Na avaliação de Francisco Campos Braga Neto, professor da Escola Nacional de Saúde Pública e coordenador do Observatório de Política e Gestão Hospitalar da Fiocruz, não há dúvidas quanto à resposta de Estados e municípios no âmbito da oferta hospitalar durante a pandemia, com o aumento no número de leitos. Por outro lado, o pesquisador aponta que esses leitos nem sempre foram colocados em operação sob bases sólidas. “Foi uma resposta emergencial importante, mas o atendimento aos casos de covid revelou-se bastante complexo, exigindo não só instalações físicas e equipamentos adequados como a presença de especialistas experientes, e nem sempre isso foi alcançado”, afirma. Para Braga Neto, o ponto central gira em torno do financiamento da rede hospitalar.
Dados da pasta indicam que, em relação ao orçamento destinado às unidades federais de saúde, foram executados R$ 1,4 bilhão em 2021, número superior ao R$ 1,3 bilhão de 2020. O Ministério da Saúde também repassa mensalmente aos fundos estaduais e municipais de saúde, recursos destinados a procedimentos hospitalares e ambulatoriais de média e alta complexidade. Em 2021, foram repassados mais de R$ 45,5 bilhões destinados a esses serviços, cima dos R$ 44,6 bilhões destinados em 2020. “O SUS tem perdido a vanguarda no atendimento hospitalar no país por falta de investimento adequado há décadas. Agora, sob a vigência do teto de gastos [que limita o crescimento de despesas da União], a situação se agravou ainda mais”, afirma Braga Neto.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes, aponta que, apesar de uma leve melhora orçamentária e no número de leitos, os valores ainda são insuficientes para “reprogramar as demandas da atenção hospitalar no país”. Para ele, “há um problema de governança clínica e infraestrutura. Isso precisa ser superado em um ambiente de maior necessidade, no âmbito de uma reforma hospitalar”.
O mesmo ponto é citado por Leonardo Mattos, professor e pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da UFRJ. “Retomar o investimento público congelado e ampliar a oferta em hospitais públicos é o maior desafio para o futuro, levando em conta critérios epidemiológicos, necessidades de saúde”, disse. No período mais grave da pandemia, o governo federal conseguiu afastar a aplicabilidade das regras fiscais e aportou recursos no sistema de saúde por meio de créditos extraordinários, fora do teto de gastos.
O Ministério da Saúde informou que desde a declaração da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) foram repassados mais de R$ 7,4 bilhões em créditos extraordinários para fortalecer e ampliar o acesso ao atendimento no SUS. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Daniel Pereira, defende que a melhora na execução orçamentária e a maior oferta de leitos proporciona aos Estados e municípios uma “estrutura robusta à atenção especializada”.
Ele informa que o governo tem investido em outras áreas integradas para mitigar os impactos no SUS, como a vigilância em saúde. “Com a vigilância mais atenta e tempestiva, conseguimos deslocar o usuário do SUS para um atendimento de atenção primária, reduzindo a lotação hospitalar na ponta”, argumentou o secretário.