Em meio ao baixo dinamismo da indústria brasileira em 2014, o desempenho dos fabricantes de medicamentos é uma exceção. A estimativa do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma) é de um crescimento entre 14% e 15% de faturamento no ano. Confirmada a expectativa, as vendas no varejo devem alcançar R$ 66,3 bilhões no ano. A essa receita ainda é preciso acrescentar R$ 15 bilhões em vendas institucionais, para governos e o mercado hospitalar. Para 2015, o sindicato projeta uma expansão de faturamento entre 12% e 13%.
Mantida a conjuntura atual, a perspectiva dos fabricantes é que o Brasil ultrapasse França e Alemanha, se posicionando como o quarto maior mercado farmacêutico do mundo em 2017, atrás apenas de EUA, China e Japão. Há apenas quatro anos, o Brasil ocupava a 10ª posição no ranking global, mas um crescimento constante nas vendas acima de 10% ao ano levou o país ao atual 6º posto.
"O bom desempenho reflete o ganho de poder aquisitivo da população de baixa e média renda nos últimos anos", diz Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma. O aumento do emprego formal, lembra Mussolini, impulsiona o mercado de planos e seguros de saúde, que passou de 41,5 milhões de clientes em 2008 para 50,3 milhões em 2013. Mais acesso a consultas médicas e tratamentos, gera mais receitas para a indústria farmacêutica.
Ainda há outros fatores impulsionando o crescimento do setor. Adib Jacob, presidente da subsidiária brasileira da Novartis, diz que o aumento da demanda também é consequência de uma mudança no perfil epidemiológico da população, resultado do aumento médio do tempo de vida, tornando mais comum a incidência de doenças mais frequentes entre a população mais idosa, como o câncer, e também do aumento da população urbana, tradicionalmente mais sedentária e propensa a doenças respiratórias, hipertensão, cardiopatias e diabetes.
Por outro lado, diz Jacob, a inovação impulsiona negócios, com a oferta de medicamentos mais eficazes ou que tratam de classes de doenças para as quais anteriormente não havia produtos.
Para Mario Levada, diretor de desenvolvimento de negócios da Pfizer, a oferta de produtos genéricos, mais baratos e, portanto, mais acessíveis aos consumidores, também estimula o setor. Enquanto as vendas de produtos de referência crescem 8% a 9% ao ano, os genéricos avançam 22%. Essa dinâmica levou grupos internacionais a desenvolver estratégias para o mercado, como a Pfizer, que se associou ao laboratório Teuto em 2010, com o objetivo de aproveitar oportunidades no segmento.
O crescimento robusto do mercado brasileiro de medicamentos não deve gerar uma onda equivalente de investimentos em expansão da capacidade produtiva. Nelson Mussolini, do Sindusfarma, relata que o setor convive com um excesso de capacidade produtiva ociosa, na casa dos 30%. "Há muita margem para expansão da produção, como o estabelecimento de novos turnos de trabalho."
Mussolini diz ainda que o alto custo de produção no Brasil, gerado pela deficiência logística, alta carga tributária e o preço da energia, também atravanca os investimentos. O resultado é uma balança comercial cada vez mais deficitária, com importações de US$ 7,4 bilhões em 2013 e exportações de US$ 1,52 bilhão.
As queixas das empresas incluem o controle governamental dos preços estabelecido em 2004. Levantamento realizado pelo Sindusfarma indica que entre 2006 e 2013, os reajustes autorizados dos medicamentos somou 35,76%, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) evoluiu 49,13% e os reajustes de salário do setor somou 67,77%.
Na Novartis, Adib Jacob avalia que não serão necessários investimentos na expansão da capacidade produtiva nos próximos cinco anos, mesmo diante da expectativa da empresa de crescer 15% em 2014 e manter uma expansão acima da média do mercado nos próximos anos. A produção local, realizada em quatro fábricas, responde por 30% dos negócios da companhia no país. "Investimos 20% de nosso faturamento em P&D", diz.
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