Centros de referência driblam dificuldades
27/10/2014 - por Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

Em contraste com 95% do serviço público de saúde no país que funciona aquém das necessidades da população, centros de excelência como Hospital das Clínicas, Instituto do Câncer, Instituto do Coração e Hospital São Paulo são referências no tratamento de complexidades, com bom nível de atendimento médico e de equipes de enfermagem, equipamentos de ponta e medicamentos distribuídos gratuitamente.

O problema é a dificuldade para fazer parte do seleto cadastro de atendimento nesses hospitais. Alguns chegam a esperar na fila por dois anos, conforme a doença, e se recusam a acessar outros hospitais. Isso porque, seguindo a lógica do sistema, somente casos de alta complexidade deveriam ser encaminhados aos hospitais-escola. Como são ligados a universidades públicas de ensino, esses centros não são só hospitais, mas também formadores de profissionais da saúde. E isso faz a diferença.

Apesar da dificuldade financeira em que muitos se encontram, os centros de referência ganham em qualidade se comparados a muitos hospitais privados e a história pessoal de alguns médicos ajudam a contar como isso é possível. É o caso do professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), doutor Dário Birolini.

Aposentado do Hospital das Clínicas, dedicou 50 anos de trabalho ao Instituto Central, de onde saiu como professor do Centro de Cirurgia Geral e do Trauma. Birolini defende que só com boa formação médica e comprometimento profissional é possível prestar um atendimento de qualidade no serviço público. "Enquanto estive no HC, passava visita todos os dias, às 7 horas da manhã, no pronto socorro. O PS é um atendimento que te faz amadurecer do ponto de vista ético e profissional", afirma. Sua história marcou o HC. Em 1964 participou da implantação da primeira unidade de terapia intensiva do país. "Era na sala 4030", lembra. Anos depois, em 1971, ajudou a implantar a UTI do Hospital Sírio Libanês, onde opera até hoje.

Já o diretor do Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP), professor doutor Paulo M. Hoff, foi idealizador do projeto do Icesp, em 2008, e conseguiu transformar um antigo prédio abandonado do Estado em uma das maiores referência no tratamento da doença da América Latina.

Ele defende que procedimentos rigorosos sejam cumpridos para que o serviço como um todo funcione. "Aqui os pacientes são atendidos com hora marcada e o critério de qualidade nos procedimentos é altíssimo. Fazemos avaliação do nível de satisfação do paciente e da eficiência do tratamento proposto", afirma. Mas Hoff, que também é diretor do Centro de Oncologia do Sírio-Libanês, aponta o problema do baixo financiamento da saúde no país como algo que afeta o sistema público como um todo. O professor administra um orçamento de R$ 37 milhões por mês, mantém 3,5 mil funcionários, sendo 450 médicos, e possui 40 mil pacientes em tratamento atualmente. "Recebemos entre 1 mil e 1,2 mil novos casos por mês". Em todo o Estado são diagnosticados cerca de 130 mil casos de câncer por ano. O hospital recebeu certificação de excelência da organização não-governamental americana Joint Commission International, com nota 9,8. "Atender no serviço público tem recompensas que não são financeiras", diz.

Com 350 artigos publicados em revistas científicas e 20 livros de sua autoria, o diretor da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas, professor doutor Giovanni Guido Cerri viveu momentos decisivos e de mudanças de paradigmas dentro do hospital. Faz questão de enfatizar que as UTIs do complexo HC, apesar de disporem de tecnologias sofisticadas, hoje são muito mais humanizadas e possibilitam a presença das famílias, oferecendo maior conforto a todos. "Se transformou em quase um quarto de hospital. E isso faz diferença. O essencial para o bom atendimento são as pessoas serem bem-cuidadas", defende.

Para ele, os profissionais da saúde têm que ter boa formação, experiência, plano de carreira e perspectivas de trabalho. Para não perder as pessoas que forma ali, o HC fez convênio com a Fundação Zerbini para complementar os salários de professores e médicos.



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