A nuvem é fato e um caminho sem volta no horizonte de várias áreas e setores importantes, especialmente para a saúde e a atenção domiciliar. Até 2023, serviços de infraestrutura e plataforma em nuvem deverão abrigar 40% das cargas de trabalho corporativas, prevê o Gartner, e nesse vasto mercado de oportunidades a computação em nuvem deve atingir mais de US$ 71,7 milhões até 2027, segundo pesquisa da Mordor Intelligence. Diante dessas perspectivas, os recursos da nuvem têm o potencial de gerar valor de US$ 100 a US$ 170 bilhões em 2030 para empresas de saúde, como indica artigo recente da McKinsey.
Neste ambiente, todo o potencial da cloud representa uma vantagem competitiva singular, já que a capacidade de gerar valor comercial de uma organização será cada vez mais baseada nas limitações e oportunidades de sua arquitetura de tecnologia, como acreditam 92% dos 399 executivos de saúde ouvidos pela Accenture em 2021. Por meio dos serviços disponibilizados em nuvem, a expectativa é de contar com a telessaúde no pós-pandemia para metade dos consumidores da maior economia do mundo, segundo outro levantamento da consultoria.
Somente nos Estados Unidos, 32% dos pacientes sentiram que receberam cuidados de saúde comparáveis ?ao atendimento presencial ?por meio de telessaúde em 2020. Em 2021, esse número aumentou para cerca de 41%, revela pesquisa da KPMG. Em 2020, 60% dos pacientes nos EUA disseram que a pandemia de COVID-19 aumentou a sua vontade de utilizar a telessaúde no futuro, e o número subiu para 77% em 2021.
A nuvem vai além da telessaúde, habilitando soluções inteligentes capazes de alavancar a eficiência, fator crucial para a evolução do home care em economias em desenvolvimento. No Brasil, há uma enorme oportunidade de utilização da nuvem como estratégia de integração dos dados, informações e processos, monitoramento remoto, reduzindo a fragmentação e estabelecendo plataformas de ofertas de serviços que podem ir da telemedicina à gestão do fluxo de pacientes, de acordo com estudo da Accenture. Metade dos stakeholders na área de saúde relatou à consultoria que seus processos estratégicos estavam na nuvem, enquanto os principais recursos legados permaneciam em infraestrutura local.
É por meio da nuvem que os Softwares como Serviço (SaaS, na sigla em inglês) permitem melhorar o gerenciamento de pessoas e recursos e garantir a melhor experiência tanto para usuários finais quanto profissionais e stakeholders. Na prática, é na cloud que se encontram as plataformas capazes de simplificar controles importantes, desde escalas e rotinas de equipe até a checagem de plano de cuidados e o monitoramento remoto por meio de aplicações móveis. A nuvem proporciona os recursos necessários para habilitar funcionalidades via app que vão do acompanhamento em tempo real com geolocalização, notificações de intercorrências com imagens, até checklists completos e prontuário eletrônico.
Essas soluções on-demand estão possibilitando a evolução dos cuidados de saúde em meio à crescente transformação digital de uma nova revolução industrial, habilitando assim soluções eficientes de atenção domiciliar. O setor vem se tornando tão essencial para a população que, se o home care encerrasse seus serviços no Brasil, seriam necessários 35.432 leitos hospitalares adicionais ao ano para os atendimentos supridos pela atenção domiciliar, segundo levantamento do Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (NEAD) 2019/2020. Esses leitos representam 4,87% do total do país, o que equivale à soma de leitos públicos e privados do estado de Pernambuco.
Acompanhando a maior expectativa de vida e o crescente volume de idosos, as perspectivas de expansão dessa população vêm elevando as despesas com saúde. Não é por acaso que, no Brasil, o home care está evoluindo tão rápido na habilitação de novas oportunidades em serviços de atenção domiciliar. Esse mercado triplicou de tamanho nos últimos quatro anos, e a nuvem é uma das principais soluções tecnológicas capazes de ajudar a atender essa demanda.
Neste cenário, as empresas brasileiras estão indo além da experimentação, como mostra uma pesquisa realizada pela IDC, movendo cargas de trabalho críticas aos ambientes em nuvem híbrida para gerar maior competitividade e agilidade nos negócios. Das 143 empresas de grande porte ouvidas no país, 33% já integram ambientes de nuvem de distintos tipos e provedores em uma abordagem de nuvem híbrida. Outras 17% apontam que planejam fazer isso nos próximos 12 meses, com grande foco em aprimorar a modernização e mobilidade de aplicações. Entre as tendências apontadas por outro estudo da IDC estão a otimização de resultados por meio de serviços em nuvem e pay-per-use, o trabalho com equipes otimizadas, a integração de sistemas baseados em dados, e o consumo de recursos de forma colaborativa.
O futuro da atenção domiciliar depende diretamente da expansão das funcionalidades nativas da nuvem. A aceleração na adoção de plataformas baseadas em cloud promete catalisar ainda o mercado da Internet das Coisas Médicas (IoMT) que, somente na América Latina, deverá crescer de US$ 2 para US$ 9 bilhões este ano, de acordo com um estudo feito pela Deloitte. Se podemos usar cada vez mais os dados para ampliar e melhorar o monitoramento remoto, o diagnóstico inteligente e ajudar a salvar mais vidas, os ventos estão definitivamente soprando a favor da nuvem.
*César Griebeler é VP de Tecnologia da Pulsati