“A saída não é restringir a importação, mas aproveitar melhor a base produtiva já instalada e concentrar aqui a geração de valor”, defende Reginaldo Arcuri, presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, que representa a indústria farmacêutica brasileira que atua em pesquisa, desenvolvimento e inovação e assina o documento.
De janeiro a maio, segundo levantamento da entidade, as compras externas de medicamentos cresceram 35% em comparação às médias de 2020 e 2021, alcançando US$ 4,29 bilhões em valores absolutos neste ano. Frente aos anos anteriores (2015 a 2019), o salto é mais expressivo, de 56%.
É preciso ponderar que a covid-19 elevou os números mais recentes de compras externas. Nos dois primeiros anos de pandemia, as importações de medicamentos cresceram 15% ante a média dos cinco anos anteriores.
Ainda assim, há espaço para que mais medicamentos e vacinas sejam produzidos por aqui, se houver maior interlocução entre governo e indústria e políticas públicas que incentivem a produção da indústria aqui instalada.
Conforme Arcuri, o Brasil já conta com base produtiva sólida como ponto de partida. Do lado do governo, há condições estruturais, que estão dadas mas precisam ser aprimoradas. Além disso, o país tem um grande mercado, representado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e estrutura de produção científica.
“O Brasil pode acelerar a chance de ter um novo setor econômico de qualidade mundial, mas é preciso mais coordenação entre setor privado e as estruturas de Estado”, ressalta o executivo.
Em sua avaliação, as estatísticas deixam claro que a tendência é de crescimento das compras externas de insumos farmacêuticos ativos (IFAs), o que já era sabido, mas também de medicamentos prontos considerados estratégicos. Outrora um grande produtor de matérias-primas, o Brasil hoje importa 95% do IFA usado na produção nacional de remédios.
O levantamento do Grupo FarmaBrasil mostra que, neste ano, o crescimento das importações de medicamentos foi puxado pelo aumento de 41% na compra de produtos biotecnológicos na comparação com a média do período da pandemia, e de 110% em relação à média de 2015 a 2019.
No caso dos farmoquímicos (IFAs), o crescimento neste ano foi de 23% frente ao período da pandemia e de 59% na comparação com a média verificada nos cinco anos anteriores.
Conforme o estudo, 54,8% dos medicamentos importados pelo Brasil, entre janeiro e maio, vieram de cinco países: Bélgica (US$ 684 milhões), Estados Unidos (US$ 528 milhões), Alemanha (US$ 479 milhões), Suíça (US$ 348 milhões) e China (US$ 310 milhões).
Neste momento, destaca Arcuri, a indústria farmacêutica nacional está debruçada sobre esses dados para avaliar quais medicamentos podem e devem ser produzidos localmente, e levar essas proposições ao governo.