Estresse, sedentarismo e má alimentação...
29/09/2014 - por Por Edson Valente | De São Paulo

Há cerca de cinco anos, o começo da trajetória de uma empresa de serviços de TI, a Hystalo, quase custou a vida de seu fundador, o analista de processamento de dados Rafael Rodrigues, então com 25 anos de idade. Sua rotina de dedicação ao negócio incluia jornadas de 20 horas diárias de trabalho, inclusive aos sábados, regadas a quatro latas de energético.

Em uma noite de quinta para sexta-feira, acordou vomitando sangue. Pediu para que sua noiva - hoje mulher - o levasse ao hospital logo pela manhã. "A partir daí, não me lembro muito bem das coisas", afirma. Mas sabe que, devido ao infarto, foram três paradas cardíacas e sete dias em coma. Quando acordou, na UTI, em um primeiro momento, imaginou que havia sofrido um acidente de carro, porque "sempre corria bastante".

A volta às tarefas profissionais também foi veloz. "Quando fui para o quarto, peguei o notebook e comecei a responder aos e-mails", diz. Cerca de 15 dias depois já estava no escritório, mas mudou alguns de seus hábitos: cortou o energético, reduziu o número de horas de trabalho, passou a tentar dormir melhor e arrumou um sócio para dividir responsabilidades.

Mesmo assim, não foi suficiente. Há quatro meses, aos 30 anos, o executivo sofreu o segundo infarto, que classifica como "leve". "Senti um pouco de dor no peito e corri para o hospital. Se não fosse o primeiro infarto, não teria ido." Nessa nova ocorrência, descobriu que seu sangue coagula mais rápido que o normal, o que favorece o surgimento de problemas como os que enfrentou.

Rodrigues obteve alta em uma sexta-feira e, na terça-feira seguinte, foi para a empresa - a despeito de a médica ter recomendado um mês de repouso. No combate ao estresse, o empreendedor, que diz se alimentar bem e não fumar, tem dividido obrigações do negócio com a mulher, que também entrou como sócia na Hystalo, e reservado mais tempo para ficar com o filho de um ano e meio. "Hoje, limito o expediente entre 12 e 14 horas por dia e não viro noites."

A história ilustra bem como anda a saúde de muitos gestores brasileiros. O estresse é um dos principais males que afetam esses profissionais, de acordo com um levantamento realizado pela operadora de saúde Omint no primeiro semestre deste ano com 22 mil executivos em cargos de média e alta gerências.

Dos 20 problemas mais comuns listados, 11 se relacionam a ele e a hábitos de vida inadequados - além da ansiedade, citada por 18% das pessoas consultadas, aparecem também excesso de peso, dor de cabeça frequente, insônia e depressão. Rinite e alergia de pele encabeçam a lista (veja o quadro), e mesmo essas moléstias podem estar ligadas ao estresse. "Qualquer desequilíbrio compromete todo o conjunto", diz Caio Soares, diretor médico da Omint e coordenador da pesquisa. "Se a pessoa tem predisposição a alergias, o estresse vai piorar os sintomas, pois ele baixa a imunidade e deixa as portas abertas para tudo de ruim que possa acontecer."

Um dado que chama a atenção é que 94% dos executivos disseram que sua alimentação não é equilibrada. Os sedentários, por sua vez, somaram pouco mais de 40%, mesmo índice dos que tentam adotar alguma atividade física no dia a dia. O nível de estresse foi avaliado como muito alto por 33%. A boa notícia fica por conta da queda do percentual de fumantes - de 18% em 2004 para atuais 11%. "Muita gente está preocupada com a saúde, mas não dá o primeiro passo para sair da situação atual. Qualquer coisa é desculpa para não fazer", afirma Soares.

