Após período de queda significativa no volume de consultas, exames e procedimentos oftalmológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em virtude do impacto no atendimento causado pela pandemia de Covid-19, uma nova tendência se instala na rede pública. Dados analisados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a partir de registros do Ministério da Saúde, mostram a retomada do volume de produção a níveis que superam os anteriores à emergência epidemiológica.
De acordo com os números analisados pela instituição, houve um crescimento de 95% na produtividade dos exames para diagnóstico de retinopatia diabética em 2022 com relação a 2020, ano mais crítico da pandemia. O cálculo leva em conta os exames registrados entre janeiro e agosto de cada ano, intervalo sobre o qual já estão disponíveis os dados referentes ao ano atual.
De janeiro a agosto de 2020, foram realizados 3.307.868 procedimentos deste tipo. Já no mesmo período de 2022, o Ministério da Saúde aponta a realização de 6.442.530 exames relacionados à retinopatia diabética, número que supera, inclusive, o desempenho pré-pandemia, quando foram computados 5.159.498 procedimentos em 2019. Confira:
Na avaliação do CBO, essa retomada na produtividade do SUS demonstra o efeito positivo da queda dos indicadores de morbidade e mortalidade por conta da Covid-19 e do aumento da cobertura vacinal contra essa doença. “A população agora se sente mais segura. Com isso, o temor de ir a um serviço de saúde por receio de se contaminar com o coronavírus deixou de ser um problema”, ressalta Cristiano Caixeta Umbelino, presidente do Conselho.
Detalhamento – O relatório inédito do CBO avaliou os registros dos quatro tipos de exames para o diagnóstico da retinopatia diabética disponíveis no SUS: biomicroscopia de fundo de olho, mapeamento de retina, retinografia colorida binocular e retinografia fluorescente binocular. O detalhamento dos números mostra que todos estes procedimentos registraram aumento no número de produção neste ano em relação a 2020.
Em 2019, de janeiro a agosto, foram realizados, em média, cerca de 645 mil exames desses quatro tipos a cada mês. No mesmo período do ano seguinte, quando foi decretada a pandemia, em 2020, esse total baixou para 413 mil mensais. Em 2022, com a volta da normalidade aos atendimentos do SUS, a média já ultrapassa 805 mil procedimentos, número superior ao registrado antes da crise sanitária.
“A demanda reprimida durante as fases mais críticas da pandemia já é expressa no número de procedimentos registrados nos oito primeiros meses do ano. Apesar dos índices dessa retomada serem animadores, precisamos considerar os potenciais impactos que a crise da Covid-19 pode ter causado na visão das pessoas, sobretudo, na dos portadores de diabetes que ficaram um longo período sem realizar o rastreio da retinopatia diabética”, avalia o presidente do CBO.
Estados e regiões – Ao avaliar a produção de exames para retinopatia diabética a partir da sua distribuição geográfica, é possível constatar que a melhora da cobertura ocorreu nas cinco regiões, na comparação entre os intervalos janeiro-agosto dos anos 2019 e 2022. Os destaques vão para as regiões Sudeste (90%), Norte (30%) e Sul (24%). Em seguida, estão Centro-Oeste e Nordeste com aumento de 23% e 15%, respectivamente. Confira também a variação 2021-2022 para o mesmo período nas cinco regiões brasileiras.
Os dados das unidades federativas confirmam a tendência de alta e o desempenho positivo é registrado na grande maioria dos estados. Em valores absolutos de procedimentos, São Paulo lidera os registros de 2022 com 2,1 milhões de procedimentos realizados, seguido por Pernambuco com 601 mil e Rio Grande do Sul com 599 mil.
Já os estados com os maiores aumentos proporcionais entre 2019 e 2022 foram o Amapá, com alta de 4400% no volume de procedimentos realizados no período de janeiro a agosto de cada ano; Rondônia, com variação de 181%; e Alagoas, com alta de 129%. Quatro estados, além do Distrito Federal, não registraram, em 2022, um número de procedimentos capaz de superar as notificações de 2019: Distrito Federal (-70%); Paraíba (-34%); Mato Grosso do Sul (-33%); Ceará (-16%) e Mato Grosso (-9%).
Confira abaixo o volume da produção ambulatorial de cada Unidade Federativa do País.
Perfil – De forma geral, as mulheres representam a maioria dos pacientes que são submetidos aos exames de diagnóstico para retinopatia, conforme mostram os dados analisados pelo CBO. Nos períodos de janeiro a agosto, nos anos de 2019, 2020, 2021 e 2022, foram feitos 8,3 milhões de testes na população feminina. Outros 5,3 milhões foram aplicados em homens. Com relação à idade, a maior produção ocorreu na população com idades acima de 40 anos. Esse segmento somou, só em 2022, um total de 3,7 milhões de exames. Confira nas tabelas abaixo dados acerca do perfil do paciente com retinopatia diabética.
Novembro Azul – Com o propósito de impulsionar ainda mais o processo de retomada dos atendimentos, o CBO tem estimulado ao longo de novembro a realização de mutirões de atendimento para a retinopatia diabética em todo o País. A complicação ocular, sem diagnóstico e tratamento precoces, pode evoluir rapidamente e levar à perda parcial ou total da visão.
O problema de saúde pública envolvendo essa doença fez com que, liderados pelo CBO, oftalmologistas e entidades parceiras, passassem a promover inúmeras ações, em diferentes estados. Em cada iniciativa, pacientes com suspeita da doença são avaliados por especialistas, passam por exames e são encaminhados para os cuidados necessários.
“O CBO tem um compromisso com a saúde ocular da população brasileira. A campanha de novembro é uma tradição iniciada em 2014, suspensa, unicamente, em 2020 devido à pandemia. Naquele ano, foi necessário pensar novas maneiras de atingir o público, e a internet, assim como em vários outros setores da sociedade, foi uma importante aliada diante da crise”, lembra Wilma Lelis Barboza, 1ª secretária do CBO.