Especialistas alertam para o impacto das mudanças climáticas na saúde
29/08/2022

Temperaturas extremas, inundações e deslizamentos, secas prolongadas, poluição. Os impactos das mudanças climáticas são visíveis em todo o planeta e representam, hoje, a maior ameaça à vida humana. O alerta foi feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em relatório divulgado em 2021, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-26), em Glasgow, e ainda em meio à pandemia de covid-19.

Segundo a organização, a expectativa é que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas serão responsáveis por cerca de 250 mil mortes por ano, com causas que vão de desnutrição a doenças como malária.

O cenário evidencia a urgência na mobilização de governos e empresas no combate às severas alterações no clima como uma emergência sanitária. Uma das respostas é a adoção de práticas ESG (sigla em inglês para ambiente, social e governança) que enderecem o "S" também como "saúde", como já faz o Hospital Israelita Albert Einstein.

“O relatório foi claro: a mudança climática é a maior ameaça à saúde da humanidade”, destacou Guilherme Schettino, pneumologista e diretor superintendente do Instituto Israelita de Responsabilidade Social (IIRS) do Einstein, durante participação em painel do EXAME ESG Summit 2022. “E vale lembrar que isso foi dito durante a pandemia, o que reforça a importância desse tema quando falamos da saúde da população.”

 

Os efeitos de eventos climáticos extremos para a saúde podem ser diretos, com impactos físicos e psicológicos, ou indiretos, quando alteram a qualidade da água e do ar, afetam a produção de alimentos ou ecossistemas, e contribuem para a proliferação de vetores de doenças.

As populações mais vulneráveis são as mais afetadas. Por isso, não há como dissociar os debates sobre ações em saúde e na área social feitos por governos, empresas e outras organizações. No caso do Einstein, que faz a gestão de dois hospitais públicos em São Paulo e um em Goiânia, além de várias unidades públicas na capital paulista, a atuação junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) permite contribuir com o acesso a atendimento de saúde de qualidade.

“No Einstein atuamos tanto no SUS quanto na saúde suplementar. E nós estamos, dentro desse movimento ESG, elegendo a saúde como um dos domínios do ‘S’ de social", afirmou Schettino.

Para Luciana Coen, diretora de comunicação integrada e responsabilidade social corporativa da SAP, “dentro do ‘S’ de social certamente está o fator saúde, em todos os seus aspectos”, incluindo a saúde mental. “E essa agenda ESG é uma agenda do setor privado, do setor público e de cada um de nós como cidadãos, que precisam atuar em conjunto”, disse Luciana, no mesmo painel.

Operações em risco

Além dos efeitos sobre os indivíduos, o sistema de saúde é também fortemente afetado pelos eventos climáticos extremos, o que gera ainda mais preocupação entre quem é responsável por cuidar da população. “Quando ocorre uma chuva muito forte, com deslizamentos, ou com grandes enchentes, isso tem um impacto para o sistema de saúde. Dificulta, por exemplo, o acesso dos pacientes e colaboradores à unidade de saúde, pode haver corte de energia, desabastecimento. O oxigênio que eu preciso para operação dos hospitais pode não ser reposto”, observou Schettino.

 

O médico lembrou que, em tempestades de grandes proporções, como o Katrina e o Sandy, nos Estados Unidos, e o furacão Maria, em Porto Rico, a operação do sistema de saúde foi duramente afetada, o que deixou a população sem atendimento justamente em um momento de grande necessidade. "Quando houve o Katrina, em Nova Orleans, o sistema de saúde parou de funcionar", lembrou, ressaltando que, após esse tipo de evento, o sistema fica desestruturado por um tempo prolongado.

"Em casos como estes, o cuidado pode ficar prejudicado até seis meses depois de um evento climático importante. E a população que é vulnerável e tem mais dificuldade de acesso ao sistema de saúde é a que mais sofre com a desestruturação."

Ações preventivas

Estima-se que, em todo o mundo, os sistemas de saúde sejam responsáveis por 5% das emissões de gases de efeito estufa. "Se pensarmos que quase 10% do PIB está relacionado à saúde, proporcionalmente, o sistema de saúde gera pouco gás de efeito estufa. Mas 5% é bastante, e o setor tem de buscar a sua redução", afirmou Schettino.

O Einstein trabalha há mais de duas décadas na implantação de ações para tornar suas operações mais sustentáveis, com a adoção do Plano Diretor de Sustentabilidade. No ano passado, o hospital aderiu ao Programa Mundial Race to Zero, da ONU, comprometendo-se a reduzir em ao menos 50% as suas emissões de gases de efeito estufa até 2030 e a zerá-las até 2050.

Os esforços do Einstein se dão ainda em várias frentes, como na redução do consumo de água e energia, no uso de energias renováveis e no tratamento do lixo hospitalar. “Estamos sempre buscando entender como as mudanças climáticas podem afetar a saúde dos usuários do nosso sistema de saúde, sejam eles do Sistema Único de Saúde, sejam da saúde suplementar, bem como nossos colaboradores e seus dependentes e a população que mora em torno de nossas unidades”, afirmou Schettino.

Telemedicina: mais saúde com menos impacto

Como outras áreas, a saúde também, por meio da tecnologia, tem se tornado mais sustentável. A telemedicina, adotada no Einstein há dez anos, acabou ganhando mais força na pandemia. “A telessaúde me permite fazer o acompanhamento dos pacientes sem a necessidade, por exemplo, de deslocamento deles e do profissional até o hospital. Com isso, eu economizo a queima de combustível fóssil no deslocamento de pessoas, além de precisar de menos espaço físico com iluminação e de climatização", explicou Schettino.

Durante a pandemia, o Einstein adotou a telemedicina para levar atendimento a pacientes não só com sintomas de covid-19 mas também àqueles com ansiedade e depressão – incluindo os seus colaboradores.

“Existe hoje um conhecimento grande sobre o impacto de ondas de calor e picos de poluição no aumento da incidência de ansiedade, depressão, comportamento violento e suicídio na população”, observou. "A telessaúde tem sido muito útil no acompanhamento de pacientes com doença mental ou em risco de desenvolvê-la. É uma solução tecnológica que tem mostrado seu potencial, e a gente acredita muito no seu futuro."

Fonte: Exame




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