Unimed-Rio acumula dívida milionária com hospitais, que pretendem recorrer à ANS
06/12/2022

Uma das maiores operadoras de planos de saúde do país, com quqse 800 mil beneficiários, a Unimed-Rio acumula pagamentos em atraso junto a hospitais e laboratórios, incluindo repasses para outras unidades do sistema Unimed, afirmam entidades e profissionais do setor.

Só com Unimed Leste Fluminense e Unimed Nova Iguaçu, esses débitos atrasados somam mais de R$ 65 milhões, afirma Marcus Quintella, presidente da Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (AHERJ).

 

A entidade vai pedir que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) libere R$ 90 milhões da Unimed-Rio — que ficam depositados junto à autarquia como provisão para garantir a assistência de beneficiários — para serem usados na quitação da dívida da cooperativa com os hospitais.

Na segunda-feira, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, deu 72 horas para a cooperativa de saúde carioca prestar esclarecimentos “sobre reiteradas condutas abusivas ao consumidor”. Desde julho, ela é a que mais tem queixas na ANS.

— As operadoras pagam os hospitais em um prazo médio de 90 dias. A Unimed-Rio tem neste momento atrasos de quatro a seis meses, além desses 90 dias, e com outras unidades Unimed no estado. As dívidas com hospitais por atendimento prestado a clientes da Unimed-Rio pela Unimed Leste Fluminense chegam a R$ 50 milhões. Com a Unimed Nova Iguaçu, a R$ 15 milhões — diz Quintella.

Pressão dos credores

Operadoras vêm pressionando a ANS pela liberação dessas provisões no pós-pandemia. Após período focado na Covid-19, argumentam que a retomada de procedimentos represados fez o custo disparar. Uma reunião na agência deve discutir o tema hoje. A própria Unimed-Rio estaria pleiteando essa liberação junto à ANS, diz Quintella:

— Vamos encaminhar uma carta à agência pedindo que esses recursos sejam liberados diretamente para os credores, sem passar pela Unimed-Rio, que teria 30 meses para recompor essa reserva junto à ANS. Seria uma boa saída. Esse é um ativo garantidor, ou seja, para garantir o atendimento ao segurado. Pagaria os hospitais, evitando bloqueios no atendimento.

A Unimed-Rio também não pagou faturas das redes D'or e Dasa, segundo o colunista do GLOBO Ancelmo Gois. Procuradas, a Rede D’Or não respondeu. A Dasa disse que não comenta acordos comerciais com parceiros e que está “em constante negociação”.

 

Em junho, a Unimed-Rio foi uma das dez operadoras notificadas pela Senacon por indícios de reajustes abusivos. As investigações ainda estão em andamento e podem gerar processo administrativo e multa.

Direção fiscal

As dificuldades financeiras da Unimed-Rio não são novas. No primeiro semestre, a operadorateve prejuízo de R$ 600 milhões, um dos piores da história do setor para o período, segundo revelou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.

Em março, a ANS renovou por mais um ano a direção fiscal da Unimed-Rio, em vigor desde 2016. Por esse regime, a operadora se compromete com metas assistenciais e financeiras.

Guilherme Jaccoud, presidente da Federação de Hospitais do Estado do Rio (FHERJ), diz que os atrasos também prejudicam prestadores fora do Grande Rio. E cita as regionais da Unimed em Friburgo, Petrópolis e Cabo Frio com dificuldades. A Unimed-Rio, porém, continua negociando com prestadores, diz o dirigente, acrescentando que não há intenção de desestabilizar a cooperativa.

Ainda segundo Jaccoud, há cerca de 15 dias, um pedido feito por Seguros Unimed e Unimed Brasil ao Ministério Público para se desvincularem de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2016, no qual são afiançadoras, aumentou a preocupação no setor.

Procuradas, Seguros Unimed e Unimed Brasil não se pronunciaram. Fontes a par do TAC confirmaram que elas pediram a execução do termo, o que levaria ao fechamento da Unimed-Rio com repasse de seus clientes à Seguros Unimed.

Outra opção seria a liberação do compromisso assim que a Unimed-Rio concluísse a venda de um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, seu maior ativo. Nos bastidores há quem veja uma articulação pela consolidação das regionais sob o guarda-chuva da Unimed Brasil, representante das 340 cooperativas do Sistema Unimed.

Aporte de recursos de médicos cooperados

Um executivo do setor, que não quis ser identificado, vê pouca chance de recuperação da Unimed-Rio por causa de um patrimônio líquido negativo “gigante” da ordem de R$ 1 bilhão, da falta de medidas de eficiência na gestão e da venda de planos mais baratos que a média do mercado. Para essa fonte, a saída seria os médicos cooperados aportarem recursos na operadora, “tirarem do bolso”, o que seria difícil.

Para outra fonte, que atua na área de regulação do setor, o pedido dos hospitais para que os ativos garantidores sejam liberados pela ANS é um sinal da gravidade da situação e não garante solução. Em 2014, a Unimed-Rio obteve judicialmente a liberação de suas reservas técnicas sem que conseguisse se recuperar. Para essa fonte, a melhor saída seria a cooperativa transferir sua carteira a outro operador.

Procurada, a Unimed-Rio não comentou sobre as dívidas nem sobre a notificação da Senacon. Em nota, afirmou apenas que voltou a crescer nos últimos anos e que passa “por um profundo processo de ajuste em suas contas, que incluiu cortes de custos e a venda de ativos importantes, como a antiga sede da empresa”.

A Unimed-Rio argumenta que o setor vive um “momento de crise” e que os grupos que ainda oferecem planos individuais são os mais afetados, já que tiveram reajuste negativo em 2021, determinado pela ANS. Acrescentou que aplica reajustes de acordo com o previsto em contrato e que implementa “planos de ação para manter os níveis de qualidade pelos quais sempre foi reconhecida”.

A Unimed Brasil destaca que desde o TAC de 2016 assegura a continuidade do atendimento aos beneficiários da Unimed-Rio. E ressalta que o Sistema Unimed responde pela assistência de 38% dos brasileiros com planos de saúde.

Afirma que tem recebido avaliações acima da média, apesar de o setor viver um período “sem precedentes de aumento na utilização dos serviços e nos custos assistenciais”. Procurada a ANS não respondeu até o fechamento dessa edição.

Fonte: Extra




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