O número de casos de monkeypox (varíola dos macacos) no Brasil provavelmente já está bem superior ao que apontam os dados do Ministério da Saúde. Para Rosana Richtmann, infectologista do Hospital Emilio Ribas, na cidade de São Paulo, o total de 449 casos confirmados até o último dia 19 em todo o país – 312 deles somente no estado paulista – é apenas a “ponta do Iceberg”).
“Nosso pronto-socorro tem bastante pacientes aguardando para a coleta de material. A sensação é que estamos vendo apenas uma parte da população infectada”, disse Rosana, alertando que a perspectiva é que as contaminações comecem a ser cada vez mais diagnosticadas fora do grupo de homens homossexuais, que inicialmente estiveram mais expostos.
“Precisamos ser mais claros na nossa comunicação tanto para a população quanto para os médicos. Um profissional no interior hoje, por exemplo, precisa estar informado sobre o que precisa coletar, como vai confirmar o diagnóstico e como reportar. Esse fluxo preciso ser melhorado e espero que o governo atue nisso rapidamente”.
Quando os primeiros casos foram confirmados no Brasil, o Ministério da Saúde criou uma “sala de situação” em que laboratórios e institutos ajudaram a identificar casos e direcionar ações de vigilância e a investigação epidemiológica no país. No entanto, a sala foi descontinuada após 50 dias de trabalho. Procurado pelo Valor, o Ministério confirmação a descontinuação, mas não explicou o motivo e nem informou qual iniciativa está em andamento para fazer o acompanhamento adequado e a coordenação do combate à doença.
A epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo Ethel Maciel informa que o Ministério criou um comitê permanente que está sendo assessorado por infectologistas, inclusive ela, para acompanhar a evolução da doença no Brasil e propor ações de combate à doença. Contudo, ele pede que as recomendações sejam colocadas em prática com mais agilidade pelo governo.
“A situação é preocupante. Na semana passada, tínhamos 350 casos confirmados e agora já passa de 400. A transmissão está acontecendo de forma acelerada e exponencial”, diz Ethel, ressaltando que acredita que a OMS vai declarar o estado de emergência relacionado a monkeypox nesta quinta-feira. “Uma série de ações precisa ser tomada imediatamente, principalmente em relação à comunicação”. Paea ela, uma campanha de larga escala precisa feita tanto para o grupo de homens que fazem sexo com outros homens quanto para o restante da população. “Já temos casos inclusive entre crianças e adolescentes. A luz que estava amarela, já ficou vermelha”.
As especialistas destacam que, embora a doença cause número elevado de mortes, ela pode ser perigosa para mulheres grávidas, pessoas que passaram por transplante e imunossuprimidos, que são aqueles com sistema imunológico menos eficiente, como idosos, por exemplo.
“A situação se torna preocupante pela progressão do número de casos. A transmissão se dá principalmente pelas lesões que as doenças causam no corpo, mas roupas também podem ser uma forma de contágio. O isolamento dos contaminados e as precauções precisam ser exercidas porque o risco de contágio por contato próximo, não necessariamente sexual, é grande”, explica o virologista Marcelo Daher, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).