A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou neste sábado que declarou o surto de varíola dos macacos em mais de 70 países como uma situação extraordinária e que pode ser classificada oficialmente como uma emergência global. O anúncio pode garantir maiores investimentos para a outrora rara doença e aumentar a corrida por vacinas. 

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, mais de 16 mil casos de varíola de macaco foram notificados em 74 países desde maio. No momento, mortes só foram anunciadas na África, com uma cepa mais perigosa do vírus em circulação na Nigéria e no Congo. 

 

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus tomou a decisão de classificar o surto como emergência global mesmo sem um consenso entre os membros do comitê. É a primeira vez que o chefe da agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) toma essa decisão. 

“De forma resumida, temos um surto que se espalhou rapidamente pelo país em novos meios de transmissão que pouco entendemos e que atendem aos critérios de classificação internacional de saúde”, disse Adhanom, em coletiva realizada na sede da OMS. 

“Eu sei que esse não foi um processo fácil ou de fácil decisão e que há visões divergentes entre os nossos membros [do comitê]”, completou. 

Apesar de a varíola do macaco ter se estabelecido em partes da África por décadas, não haviam sido detectados grandes surtos fora do continente até o início deste ano, quando autoridades identificaram dezenas de casos na Europa, América do Norte e em outros lugares do mundo. 

A declaração de emergência global significa que o surto de varíola de macaco é um “evento extraordinário” que pode se espalhar para outros países e necessita de uma resposta global. 

A OMS anteriormente declarou como emergências a pandemia de covid-19 em 2020, o surto de ebola na África em 2014, o vírus zika na América Latina em 2016 e o esforço para erradicar a pólio. 

 

O anúncio serve mais como um pedido para amealhar maior atenção e recursos globais no combate ao surto. Declarações de emergência anteriores feitos pela OMS tiveram impactos diversos, uma vez que a agência da ONU não tem poder de interferência nas políticas de saúde dos países. 

No mês passado, um comitê de especialistas da OMS disse que o surto global de varíola dos macacos não tinha peso para ser classificado como emergência global, mas o painel se reuniu de novo nesta semana para reavaliar a situação. 

A principal especialista da OMS em varíola dos macacos, Rosamund Lewis, disse nesta semana que 99% dos casos fora da África são em homens e que, nesses, 98% são de homens envolvidos em relações sexuais com outros homens. Médicos suspeitam que os surtos na Europa e na América do Norte foram espalhados em festas na Bélgica e Espanha.