As escolas de gastronomia estão ampliando o leque de cursos para atrair público diversificado, de iniciantes a candidatos a chef. Há novos formatos de aulas, com passeios em feiras orgânicas e viagens para conhecer ingredientes regionais, além de serviços complementares ao ensino, como eventos corporativos em torno do fogão. A concorrência no setor deve aumentar com a chegada da francesa Le Cordon Bleu ao Brasil, em 2015, e o avanço do Senac na área da alta confeitaria. "A maior presença da gastronomia na programação da TV impulsiona as escolas", diz Marisa Furtado, dona da Madame Aubergine Cozinha & Cultura, que investe em uma nova sede.
Aberta há 32 anos, a Escola Wilma Kövesi de Cozinha recebe, em média, 200 alunos ao mês. Oferece aulas únicas de três horas, treinamentos rápidos com duas a seis aulas, além de um curso de chef com duração de um ano. Segundo a gestora Betty Kövesi, a demanda foi menor do que o esperado, no último ano.
"Cerca de 10% dos alunos que atraímos em cursos rápidos são empregados domésticos matriculados por seus empregadores. Esse público diminuiu desde a vigência da nova lei trabalhista da categoria", diz a empresária, filha da fundadora da escola. Para manter as matrículas, uma das estratégias é oferecer programas que atendam um público mais amplo, de iniciantes a profissionais. A escola também ficou conhecida por convidar cozinheiros de primeira linha para dar aulas. A lista de ex-professores inclui Alex Atala e Carla Pernambuco.
Em 2004, com a morte da mãe, Betty assumiu a operação da unidade. Introduziu opções para crianças e uma nova programação de cursos a cada quatro meses. O mais procurado é o básico para principiantes, enquanto a formação de chef atrai proprietários de restaurantes que querem se aprofundar em técnicas de cozinha.
Entre as aulas únicas, um dos recordes de matrículas é a de culinária japonesa, com Mari Hirata, profissional radicada no Japão que vem a São Paulo uma vez ao ano. Dependendo da duração, os programas custam de R$ 200 (aula única) a R$ 17,8 mil (curso anual).
Em 2015, o objetivo de Betty é lançar aulas com passeios em feiras orgânicas e viagens a Goiás para conhecer receitas da região do Cerrado. O curso para principiantes será reformulado, levando em conta a mudança de ingredientes nas mesas brasileiras. "Teremos mais grelhados e diminuição de frituras."
A escola Madame Aubergine Cozinha & Cultura, há quase dez anos no mercado, vai ganhar uma sede própria, na Vila Madalena, em 2015. O espaço de 360 metros quadrados terá três cozinhas e um miniauditório para 50 pessoas, segundo a proprietária Marisa Furtado, que recebe 120 alunos ao mês. "Projetamos um crescimento tímido em 2013, mas superamos as expectativas em até 15%. Em 2014, dobramos o fluxo de alunos." A empresa faturou cerca de R$ 900 mil no ano passado e deve fechar 2014 com R$ 1,3 milhão.
Marisa acredita que a maior presença da gastronomia na programação das emissoras de TV tem impulsionado as escolas. "A culinária deixa de ser para poucos e se torna um prazer acessível a qualquer um", analisa. Nessa linha, uma das ações da empresária foi reduzir os preços das aulas, uniformizando os valores em até R$ 100, para cursos com duração de 2h30. "O aluno aprende a fazer um menu completo com entrada, prato principal e sobremesa." A maioria dos estudantes é de cozinheiros amadores das classes A e B, de 25 a 40 anos, com predominância de mulheres.
"No dia a dia, é preciso não se descuidar da área financeira", diz. "As aulas se pagam, mas não trazem receita. São os eventos para empresas ou serviços de maior valor agregado que mostram rentabilidade." A escola organiza reuniões corporativas, em formato de aula ou com a cozinha aberta, para grupos de até 35 pessoas. Em 2015, deve criar um cartão fidelidade com vantagens para alunos frequentes.
No Senac São Paulo, uma das mais primeiras escolas do Estado a oferecer programas de gastronomia, com cursos de cozinheiro desde 1964, a aposta é na confeitaria avançada. Este ano, lançou o Master Class, em parceria com a escola francesa Lenôtre, na unidade de Campos do Jordão (SP). Inclui temas como chocolates e esculturas em açúcar. Tem duração de 840 horas ou seis meses e a próxima turma começa em maio de 2015. Custa R$ 52 mil.
"Parte dos alunos é de empreendedores que querem se especializar em confeitaria ou abrir o próprio negócio", diz Gisela Redoschi, coordenadora de desenvolvimento da área de gastronomia do Senac-SP. No ano passado, a instituição recebeu 10,3 mil matrículas em mais de 100 cursos, entre aulas livres, de capacitação, técnicos e de ensino superior. O número representa um crescimento de 12,1 % ante 2012. Há programas de 15 horas até 1,6 mil horas de duração.
No próximo ano, o Rio de Janeiro (RJ) ganha uma filial da tradicional escola francesa Le Cordon Bleu, no bairro de Botafogo. Segundo o chef francês Roland Villard, conselheiro da operação no Brasil, as aulas devem começar a partir do segundo semestre. O plano é oferecer uma formação técnica, baseada na gastronomia francesa, com duração de 20 meses. "O Brasil já tem mais de mil alunos formados pelo grupo, no mundo. A escola precisava vir para cá", diz Villard, responsável pelo cardápio do hotel carioca Sofitel.
Os preços dos cursos ainda não estão definidos, mas 20% das vagas serão destinados a bolsistas patrocinados pelo governo do Rio de Janeiro, que cedeu um prédio de 1,9 mil metros quadrados de área e investiu R$ 7 milhões nas obras da escola. A Le Cordon Bleu brasileira terá capacidade para 500 alunos.
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