A UTI Respiratória do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) é a primeira unidade de terapia intensiva respiratória e pública do país a tratar pacientes de forma integrada e sem papel. Ao completar 40 anos de funcionamento, passa a implantar monitoramento e controle centralizado de leitos de forma digital e remota.
O processo de digitalização desenvolvido por uma equipe de mais de 50 pessoas, entre eles médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e especialistas de T.I, entra em funcionamento na unidade que possui dez leitos para pacientes que necessitam de mais de 24 horas de ventilação mecânica. O projeto conta com a parceria de empresas privadas e do setor de tecnologia médica, como Lifemed, Medtronic, Nihon Kohden, Linet, Drager, Intel, Magnamed e Timpel.
A partir de um sistema integrado que coleta dados e parâmetros dos pacientes (como oxigenação, frequência cardíaca e respiratória, funcionamento de bomba de infusão, ventilador mecânico), as informações são analisadas por uma ferramenta de inteligência artificial que prevê possíveis riscos e complicações no leito e facilita uma rápida intervenção. A prescrição e dispensação de medicamentos leito a leito também estão integradas ao sistema digital da UTI, garantindo mais agilidade, segurança e redução de desperdícios. Além disso, esses leitos estão monitorados por câmeras conectadas à central de monitoramento.
A digitalização da UTI e o monitoramento integrado de leitos têm como objetivo tornar a internação de pacientes ainda mais segura e eficiente, já que os profissionais da linha de frente ficam responsáveis pela validação dos dados e parâmetros durante as visitas, de forma rápida e segura. A iniciativa também permite que a equipe se prepare cada vez mais para respostas rápidas em caso de novas epidemias ou pandemias, além de permitir a conexão com outras UTIs e hospitais universitários, para a criação de polos de atendimento e troca de informações.
Referência na pandemia
A UTI Respiratória do InCor é referência para o tratamento de casos respiratórios graves e ventilação mecânica no serviço público do Estado de São Paulo e, durante a pandemia de covid-19, desenvolveu um protocolo de assistência e capacitação para as UTIs públicas do Estado de São Paulo e também o projeto de teleconsulta.
O serviço de TeleUTI Respiratória foi o primeiro do tipo durante a pandemia a treinar e assessorar UTIs?de forma remota, por isso se tornou modelo em condutas e protocolos de tratamento a pacientes acometidos pela forma grave da doença. O programa é liderado pelo Prof. Dr. Carlos de Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do InCor e da Saúde Digital do HCFMUSP.
O programa realizou mais de 13 mil teleatendimentos e treinou mais de 16 mil profissionais de saúde para o tratamento da covid-19. O projeto de capacitação incluiu fisioterapeutas, médicos e enfermeiros, por meio de plataformas de educação. A capacitação e treinamento do manejo do paciente com diagnóstico confirmado ou suspeita de covid-19 foi baseado em um protocolo validado pelas universidades USP, Unicamp, UNESP e Unifesp e pela Secretaria Estadual de Saúde.
Além dos cursos de capacitação e treinamento de equipes médicas, o InCor coordenou o programa de teleconsultoria em UTI no Estado de São Paulo, do qual participaram mais de 37 UTIs de hospitais da rede estadual pública, entre maio de 2020 e novembro de 2021. Já nos primeiros meses de implantação do programa a mortalidade nas UTIs foi reduzida em mais de 20% dos pacientes graves com covid-19 e também contribuiu com a redução do tempo de permanência em UTI, que aumentou em 30% a disponibilidade de leitos assistidos.
A partir da experiência no contexto da pandemia de Covid-19 com pacientes em assistência respiratória, o programa TeleUTI está em expansão na área de obstetrícia em que participam um médico obstetra e outro intensivista para discussão dos casos de mulheres de gestação de alto risco, grávidas e puérperas internadas em UTI. O projeto já está em andamento em 11 estados e será ampliado a todos do país. Esta fase é liderada pelo prof. Dr. Carlos Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do InCor e da Saúde Digital do HCFMUSP e também pela Profa. Rossana Pulcineli do HCFMUSP.
História
Criada em 1982, a UTI Respiratória funcionou durante 36 anos com quatro leitos no sexto andar do Instituto Central do HCFMUSP. Em 2018 foi transferida para o prédio do Instituto do Coração, onde hoje conta com dez leitos de assistência respiratória de alta complexidade.
Desde o seu primeiro dia de funcionamento, a UTI Respiratória se estabeleceu como referência nacional e mundial em cuidados a pacientes de alto risco. Foi dela que surgiu em 1989 um protocolo utilizado até os dias de hoje por intensivistas ao redor do mundo para proteção pulmonar de pacientes que desenvolvem a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), tipo de manifestação clínica grave associada à inflamação dos pulmões.?No estudo, o grupo de pneumologistas brasileiros demonstrou ao mundo que a estratégia protetora de ventilação mecânica foi responsável por diminuir pela metade dos óbitos desses pacientes em UTI. Este protocolo entrou como padrão mundial de ventilação mecânica e rendeu uma parceria com National Institutes of Health (NIH).