A importância da cirurgia ambulatorial para a sustentabilidade dos sistemas de saúde no Brasil e porque você deve olhar para isto.
24/06/2022

O conceito vai muito além da realização de pequenos procedimentos, para um grupo restrito de paciente elegíveis, fora de um hospital geral. Cirurgia ambulatorial é uma estratégia de cuidado multidisciplinar e que tem o paciente como foco das atenções, em busca de maior segurança, melhor resultado, excelente experiência, conveniência e com custo mais competitivo. Para atingir estes objetivos, são utilizadas unidades ambulatoriais repletas de recursos, cuidadosamente desenvolvidas, desde o projeto arquitetônico, passando por equipamentos de última geração e equipes multidisciplinares especializadas, com treinamento e foco em cirurgia ambulatorial.

Segundo Newton Quadros, vice-presidente de mercado da SOBRACAM, autor do livro Hospital Dia: Uma modelo sustentável: “Faz-se necessária a busca de alternativas viáveis, que assegurem a sustentabilidade do sistema de saúde público e privado. Uma dessas soluções tem sido a utilização de hospitais dia, voltados para a realização de procedimentos cirúrgicos eletivos e seletivos, com previsão de internação de até 24 horas, seguindo uma tendência mundial de desospitalização”.

Ainda segundo Quadros, “Além da racionalização dos custos, esses serviços diminuem o tempo de internação e oferecem menor risco de infecção hospitalar. O desenvolvimento da cirurgia ambulatorial ao redor do mundo está amparado em razões médicas, psicológicas e econômicas, com a criação de unidades específicas, que contam com centro cirúrgico isolado, circulação independente, separada funcional e administrativamente do hospital geral”.

Dentro desse prisma, evita-se a espera e a burocracia das internações, a disputa para a utilização de salas cirúrgicas e leitos hospitalares nos chamados horários nobres e agrega-se a vantagem de proporcionar um ambiente mais humanizado e acolhedor, com menor trauma emocional, risco de infecção e redução geral de custos do tratamento. Quadros completa, dizendo que: “a cirurgia ambulatorial não só é mais custo efetiva, como também apresenta resultados clínicos e segurança comparáveis aos da cirurgia hospitalar, com as vantagens da recuperação pós-operatória em âmbito domiciliar”.

As capacidades de unidades de cirurgia ambulatorial são bastante amplas, permitindo a realização de uma grande gama de procedimentos, das mais variadas especialidades. De acordo com o Dr. Fábio Alves Soares - médico coloproctologista e vice-presidente cirurgião da SOBRACAM - até cerca de 80% de todos os procedimentos atualmente realizados em centros cirúrgicos de hospitais gerais poderiam ser realizados com vantagens em um centro cirúrgico ambulatorial, mesmo fora de um hospital. Logo, o conceito de cirurgia ambulatorial está fortemente ligado ao de desospitalização”.

Conforme o Dr. Fábio Soares, “É cada vez mais urgente equilibrar melhores desfechos clínicos, menores riscos, custos mais baixos e maior segurança, com a conveniência e o conforto de uma recuperação assistida, no domicílio do paciente. Portanto, cirurgia ambulatorial se faz em ambientes cirúrgicos regulamentados, seguros, adequadamente equipados, com tecnologia e equipamentos de última geração e com equipes multidisciplinares dedicadas especificamente aos pacientes ambulatoriais e suas necessidades".

Dados publicados no relatório da Deloitte, referentes ao mercado dos Estados Unidos, mostram que as receitas hospitalares de internação já estão migrando em alta intensidade do ambiente de internação para as unidades ambulatoriais. Como mostrado no gráfico abaixo, o valor quase dobrou de 1994 até 2016. 

 

No Brasil, ainda estamos dando os primeiros passos no desenvolvimento de novas unidades e equipes multidisciplinares, dedicadas à cirurgia ambulatorial. Há uma necessidade de entendimento mais amplo do tema, para além do conceito de algo limitado, simples ou rudimentar. Como vimos anteriormente, a cirurgia ambulatorial é uma importante ferramenta para o aumento da capacidade operacional de salas cirúrgicas e leitos de internação nos hospitais gerais, ampliando a oferta deste tipo de assistência, com foco nos 20% dos casos que, necessariamente, precisam ser realizados em uma unidade hospitalar geral. Muitas vezes, isto ocorre por fatores como a alta complexidade do procedimento, associado às condições específicas de saúde do paciente, em geral com diversas comorbidades, não permitindo que seu tratamento seja realizado em ambiente ambulatorial.

As vantagens das unidades de cirurgia ambulatorial para os sistemas de saúde público e privados são evidentes. Quando consideramos a possibilidade de redução de filas de espera e um atendimento mais rápido, para condições críticas de saúde, em hospitais gerais, proporcionado pela existência das unidades cirúrgicas ambulatoriais, com uma melhor relação de custo, observamos que estas unidades podem desempenhar um papel fundamental no equilíbrio da oferta e demanda por procedimentos cirúrgicos no Brasil, funcionando como uma válvula de escape para até 80% dos procedimentos eletivos, abrindo espaço para realização de um maior número de casos específicos em hospitais gerais. Ainda nesta linha, as unidades ambulatoriais também podem contribuir bastante para redução das filas de espera e casos represados nos últimos anos, em função da pandemia do COVID-19.

Neste período, segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), as restrições de acesso aos hospitais gerais, as medidas de contingenciamento de leitos nestes hospitais, para tratamento de casos de COVID-19, e o medo dos pacientes em procurar unidades hospitalares gerais, provocaram uma queda de 27 milhões de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos no SUS.

 

A estrutura convencional de uma unidade de cirurgia ambulatorial é focada no atendimento de uma grande gama de casos eletivos, não possuindo em seu escopo assistencial alas e leitos dedicados ao tratamento de pacientes infectocontagiosos, incluindo COVID-19. Em países onde unidades deste tipo estão disponíveis em maior escala, o impacto nos procedimentos eletivos foi menor, uma vez que a elevada ocupação dos leitos dos hospitais gerais, culminou na interrupção da realização de casos eletivos nestes hospitais, além disso, por serem centros de tratamento de pacientes com COVID-19, muitos pacientes que precisavam de atendimento eletivo, para outras condições de saúde, evitaram ao máximo as visitas à hospitais gerais, agravando ainda mais a situação.

Com um risco significativamente menor de admissão de pacientes com COVID-19 e a inexistência de alas de tratamento deste tipo de paciente (sendo assistidos em unidades hospitalares convencionais, como um hospital geral), as unidades cirúrgicas ambulatoriais se mostraram grandes aliadas dos sistemas de saúde locais, para mitigar parcialmente este problema.

A expansão da cirurgia ambulatorial no Brasil irá se beneficiar da necessidade de um modelo que, apresente custos mais competitivos, segurança e uma melhor experiência geral para o paciente, resultados clínicos otimizados e a redução dos investimentos na estruturação de novas unidades. Conforme a tecnologia e a medicina avançam, mais e mais procedimentos poderão ser realizados em unidades ambulatoriais, o que também irá contribuir muito para a migração de grande parte do volume cirúrgico, para este tipo de estrutura assistencial.

Sairão na frente aqueles que estiverem melhor preparados, para aproveitar as oportunidades disponíveis no campo da cirurgia ambulatorial e surfar a onda, deste caminho sem volta, no Brasil. 

 





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