Em parceria inédita entre João Guilherme Eiras Poço, médico residente, Marcus Vinicius Saad Rodrigues, físico da Radioterapia do HCFMUSP e Ricardo Yamamoto, aluno do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo, o Instituto de Radiologia do HCFMUSP, InRad, desenvolveu uma tecnologia que permitirá que, com uma câmera com detector infravermelho, a respiração de pacientes com câncer de mama, passando por radioterapia, seja monitorada. Dessa forma, será possível ampliar a proteção do coração e da artéria coronária, que muitas vezes podem ser atingidos durante o tratamento. O dispositivo foi validado clinicamente com um estudo desenvolvido no InRad, liderado por Silvia R. Stuart, médica assistente do Serviço de Radioterapia do InRad.
Heloisa Carvalho, médica e coordenadora do serviço de radioterapia do InRad, explica a técnica e a importância do projeto. “Existe uma técnica em radioterapia conhecida como parada na inspiração profunda (“Deep Inspiration Breath Hold” – DIBH), que pode poupar o coração de toxicidades, principalmente no tratamento de neoplasias da mama do lado esquerdo. Já existem no mercado tecnologias que controlam a respiração e monitoram a amplitude respiratória de cada paciente, porém são caras, específicas para os equipamentos de radioterapia de cada fabricante e nem todos têm acesso. Pensando então, na ampliação do acesso e em como podemos agregar valor aos atendimentos prestados no InRad, desenvolvemos um sistema simples e versátil, com precisão submilimétrica”.
No futuro, o controle respiratório também poderá ser utilizado para tratamento de cânceres pulmonares iniciais e outros tumores onde o controle da movimentação respiratória pode ajudar a minimizar as margens de segurança e proteger melhor os tecidos normais.
O impacto da tecnologia para o bem-estar do paciente
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões. Para o ano de 2022 foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres.
Apesar das altas taxas de incidência, quando detectado de forma precoce, o câncer de mama tem um alto potencial de cura. “A radioterapia tem papel importante no tratamento do câncer de mama, tanto no controle local como em sobrevida. Os avanços tecnológicos contribuem para reduzir os efeitos colaterais do tratamento e o dispositivo vem para agregar, evitando eventos cardíacos tardios, como infarto, depois de anos da radioterapia. Outras opções de tratamento, como a quimioterapia e a imunoterapia para o câncer de mama também podem ser cardiotóxicas e a presença de fatores como doenças cardíacas prévias, tabagismo e dislipidemia aumentam o risco cardíaco. Pacientes com esse perfil podem ser ainda mais beneficiadas com a tecnologia” – explica Heloisa Carvalho