 

 

A saída da inércia, porém, precisa acontecer de forma gradual. A estratégia, segundo ele, é escolher coisas simples, mais facilmente ao alcance. "Deixar o elevador e subir de escada, por exemplo. Ou eliminar a manteiga e a margarina, o que já diminui em 50% a chance de ter um infarto ou AVC. A partir de uma iniciativa como essa, mudanças positivas no corpo vão gerar um efeito cascata para outras medidas."

Mas nem sempre é fácil para o executivo tomar uma atitude nesse sentido sem um empurrão externo. Para Louis Servizio, da CGP Brasil, empresa de programas de prevenção de saúde, a companhia pode até pagar o plano da academia para o profissional, mas ele não irá frequentá-la se não estiver motivado. Assim, o recomendado é combinar esse tipo de benefício com um serviço de coaching. "Ele o ajudará a reorganizar a vida e a modificar suas crenças para que queira fazer exercício", diz Servizio, que aplica no Brasil uma ferramenta americana - Wellcast ROI - que mede o retorno financeiro de empresas em programas de prevenção de doenças.

Em sua opinião, a padronização desses programas para todos os funcionários costuma ser um erro, pois sua eficácia, em termos de custo-benefício, depende do tipo de empresa, da função do profissional e mesmo da rotatividade média da companhia. "Se ela é alta, não compensa investir em um programa que levará três ou quatro anos para dar retorno, como o de saúde cardiológica", exemplifica. No caso, é melhor apostar em uma vacinação contra influenza, que traz resultado no curto prazo.

Em relação ao trabalho de aconselhamento, uma vertente que tem ganhado corpo no mercado brasileiro é a do coaching de saúde e bem-estar - o chamado "wellness coaching". O foco é atuar na reestruturação do estado emocional e do estilo de vida do executivo, visando a um melhor rendimento em suas atividades. "Uma vez que não podemos mudar questões como o trânsito ao ir para o trabalho e a carga horária, fortalecemos o profissional para enfrentá-las melhor", afirma Melina Cury Haddad, coordenadora de psicologia da operadora de saúde Care Plus.

Uma das abordagens de Melina ao lidar com o estresse é combater ataques de raiva, que, de acordo com estudos em países como os Estados Unidos - o tema é pouco pesquisado no Brasil, segundo a psicóloga -, levam à hipertensão e muitas vezes precedem ataques cardíacos e AVCs.

O tratamento inclui técnicas de relaxamento através da respiração e terapia cognitiva. "Há pessoas, por exemplo, que se enraivecem com mais rapidez e maior intensidade", diz. O problema, no entanto, costuma ser camuflado, pois "aprendemos já na infância que é feio ter esse sentimento". "As pessoas chegam ao consultório em razão do estresse". Ela diz considerar um erro buscar extravasar por meio de práticas violentas como o boxe ou outros tipos de luta. "Você ensina o cérebro que aquele alívio pela violência é prazeroso", afirma. "É preciso saber colocar a raiva para fora do jeito certo, construindo algo positivo."

Se a impossibilidade de arrumar tempo livre se transforma em um álibi, a sugestão da médica e coach Roberta Ribeiro é fazer pequenas mudanças no cotidiano que não interfiram nos horários do profissional. Para aplicar um método próprio de combate ao esgotamento que integra diferentes tipos de terapia, Roberta fundou a empresa MedIntegral.

De acordo com ela, aspectos da vida como cuidar da saúde e trabalhar devem estar integrados, e não ocupar "caixinhas" fragmentadas na constituição do indivíduo. "As coisas acontecem simultaneamente", diz. Por esse princípio, iniciativas como escolher as opções mais saudáveis no almoço, usar as escadas e ir para o trabalho de bicicleta configuram meios de melhorar hábitos diários. "A questão não é aliviar o estresse, é administrá-lo", afirma


Leia mais em:

http://www.valor.com.br/carreira/3713806/estresse-sedentarismo-e-ma-alimentacao#ixzz3EjZ9PoET




Obrigado por comentar!
Erro!
Contato
+55 11 5561-6553
Av. Rouxinol, 84, cj. 92
Indianópolis - São Paulo/SP