O mercado brasileiro registrou um aumento sem precedentes no número de healthtechs nos últimos dois anos, o que fez com que já representem o segundo maior segmento de startups do país, atrás apenas das edtechs, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
Desafios impostos pela pandemia para o sistema de saúde exigiram respostas rápidas e soluções inovadoras e acabaram impulsionando o segmento. “Durante a fase mais crítica, chegamos a ter quase 70 iniciativas em nosso hub de inovação”, diz Marco Antonio Bego, diretor executivo do Instituto de Radiologia (InRad) e do InovaHC, núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Uma dessas iniciativas foi o desenvolvimento conjunto de um prontuário eletrônico com a Prontmed, healthtech que atua com foco na organização de dados clínicos para o mercado de saúde. A empresa desenvolveu o Prontmed Hub, que já foi usado em mais de 15 milhões de consultas e já vem sendo empregado por grandes instituições de saúde do país. Além do HC, o prontuário hoje é utilizado no Hospital das Clínicas da Unicamp, Hospital da PUC de Campinas e do Hospital do Centro Universitário do Estado do Pará.
A Prontmed, aliás, nasceu dentro do Hospital das Clínicas de São Paulo, segundo Lasse Koivisto, CEO da healthtech. “Nós começamos dentro do ambulatório da reumatologia e fomos expandindo para vários outros núcleos de medicina, o que nos possibilitou ter hoje mais de 30 especialidades médicas contempladas no prontuário.”
A parceria com hospitais foi fundamental também para que a curitibana Laura, startup que utiliza a inteligência artificial para a gestão e coordenação do cuidado dos pacientes dentro e fora dos hospitais, alavancasse suas operações. Presente em mais de 40 instituições de saúde, a healthtech já realizou mais de 11 milhões de atendimentos e ajudou a reduzir o tempo de internação de pacientes e de mortalidade hospitalar em 10% e 25%, respectivamente.
A empresa desenvolveu a plataforma Laura Inteligência Clínica que, a partir da análise de dados de prontuários e exames, indica à equipe de cuidado quais pacientes precisam ser priorizados. “O sistema se conecta com o prontuário eletrônico, reúne os dados e os organiza de forma inteligente, gerando insights relevantes com o uso de machine learning ou de regra de negócio, que podem ser acessados por meio de um dashboard ou aplicativo de celular”, explica Hugo Morales, diretor médico e cofundador da Laura.
A Dr. TIS, startup especializada em telerradiologia e telemedicina, é outra que estabeleceu um amplo leque de parcerias e hoje está presente em mais de 250 hospitais. Fundada no Brasil há quatro anos pela CEO, Jihan Zoghbi, a startup realizou somente no ano passado 1,7 milhão de exames em sua plataforma de gestão de imagens médicas.
A executiva salienta que o propósito da empresa é aproximar os pacientes dos melhores médicos e hospitais, independentemente da localização geográfica. “A telemedicina e a telerradiologia permitem que os especialistas, geralmente concentrados em determinadas regiões do Brasil, possam atender pessoas que residem em áreas de difícil acesso, mais distantes dos grandes centros urbanos.”
Uma das primeiras startups a ingressar, há cinco anos, no núcleo de inovação InovaInCor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), a MedRoom, especializada em treinamentos para a área da saúde e ensino médico utilizando realidade virtual, fechou parceria com o instituto para implementar um sistema de telemedicina para a capacitação e treinamento de profissionais em UTIs públicas do Estado de São Paulo com o uso da realidade virtual, como parte da iniciativa TeleUTI.
“Com o agravamento da pandemia e decretação da quarentena, porém, tivemos que rever o projeto e aí veio a ideia de desenvolver um aplicativo para celular para que conseguíssemos trabalhar as duas dinâmicas de ensino e aprendizagem, a presencial e o ensino a distância”, conta Vinícius Gusmão, CEO e cofundador da MedRoom.
O programa funciona a partir de um posto de telemedicina instalado dentro do InCor, com uma equipe de especialistas intensivistas apoiando as equipes médicas das UTIs de nove hospitais.