Tradicionalmente, no Brasil, os serviços de saúde são remunerados por produção, ou seja, quanto mais se atende, mais se recebe. Entretanto, as discussões acerca da qualidade do serviço e atendimento prestado têm ganhado mais espaço. Em novembro, foi divulgado um ranking inédito das melhores instituições hospitalares que atendem 100% SUS (Sistema Único de Saúde) com nível de certificação de qualidade plena internacional ou com acreditação de nível 3 (excelência).
Ainda assim, segundo a Quality Global Alliance (QGA), apenas 6,8% das instituições de saúde do Brasil são acreditadas. Por isso, é preciso expandir esse debate e fazer com que ele seja de amplo conhecimento dos gestores, profissionais da saúde e, claro, da população – a principal beneficiada. Para a diretora técnica da QGA, Melissa Morais, existem três principais motivos que fazem com que esse debate não seja de pleno reconhecimento popular.
O primeiro é por se tratar de um processo voluntário. Ou seja, a iniciativa precisa partir das próprias instituições de saúde. O segundo, conforme a especialista, vem da dificuldade de entender que a qualidade é um investimento: “O processo tem sim um custo, mas são transformações que precisam ser feitas na organização para implementação dos processos de qualidade”, enfatizou.
Por fim, o último grande ponto mencionado pela Melissa é o contexto atual do país que acaba de enfrentar uma pandemia global. Conforme a diretora-técnica, as instituições estão sofrendo grande pressão financeira e registrando déficits em seus balanços. Com isso, a Acreditação, por não ser obrigatória, acaba ficando em segundo plano.
“Eu entendo que enquanto não tivermos um reconhecimento, de fato, de que instituições acreditadas são diferenciadas, nós vamos continuar tendo a leitura de que esse processo não é prioridade”, defendeu Melissa.
Atualmente são poucas iniciativas nesse sentido. Existe o QUALISS – Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde – que visa ampliar o poder de avaliação e de escolha por parte dos beneficiários de planos de saúde e pela sociedade em geral.
Dentro do programa, existe o “Monitoramento da Qualidade Hospitalar”, uma iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que avalia as instituições por meio de indicadores de qualidade, como taxa de mortalidade institucional, tempo médio de internação e tempo de espera na emergência. Na busca, é possível encontrar hospitais, clínicas e laboratórios que possuem o selo de acreditação.
Para a médica, o programa sinaliza uma possibilidade de negociação financeira diferenciada para as instituições que são acreditadas, mas, ainda assim, é uma iniciativa pequena. Ela defende que, antes de tudo, é preciso trabalhar a cultura da remuneração hospitalar.
“Hoje, os serviços de saúde são remunerados por produção. Precisamos transformar essa visão de quanto mais eu atendo, mais eu recebo, para quanto melhor eu atendo, mais eu recebo”, defendeu.
Para transformar essa realidade, a especialista reforçou que é preciso ampliar o debate tanto entre profissionais da saúde quanto a população em geral. Ela enfatizou que é necessário propagar a ideia de que a acreditação deve ser considerada no momento de escolher um serviço de saúde, pois ela promove um ambiente onde o cuidado é mais seguro.
“Hoje, nós temos a concepção de que um hospital bom é aquele com uma boa hotelaria e conforto, mas nem sempre isso está relacionado com segurança. A Acreditação vai olhar para os processos, estrutura física, equipamentos, qualificação profissional, etc. Isso é o mais importante a ser considerado”, finalizou.