Embora preveníveis, passíveis de serem diagnosticados precocemente e até mesmo evitáveis em muitos casos, os cânceres que surgem em órgãos como mama, próstata, pulmão, intestino grosso e reto (colorretal) e colo do útero continuam na lista dos mais incidentes. Outro dado preocupante é que o câncer é a segundo maior causa de morte no mundo, com mais de 10 milhões de óbitos nos cinco continentes, segundo o Globocan, do Instituto de Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).
Os números evidenciam a urgência do slogan da campanha World Cancer Day, liderada pela Union for International Cancer Control (UICC). Assim como no passado, o lema é “Close the care gap / Por Cuidados mais justos”, sendo que as principais metas são oferecer equidade no acesso ao cuido oncológico; prevenção e redução de risco; conscientizar e descontruir mitos e desinformação; promover ações governamentais; propiciar bem-estar físico, com impacto mental e emocional; salvar vidas de forma custo-efetiva; reduzir as lacunas de habilidade/formação profissional; e trabalhar junto, como um só.
Neste movimento global, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) atua em diferentes frentes, lideradas pela campanha Não dá para esperar. Cuide-se. O câncer não ficou de quarentena. São ações, ao longo de todo o ano, aplicadas com o propósito de conscientizar a população a estar atenta aos sinais do corpo, aos exames indicados para sua faixa etária e, aos pacientes oncológicos, o alerta é que não negligenciem o tratamento. “Muito além do 4 de fevereiro, a SBCO está em movimento permanente, abraçando as demais campanhas que já são tradicionais ao abordar tipos específicos de câncer, como o Março Azul, Julho Verde, Agosto Branco, Setembro Lilás, Outubro Rosa, Novembro Azul e Dezembro Laranja. Além disso, temos também a tradicional Ação Nacional de Combate ao Câncer da SBCO em todos os meses de novembro”, detalha Héber Salvador.
Embora exames de rastreamento como colonoscopia e mamografia tenham apresentado uma retomada em 2022, é preocupante a queda registrada nos dois primeiros anos da pandemia. “Mesmo no ano passado, com um aumento em relação a 2021 e 2020, ainda não chegamos ao mesmo patamar de exames de rastreamento que registrávamos até 2019. E vale alertar que, antes das pandemia, já predominava o diagnóstico tardio. É um gargalo que precisamos, todos juntos, resolver”, reforça Héber Salvador.
237 mil casos novos a mais nos próximos 3 anos – De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) são previstos 704 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025. Ao comparar-se com os números do triênio 2020-2022, quando eram esperados 625 mil novos casos por ano, observa-se que a expectativa é que tenhamos 79 mil casos acrescidos anualmente, ou seja, 237 mil novos casos a mais na somatória dos próximos três anos.
10 tipos de câncer mais incidentes em homens e mulheres no Brasil
Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2023 por sexo, exceto pele não melanoma.
Excluindo os casos de câncer de pele não melanoma, o mais comum em homens (próstata) e em mulheres (mama feminina) representam 3 entre 10 casos. Para ambos, há políticas de rastreamento, que incluem, para diagnóstico dos tumores prostáticos, o exame de antígeno prostático específico (PSA) e toque prostático. Para rastrear o câncer de mama é indicada a mamografia, podendo ser complementada pelo ultrassom.
O câncer de cólon/intestino grosso e reto (colorretal) é o segundo mais comum tanto em homens, quanto em mulheres. Mais que fazer o diagnóstico precoce, o rastreamento com colonoscopia é capaz de evitar a doença. Por meio do exame é possível retirar pólipos, grudados na parede do intestino, que – caso não fossem expelidos – poderiam evoluir para câncer. O rastreamento inclui o exame de sangue oculto nas fezes.
O câncer de pulmão é o terceiro mais incidente em homens e quarto em mulheres. Embora não seja uma política de rastreamento no Brasil, evidências apontam que o exame de tomografia de baixas doses em fumantes reduz as taxas de mortalidade pela doença. O câncer de colo do útero, tumor ginecológico mais comum, é uma doença evitável por meio de vacina contra HPV e exame de Papanicolau.
“Olhando para os demais cânceres que estão entre os dez mais comuns em cada gênero enxergamos também uma janela de oportunidade de diagnóstico precoce por meio de endoscopia (estômago e esôfago), de atuação já na cadeira do dentista (cavidade oral) e atenção aos sintomas de tumores como ovário e bexiga. E a principal mensagem, que é a da prevenção primária, por meio de hábitos de vida que evitem os fatores de risco”, ressalta Héber Salvador.
O presidente da SBCO aponta que 80% dos casos de câncer vão necessitar de alguma cirurgia no transcurso da doença. “A cirurgia oncológica é uma das principais ferramentas para a cura dos tumores sólidos e pode ser o único tratamento em casos diagnosticados mais precocemente. Nesta situação, as taxas de cura são superiores a 90%”, afirma.
De fato, dados da OPAS/OMS apontam que 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda; 40% dos casos poderiam ser prevenidos evitando fatores de risco. “A ciência e a medicina apresentam um histórico de evolução constante em relação a diagnóstico, tratamento e cura de muitas doenças oncológicas. O desafio é fazer este arsenal estar disponível para todos, o que ainda não acontece no Brasil”, afirma Héber.
Outro obstáculo é a falta de informação sobre câncer e pior ainda quando há desinformação patrocinada pela divulgação de fake news, ressalta o presidente da SBCO. “Nesse cenário o tema deste ano do World Cancer Day nos instiga a refletir sobre a importância de democratizar o acesso à saúde e à informação sobre as doenças oncológicas, como estratégia para diminuir a incidência de todos os tipos de cânceres”, diz. Muitas doenças oncológicas são potencialmente evitáveis e, mesmo assim, o câncer está entre as principais causas de mortes do mundo.