Nos últimos anos, os avanços da tecnologia na área da saúde foram responsáveis por uma grande revolução em termos de diagnóstico, tratamento e recuperação dos pacientes. Soluções inovadoras como as desenvolvidas pela biologia molecular, de alta precisão e respostas rápidas, têm sido determinantes para preservar milhões de vidas, auxiliando no combate de doenças consideradas verdadeiras preocupações globais, como foi o caso da recente pandemia, que ainda lutamos para superar, e de contaminações que já dão indícios de emergência global, como a varíola dos macacos (monkeypox). Entre novos testes e equipamentos de última geração, tais contribuições, cuja importância permite considerá-las como tecnologias do futuro, têm sido cruciais para atingirmos o patamar de erradicação de algumas enfermidades, conforme estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
A exemplo disso, a tuberculose, uma doença que há séculos assola a humanidade e segue, silenciosamente, infectando anualmente mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Como resposta para transmutar este cenário, entre as soluções desenvolvidas pela biologia molecular estão os testes IGRA, ou ensaio de liberação de Interferon-gama.
O método está entre os mais precisos, analisados e recomendados pela OMS para identificar a tuberculose em sua fase latente (ILTB), quando ainda não apresenta sintomas. Trata-se de um teste sensível, específico e objetivo, realizado com uma pequena amostra de sangue e que requer apenas uma visita ao médico, sendo capaz de fornecer uma resposta mais rápida e descomplicada. Uma tecnologia que tem auxiliado no rastreamento da população de risco, permitindo o diagnóstico e tratamento precoce da tuberculose, fatores essenciais para o sucesso da recuperação dos pacientes e erradicação da doença a médio prazo.
Mais recentemente, essa mesma tecnologia recebeu um aporte de inovação e passou a ser apresentada também por meio de soluções de testes rápidos de alta performance, o que viabiliza a realização dos exames em localidades que apresentam alta carga de contaminação, com poucos recursos para o combate da doença e a necessidade da testagem descentralizada, muitas vezes, sem infraestrutura laboratorial. Um grande passo para não deixar ninguém para trás ao enfrentar uma doença mortal como a tuberculose, que é cruel, porém evitável. Com esta nova forma inovadora de detectar a ILTB, podemos ajudar a prevenir que pacientes, especialmente aqueles em países de alta carga de TB como o nosso, desenvolvam a forma ativa da tuberculose.
Diante do presente cenário de infecções respiratórias, que apresentaram um crescimento exponencial nos últimos meses de outono e inverno, novas tecnologias como os testes sindrômicos, foram essenciais na precisão dos diagnósticos; uma esperança ao gerenciamento efetivo deste quadro de saúde pública. Ao identificar, simultaneamente, diversos vírus e bactérias que podem estar agindo sobre o sistema imunológico do paciente, os testes sindrômicos ajudam a reduzir consideravelmente a administração de antibióticos e internações desnecessárias, além da janela de tempo destas pessoas nos hospitais.
Falando sobre o futuro dos diagnósticos de câncer, os testes genéticos, como por exemplo, a PCR em tempo real e o sequenciamento de nova geração lideram as inovações da biologia molecular, permitindo identificar pré-disposições a formação de tumores ou direcionar tratamentos personalizados para quadros metastáticos da doença. Os testes genéticos são exames preditivos, que devido à sua alta acuracidade permitem que pessoas com histórico familiar de câncer ou que já tenham tido câncer anteriormente, detectem mutações genéticas que poderão levar ao surgimento de novos tumores. Soluções que direcionam para um acompanhamento maior do paciente, adoção de medidas profiláticas e tratamentos precoces, fatores determinantes para o sucesso no combate a essas doenças. Em outros casos, quando o câncer já se encontra em níveis avançados, os testes genéticos permitem identificar mutações tumorais, que tão logo detectados, já podem ser contornados a partir da combinação de medicamentos, inibidores das proteínas responsáveis pela progressão da doença.
A grande verdade é que assim como as pesquisas tecnológicas seguem seu curso, os estudos científicos igualmente evoluem. Desde o momento que essas duas frentes tiveram seu ponto de convergência, os ganhos à saúde e a preservação de milhões de vidas têm sido notórios. Com tantos avanços, podemos dizer, com segurança, que a biologia molecular de hoje já nos faz viver no futuro, com benefícios visíveis à população e a todo o sistema de saúde do país.
Paulo Gropp é vice-presidente da QIAGEN, na América Latina.