Prontidão da saúde é a chave para enfrentar futuras pandemias
18/11/2022

A nova onda de Covid-19 na Europa e no Brasil indica que a pandemia ainda não terminou depois de quase três anos do seu início, o que só aumenta a urgência de aprendermos com as muitas lições deixadas por ela, notadamente a necessidade de prontidão da área de saúde para enfrentar uma nova disseminação viral que venha a ocorrer.

Longe de ser alarmista, mas não é possível negar que vivemos sob a ameaça de milhares de vírus desconhecidos, como apontam vários estudos, entre eles um relatório publicado em agosto de 2021 e produzido pelo Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard (HGHI) e o Centro para o Clima, Saúde e Meio Ambiente Global da Escola de Saúde Pública TH Chan, também de Harvard.

Segundo o documento, o risco pandêmico infeccioso se origina predominantemente do transbordamento de vírus de vida selvagem para pessoas, às vezes através de animais de criação. Apesar do conhecimento de que as iniciativas de conservação florestal podem reduzir o risco de propagação de doenças zoonóticas, são gastos menos de US$ 4 bilhões por ano em atividades com esse objetivo, enquanto só a pandemia da Covid-19 resultou em um prejuízo de US$ 4 trilhões ao Produto Interno Bruto global (números de 2021).

Como a inversão de prioridades em relação ao meio ambiente deve permanecer como uma prática dos líderes mundiais, apesar dos esforços dos acordos multilaterais, é preciso que os governos se preparem para emergências sanitárias. Como bem disse o epidemiologista brasileiro, Jarbas Barbosa, que assumirá a chefia da Organização Pan-Americana da Saúde, em fevereiro de 2023, em entrevista à ONU News logo após sua eleição para o posto, é preciso implementar as lições aprendidas durante a pandemia nas respostas nacionais, por exemplo aumentando a capacidade de produção de insumos médicos para não depender de importações em uma eventual crise.

Não podemos nos esquecer do colapso nos transportes, no abastecimento e na distribuição de dispositivos médicos que marcou os primeiros meses de pandemia no nosso país. Para evitar a repetição desse cenário, o aporte de recursos deve estimular a inovação e a economia de escala, e considerar o escopo das empresas presentes no Brasil. Com isso, seria assegurado o fornecimento, a preços e custos compatíveis, fomentando-se a isonomia competitiva para os dispositivos médicos.

As bases produtivas já existem, e o Brasil tem até o potencial de transformar-se em um hub regional para o fornecimento de soluções para a área de saúde, com ênfase nos mercados da América Latina e Caribe. Falta estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação tecnológica por meio de instrumentos financeiros, creditícios e tributários disponíveis e ampliar as bolsas de pesquisas e subvenções econômicas com aplicação direta no setor de saúde.

Trata-se de um caminho longo com desafios que precisam ser superados dia a dia, mas plenamente possível se considerarmos o tanto que a área de saúde evoluiu até aqui, os muitos aprendizados — muitos deles difíceis — advindos da pandemia de Covid-19 e o entendimento de que a chave para enfrentar emergências é a prontidão e capacidade de resposta rápida.


*Fernando Silveira Filho é presidente-executivo da ABIMED.





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