.
*Gonzalo Grillo é sócio-diretor da área de saúde da A&M