Durante a pandemia, alguns processos de assistência ao paciente foram prejudicados devido a superlotação dos hospitais, exaustão dos funcionários e alta demanda dos pacientes infectados com a Covid-19. Agora, no período em que as unidades de saúde começam a se restabelecer, algumas práticas precisam ser resgatadas e novos aprendizados deverão fazer parte da rotina das instituições.
Conforme Taissa Sotto Mayor, Chief Operating Officer (COO) da Quality Global Alliance (QGA) – especialista em implementar qualidade e excelência internacional ao sistema de saúde brasileiro –, houve um aumento do número de eventos adversos no período, como pneumonias causadas por ventilação mecânica.
“Tivemos uma piora dos indicadores de segurança do paciente naqueles hospitais que ficaram superlotados devido a Covid-19. As equipes de trabalho estavam muito sobrecarregadas para atender os pacientes infectados. Por exemplo, um paciente com a doença pode precisar de assistência de cerca de 6 profissionais para ser estabilizado no leito”, explicou.
O resgate das medidas de segurança é de extrema importância para evitar que mais danos sejam causados por eventos adversos – causa de 2.6 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O dado é ainda mais alarmante, quando consideramos uma pesquisa, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que aponta que cerca de 829 brasileiros morrem diariamente em hospitais públicos e privados por esse mesmo motivo. Isso significa que, a cada 5 minutos, 3 pessoas morrem por eventos adversos no Brasil.
Agora, para evitar maiores tragédias, o período é de reavaliação. A COO acredita que aquelas instituições, que já haviam passado por um processo de acreditação e tinham culturas de segurança mais maduras, terão mais facilidade em se recuperar do que aquelas que ainda não contavam com essa maturidade.
Junto a essa dificuldade, Taissa acredita que a saúde mental dos profissionais também será um desafio. “Temos agora que enfrentar a questão do aumento da incidência de doenças mentais e do risco de burnout entre os profissionais de saúde, o que exigirá uma abordagem consistente e estruturada por parte das organizações prestadoras de serviços em saúde”, destacou.
Apesar dos desafios a serem superados, o período também foi de aprendizado. As equipes precisaram descobrir soluções com uma agilidade nunca vista e, algumas delas, deverão permanecer nas rotinas dos hospitais.
“Precisamos ouvir a voz de quem está prestando assistência, muitas soluções durante a pandemia vieram de técnicos, enfermeiros e médicos. Quem estava aprendendo e conhecendo de verdade eram os que estavam na linha de frente. Ter um ambiente que ofereça segurança psicológica para os profissionais é fundamental para garantir a segurança do paciente e estabelecer a cultura do aprendizado”, finalizou.