Neste exato momento e por todo o País, há muitos pacientes recebendo alta hospitalar após terem vivenciado algum evento grave de saúde. Eles não mais apresentam quadros de risco e que justificam a continuidade de internação, mas, apesar de estarem fora de perigo, é seguro prever que parte desses pacientes liberados tenham desenvolvido algum tipo de comprometimento funcional ou cognitivo — condições que podem limitar ou, até mesmo, impedir a autonomia do indivíduo, demandando cuidados especiais.
Atender as pessoas que se deparam com essa comum realidade e necessidade é o foco dos hospitais de transição, que integram o chamado setor de desospitalização, um mercado bem amadurecido nos Estados Unidos e na Europa, mas que ainda é relativamente novo no Brasil e que, portanto, apresenta grande potencial de expansão. Em resumo, trata-se de um modelo de assistência que, por meio de um cuidado interdisciplinar, foca na reabilitação de pacientes que ainda precisam de cuidados médicos, ou de pacientes crônicos, com vistas a evitar sua reinternação em um hospital geral.
Mesmo em desenvolvimento no Brasil, esse segmento já vem sendo contemplado com importantes inovações que potencializam a qualidade do atendimento prestado aos pacientes em transição de cuidados. A recém-inaugurada Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) da Humana Magna, uma das líderes desse setor e que atua no mercado há quatro anos, é um exemplo de tal avanço.
A nova estrutura foi instalada na unidade Verbo Divino da rede, localizada na zona sul da capital paulista, e faz parte das mobilizações da companhia no sentido de promover inovações na área da Saúde. Objetiva-se, também, posicionar a instituição como a principal referência no atendimento ao paciente com sequela, agravo ou cronicidade.
“Com essa UCI, que pode ser comparada a uma Unidade de Terapia Semi-Intensiva e que consiste em um importante diferencial no setor de transição de cuidados, nos tornamos ainda mais resolutivos e ampliamos nossa capacidade de receber pacientes”, explica o CEO da Humana Magna, Rodrigo Lopes. “Agora, num eventual agravamento no quadro de algum paciente, temos condições de seguir atendendo-o, sem a necessidade de transferência imediata para um hospital geral.”
Nesta entrevista, compartilhada com o responsável técnico da instituição, Eduardo Dias, e com o coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), Felício Savioli, o executivo deu mais detalhes a respeito dessa inovação e também sobre o próprio conceito de hospital de transição.
O conceito de hospital de transição ainda é pouco conhecido no Brasil e, por isso mesmo, vale ser reforçado. Em que consiste, portanto, esse perfil de assistência e o que o diferencia em relação ao serviço tradicional de hospitalização?
Rodrigo Lopes: o trabalho de um hospital de transição, como o realizado pela Humana Magna, visa oferecer o suporte necessário ao paciente que necessita, após a sua alta hospitalar, de reabilitação ou longa permanência, motivada pela falta de autonomia. Esse processo, quando realizado fora de um hospital geral e de forma específica para as suas demandas, otimiza a sua melhora em um ambiente confortável e com menor risco de infecção cruzada com uma equipe voltada, exclusivamente, para promover sua evolução. É muito comum pacientes receberem alta por estarem fora de risco, porém, não necessariamente estão em condições de retornar ao lar e conduzir suas rotinas. Por isso, nosso foco é garantir mais qualidade de vida a essas pessoas, não importando a sua condição, seja reabilitação por incapacidade temporária ou definitiva, longa permanência ou finitude. O grande propósito é evitar reinternações e ajudar o paciente reabilitado a retornar para casa estável e com autonomia.
O que é a Unidade de Cuidados Intensivos recém-instalada e por que esse investimento consiste em uma inovação para o mercado de transição de cuidados?
Eduardo Dias: Ter uma UCI dentro de um hospital de transição é algo muito inovador no Brasil, especialmente porque até mesmo muitos hospitais gerais não possuem uma estrutura com o nível de equipamentos e de equipe que passamos a oferecer. A UCI equivale-se a uma unidade semi-intensiva e, com ela, nossa proposta é ter condições de receber pacientes em estados de maior gravidade, estabilizá-los e, assim, evitar o retorno para seus hospitais de origem, inclusive numa condição de ingresso na UTI. Muitos pacientes vêm para cá para reabilitação, mas ainda têm intercorrências clínicas que impedem a realização de uma reabilitação mais intensiva. Com a UCI, conseguiremos fazer o manejo clínico e o processo de reabilitação em conjunto desse paciente, tudo com muita racionalidade de cuidado, centrada na qualidade de vida desses indivíduos.
Como é a estrutura da nova Unidade de Cuidados Intensivos, em termos de equipamentos e equipe médica?
