Por Thiago Bonini
Ter acesso a sistemas de saúde de qualidade é de suma importância para o desenvolvimento sustentável e promover qualidade de vida à população. Parece óbvio, mas há muitos que sofrem com o tema, inclusive os desenvolvidos. No Brasil, a população tem duas opções: cuidar de seu bem-estar via SUS ou em instituições particulares, na grande maioria das vezes com o uso de planos de saúde.
Segundo dados da ANS, apenas 23% de toda população brasileira tem acesso a convênios de saúde. Ou seja, somente cerca de 50 milhões de pessoas, em um total de 214 milhões. Mas veja que interessante: ainda que mais de 160 milhões de pessoas dependam do sistema público, menos da metade (40 milhões) dessa parcela tem condições de assumir algumas despesas no privado.
Os números podem ser puxados com uma relação direta com o mercado de trabalho. Ainda de acordo com a ANS, apenas 9 milhões de pessoas contratam planos de saúde individualmente, enquanto o restante recebe o benefício por conta de contratos empresariais. E, com o aumento do trabalho informal no Brasil – cerca de 40% do mercado são trabalhadores informais – não é de se espantar que muitos não tenham convênios, mas possuam alguma condição financeira para serviços particulares.
De um lado, o SUS garante o direito de todos aos cuidados de saúde de forma totalmente gratuita, mas o usuário pode se deparar com unidades sobrecarregadas e longas filas de espera. De outro, os planos de saúde tendem a ser mais ágeis, mas onera o bolso da família ou da empresa que o custeia. Com o cenário econômico delicado, nem sempre isso é viável. É neste momento que percebemos a necessidade da criação de uma terceira frente que reduza os gargalos e possibilite um acesso à saúde mais eficaz e democrático.
É aí que as healthtechs entram, oferecendo um caminho do meio. Muitas instituições de saúde privada possuem capacidade ociosa. Por meio de tecnologia e parcerias com profissionais da área, clínicas, laboratórios e hospitais, essas empresas são capazes de viabilizar cuidados com a saúde para quem precisa, desde os cuidados preventivos até a realização de cirurgias eletivas. Esta última, inclusive, tornou-se ainda mais importante quando 11,6 milhões de procedimentos foram adiados pelo SUS por força da pandemia, conforme apontou relatório do Conass (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde).
As oportunidades e benefícios das startups de saúde para a população são diversas: desde triagens – como a etapa da anamnese é popularmente conhecida – e consultas remotas, até a criação de “clínicas populares”, com valores bastante aquém do que visto até então. Essa linha conversa, também, com a mudança de comportamento da sociedade.
Com um público buscando, cada vez mais, rapidez, comodidade e personalização, todas as áreas da economia precisam se adequar. Na saúde, não seria diferente. Com a terceira via, os pacientes podem experienciar um cuidado mais humanizado e resolver questões mais simples com poucos cliques. Incentivar novas maneiras de cuidar do bem-estar da população é o mantra da vez.
Logo, a ideia não é acabar com ou com outro, mas sim dar mais opções e oportunidades para os mais variados públicos e distribuir melhor os cuidados. Assim, é possível reduzir gargalos e promover mais qualidade de vida em todos os estágios do cuidado e das classes da sociedade.
*Thiago Bonini é CEO e fundador da healthtech Vidia.