Na prática, no primeiro trimestre deste ano, 596 pessoas foram transplantadas no Brasil. O número só não é menor do que as 577 doações registradas nos três primeiros meses de 2021, momento que o país tinha uma onda de contaminações por Covid-19 e a taxa de vacinação contra o vírus era menor do que 20%, segundo dados do Ministério da Saúde. No primeiro trimestre de 2019, ano anterior à crise sanitária, o número de transplantes se aproximou de 760.
De acordo com os membros da ABTO, o resultado é uma “decepção”, em virtude da melhora no cenário epidemiológico brasileiro. O relatório do primeiro trimestre deste ano aponta uma diminuição na taxa de doadores de todos os tipos de órgãos, frente à média do ano passado.
O índice de doadores teve maior queda nos seguintes órgãos no período: transplantes de rim (13,8%), fígado (11,5%), coração (12,5%), pulmão (25%), pâncreas (37,5%), córneas (7,1%) e células hematopoiéticas (12,2%).
“Neste primeiro trimestre de 2022, em que quase toda a população adulta está vacinada e as novas variantes da Covid-19, embora mais infectantes, são muito menos agressivas e, portanto, o país está retornando à “normalidade”, as taxas de doação e transplante, para nossa surpresa e decepção, continuam caindo”, destaca Valter Duro Garcia, membro da associação de órgãos.
Como reflexo da baixa taxa de doação, a fila de espera por transplantes é a maior em pelo menos 12 meses. Atualmente, segundo o relatório, 49,3 mil pessoas estão na lista por um órgão. No mesmo período de 2021, eram 44,3 mil pacientes.
A diretora da ABTO e chefe-geral de transplante de fígado da Unicamp, Ilka Boin, disse à CNN que os números podem piorar ainda mais, caso as contaminações por Covid-19 voltem a subir nos próximos meses. Para ela, a queda na taxa de doação nos primeiros meses deste ano está mais atrelada a questões emocionais provocadas pela pandemia e à disseminação da Covid-19.
“Se a Covid-19 voltar a piorar muito, vamos sim ver uma queda expressiva novamente no Brasil, por isso precisamos incentivar todo mundo a se vacinar. Mas, eu acredito que o baixo desempenho do início do ano está mais atrelado com a questão emocional e não ao coronavírus. O emocional de todos ficou mexido depois da pandemia, têm pessoas e famílias que não estão querendo doar, um número menor do que a média que estávamos acostumados”, explicou Ilka.