Felício Savioli: A estrutura montada é bem semelhante à dos maiores hospitais do Brasil. Atualmente, a UCI possui quatro leitos, mas nossa meta é, em breve, ampliar para dez. Também instalamos equipamentos de última geração que estão fora da realidade da maioria dos hospitais brasileiros. Nesta lista, estão ventiladores Servo e modernos aparelhos de ultrassom e de telemetria, que viabilizarão muitos diagnósticos e procedimentos. Também possuímos todas as medicações que são administradas dentro de uma UTI. Com relação à equipe, disponível 24 horas, são 15 médicos intensivistas e especialistas, além de enfermeiros e fisioterapeutas que auxiliam na assistência. A propósito, o corpo médico tem muita experiência em renomados hospitais, como Sírio Libanês, Albert Einstein e Oswaldo Cruz, por exemplo. Vale destacar que são pouquíssimos hospitais de alta complexidade que possuem uma unidade de cuidados semi-intensiva. A maioria só tem a enfermaria e a UTI. Nosso grande objetivo é reabilitar pacientes graves e evitar a transferência deles para a UTI, poupando-os de procedimentos invasivos que poderiam ser deletérios. Em resumo, nossa proposta é oferecer uma assistência intensiva humanizada.
O serviço da Humana Magna visa evitar, sempre que possível, a reinternação dos pacientes em hospitais de alta complexidade. Qual o efeito da UCI na taxa de êxito nessa missão e seu impacto no sistema de Saúde, de uma forma geral?
Rodrigo Lopes: Com a estruturação da nossa Unidade de Cuidados Intensivos, 85% dos pacientes que rebaixam assistencialmente não precisam mais ser transferidos para um hospital de alta complexidade. Isso se traduz na geração de qualidade de vida aos pacientes. O modelo de transição, como um todo, gera reflexos positivos a todo o sistema. Por possuir uma estrutura de menor complexidade em relação a um hospital geral, como a ausência de centro cirúrgico, por exemplo, um hospital de transição tem, consequentemente, um custo operacional menor e, com isso, conseguimos praticar uma precificação igualmente inferior, o que ajuda a desonerar a saúde suplementar. Este mercado, conforme for se expandindo, inclusive, também pode ser benéfico para os próprios hospitais gerais, no sentido de viabilizar a liberação de leitos para pacientes com maior gravidade. Afinal, não somos concorrentes, somos complementares na jornada do paciente. Vale lembrar que a UCI é destinada não só para os nossos pacientes, mas também para quem está em casa, com atendimento ou internação domiciliar, construindo, assim, uma nova jornada do paciente crônico, com agravamento ou com alguma sequela.
Voltando a explorar o conceito de desospitalização, a quem se destina esse perfil de serviço médico e por quanto tempo, em média, se usufrui dele?
Eduardo Dias: O paciente, quando tem um evento catastrófico grave, pode seguir por alguns caminhos: óbito, recuperação total e volta à sua condição anterior ou, ainda, um terceiro caminho, que é o paciente sair bastante debilitado depois desse evento, com comprometimentos funcional e cognitivo. Alguns pacientes ficam enfermos por um período muito grande e isso tem um impacto financeiro importante no sistema de saúde e também na qualidade de vida do paciente. Então, é nesse contexto e para esse perfil de paciente cronicamente enfermo e com comprometimento funcional e cognitivo que deve servir o hospital de transição. O paciente pode vir de hospitais ou da sua própria casa. Se estiver em outra instituição de transição, também. Mas a maior parte acaba vindo de hospitais porque estão na fase de convalescência de um evento grave.
Na Humana Magna, de forma geral, recebemos três tipos de pacientes: em reabilitação, finitude e longa permanência. Os pacientes de reabilitação ficam, em média, 60 dias. De longa permanência se tornam moradores. Tem paciente que está há quatro anos conosco. E os de finitude, que demandam cuidados paliativos exclusivos na fase de terminalidade, o tempo varia. A média é de 15 a 20 dias, porque muitos já chegam na fase final da vida. Então, são oferecidas medidas de conforto.
Como está a atual estrutura da Humana Magna e quais são as terapias oferecidas aos pacientes?
Eduardo Dias: Atualmente, a Humana Magna conta com duas unidades, ambas em São Paulo: a Verbo Divino, com 78 leitos equipados, e a Ibirapuera, que oferece 72 leitos. Contamos com médicos especialistas , inclusive, com fisiatras — especializados em reabilitação — presentes todos os dias nas unidades, o que é um diferencial para o mercado de hospitais de transição. Temos fisioterapeuta e enfermagem 24 horas e, durante o dia, tem outros terapeutas, como fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social, educador físico e dentista.