O uso de robôs em cirurgias, algumas de alta complexidade, tem se tornado cada vez mais comum no país. Entre os benefícios proporcionados pela robótica estão a redução no trauma cirúrgico, maior precisão nos procedimentos e uma recuperação mais rápida dos pacientes, com menor tempo de internação. Segundo Sérgio Alonso Araújo, diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, a demanda pela cirurgia robótica tem crescido.
A Rede Einstein conta hoje com oito equipamentos em seu parque robótico, cinco para uso clínico, e já realizou mais de 13 mil procedimentos cirúrgicos utilizando essa técnica. “O público começa a conhecer a técnica e muitos pacientes chegam querendo saber se a cirurgia será executada com robôs”, afirma Araújo. Para ele, no futuro, a maioria das cirurgias será robótica. “Há mais padronização nos procedimentos e você reduz a variabilidade nas cirurgias, aumentando a segurança dos pacientes.”
Com hospitais em São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro, a Rede Santa Catarina já realizou mais de 2,7 mil cirurgias robóticas, desde 2018. Alline Cezarani, CEO da companhia, explica que vem sendo usada em procedimentos de cirurgia torácica avançada e em procedimentos abdominais, ginecológicos e urológicos. “Também temos realizado operações cardiológicas e de cabeça e pescoço”, diz.
Com o aumento da demanda, a rede estuda a possibilidade de ampliar seu parque robótico. “Ainda não temos decisão de investimento, mas no Rio de Janeiro, estamos chegando perto do limite de capacidade na Clínica de Saúde São José”, explica Cezarani.
O crescimento da demanda, no entanto, ainda é apenas a ponta do iceberg robótico na cirurgia. Hoje, o sistema de saúde brasileiro possui cerca de 100 equipamentos em atividade.
Na prática, o alto custo dos robôs e dos insumos é um obstáculo à adoção da tecnologia em larga escala. Há poucos fabricantes no mercado e cada equipamento pode custar entre US$ 2 milhões e US$ 4 milhões. Os insumos, por sua vez, podem encarecer os procedimentos de R$ 6 mil até R$ 12 mil, dependendo da praça.
Hoje, os modelos Da Vinci, fabricado pela americana Intuitive, dominam 95% do mercado no país. Outros players como a inglesa CMR começam a chegar ao Brasil e novos modelos, como o Hugo, da Medtronic, já aprovado pela agência reguladora americana FDA, começam a ser testados no mercado internacional. Cezarani, da Rede Santa Catarina, espera que a chegada de concorrentes chineses ajude a derrubar os preços no futuro.
Para Carlos Domene, coordenador de robótica da Rede D’Or São Luiz, dona do maior parque robótico cirúrgico do país, com quase 19 equipamentos ativos, “a concorrência pode, de fato, começar a derrubar os preços pouco a pouco”. Ele lembra, no entanto, que além do alto investimento inicial, é preciso manter os equipamentos atualizados. “Mesmo com mais concorrência, a cirurgia robótica sempre será mais complexa, mais sofisticada e mais cara”, resume.
Sérgio Arap, superintendente médico do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, observa que a adoção da cirurgia robótica depende não apenas das vantagens que ela pode proporcionar para os pacientes, mas também do equilíbrio financeiro da operação. “Em cirurgias mais simples, o custo pode ficar inviável”, afirma.
Arap explica que hoje, a maior parte dos procedimentos robóticos se concentra nas operações de prostatectomia e outras cirurgias na pélvis e no abdômen. “Nesses procedimentos, os ganhos são mais acentuados, o que reduz o impacto do aumento do custo e aumenta a viabilidade da tecnologia”, justifica.
Outro fator que reduz a velocidade na adoção da tecnologia é que poucos planos de saúde cobrem esse tipo de procedimento. Isso acontece, porque a cirurgia robótica ainda não foi incluída no rol de procedimentos de cobertura obrigatória, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Para Arap, do Sírio-Libanês, a cobertura pelos planos de saúde poderia aumentar o número de cirurgias robóticas e proporcionar ganho de escala aos hospitais. Domene, da Rede D’Or, concorda: “Isso poderia acelerar o ciclo de adoção da tecnologia”.
Enquanto isso, o uso da robótica é bem mais restrito nas salas de cirurgia do sistema público de saúde. Apenas cinco hospitais públicos do país possuem esse tipo de equipamento. Um dos poucos a contar com a tecnologia é o Vila Santa Catarina, da Prefeitura de São Paulo, administrado pela Rede Einstein. O robô tem capacidade para 20 a 30 cirurgias bariátricas e oncológicas por mês e foi uma doação da rede para o Vila Santa Catarina.
“Na economia da saúde, a adoção da tecnologia depende sempre de uma análise rigorosa do custo e do efeito do procedimento”, explica Sidney Klajner, presidente da Rede Einstein. “Não vamos adotar a robótica em cirurgias sem que haja evidências robustas do benefício, mas estamos fazendo pesquisas nesse sentido para ampliar o uso dessa tecnologia”, afirma.