Como a prestação de cuidados centrada no paciente humaniza a saúde
30/05/2022

Você consegue imaginar, nos tempos de hoje, uma prestação de serviços de saúde com uma abordagem humanizada, em que os profissionais da área, desde o atendimento, passando pela consulta, até os procedimentos, agem colocando os interesses do paciente como prioridade, fazendo-o assumir o papel de protagonista para, a partir de informações técnicas, definir as melhores práticas que garantem a sua própria qualidade de vida?

 

Ao contrário de outras áreas, o conceito de inovação na medicina tem a ver primeiro com a expansão do conhecimento. Um novo tratamento, nova técnica, uma causa e efeito revelada.

No entanto, a pandemia agravou a falta de proximidade no cuidado. O isolamento social diminuiu as conexões humanas entre pacientes e agentes de saúde. Desde março de 2020, a maioria dos hospitais e centros de saúde priorizaram emergências relacionadas à covid-19. Mesmo com uma cobertura vacinal bastante satisfatória, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, a covid anda liderou com folga os atendimentos de dúvidas de saúde da Informar, equivalendo à soma das quatro posições subsequentes e mais de dez vezes superior à sexta colocada.

Ao longo desses dois anos, as tecnologias de automação impulsionaram a oferta de diagnósticos e tratamentos mais rápidos e precisos. Com a ajuda de algoritmos inteligentes, a telemedicina se apresentou como uma abordagem estratégica, com atuação estruturada e organizada para a prestação de serviços de saúde à distância.

Hoje, com a significativa redução das mortes por coronavírus, o setor de saúde aos poucos retorna à rotina, agora reforçada pela quase onipresença da tecnologia, que para as demais áreas do conhecimento é unanimemente reconhecida como veículo de inovação.

Diante desse novo cenário, temos a oportunidade de as empresas que prestam serviços de cuidados às pessoas melhorarem as conexões com os pacientes. O foco deve ser a qualidade.

Como melhorar a experiência do paciente com o suporte da tecnologia

O fortalecimento da aliança entre agentes de saúde e pacientes é um passo importante na jornada contínua para humanizar os cuidados. E, contrariando o senso comum, a saúde "digitalizada” tem potencial para reforçar esse vínculo.

Afinal, apesar dos grandes investimentos em inovação na saúde, nos últimos dois anos a grande transformação desse setor será relacionada ao cuidado habilitado digitalmente, segundo previsões de especialistas. Isto significa uma prestação de serviço mais humanizada, utilizando a tecnologia como suporte para oferecer agilidade e precisão no atendimento.

De acordo com o State of Healthcare 2021 Report, 60% das empresas do setor estão criando novos projetos em digital e 42% acelerando alguns ou todos os planos de transformação digital. Entre as tecnologias mais citadas estão: RPA, inteligência artificial, 5G, realidade virtual e aumentada, blockchain e IoT, a Internet das Coisas.

Pressionada pela crise sanitária global, soluções que levariam anos para serem implementadas ou regulamentadas, como a telemedicina e o monitoramento remoto de paciente, já estão sendo testadas e implementadas ou aperfeiçoadas, com aplicações para consultas de baixa gravidade e acompanhamento de doenças crônicas.

Evidentemente, alguns procedimentos e intervenções médicas exigem a presença física. Quando falamos de cuidado com pessoas, as habilidades cognitivas do ser humano, que envolvem questões subjetivas, como a sensibilidade e a ética, fazem diferença.

A comunidade tecnológica reconhece e valoriza isso. Tanto que startups desenvolveram os Doc-bots com empatia algorítmica. Não se trata de supor que um robô com empatia substitua o serviço médico humanizado, mas os bots são ferramentas de apoio úteis para direcionamento a especialidades ou para cuidados primários por conta própria, especialmente em locais onde há escassez de profissionais e serviços.

Humanizando os cuidados com a saúde: qual o caminho?

Não há como ignorar a aceleração digital impulsionada pela crise do coronavírus. No entanto, por mais que mudanças aconteçam para acompanhar a evolução da sociedade, há valores que seguem indispensáveis.

Atenção e acolhimento, por exemplo, são duas características da abordagem humana na saúde que dificilmente serão completamente assumidas um dia por ferramentas digitais, por mais aprimorada que seja a tecnologia. Quando procuramos atendimento de um profissional da saúde nem sempre precisamos de um tratamento.

Muitas vezes, marcamos uma consulta para conversar com o médico sobre prevenção, hábitos de vida saudável, histórico de família. O cuidado que procuramos é uma atenção especial, escuta, acolhimento. Alguém capaz de processar nossas queixas com respeito aos sentimentos envolvidos.

Será que algum dia uma máquina conseguirá oferecer uma experiência assim, tão pessoal, empática e cuidadosa? Hoje, mesmo com a Saúde 5.0, isso não é possível.

Mais do que nunca, é preciso reconectar o ecossistema de saúde, fortalecendo toda a cadeia: profissionais, serviços, indústria e pacientes, e voltar os olhos para o valor inestimável do cuidado.

O atendimento digital personalizado é o futuro do setor de saúde?

A busca por um atendimento humanizado, ágil e eficiente fez com que a procura por inteligência artificial ficasse na mira do setor de saúde. Tanto que, segundo relatório da GVR, o mercado global de IA no setor de saúde foi avaliado em US$ 10,4 bilhões em 2021 e deve se expandir a uma taxa de crescimento anual composta de 38,4% de 2022 a 2030.

Os benefícios trazidos pela IA e suas ramificações são enormes na saúde. A tecnologia promete ser forte aliada nos tratamentos, atendimentos e nas respostas rápidas aos pacientes, caminhando no sentido de uma medicina preventiva.

A inteligência artificial viabiliza uma medicina muito mais próxima da sociedade, com intuito não de substituir a capacidade analítica das equipes técnicas e sim de utilizar a tecnologia como apoio para melhorar a jornada do paciente.

O aumento dos gastos do consumidor com bem-estar mostram preocupação crescente com a saúde preventiva e a exigência por serviços de qualidade.

A inovação no sentido mais amplo é necessária. As vantagens para o setor com as soluções digitais mitigam desafios, tanto no exercício da medicina quanto na gestão em saúde.

O fato é que, nunca como antes, a tecnologia será aplicada para a melhoria da experiência do paciente e do cuidado com a saúde de ponta a ponta.

As aplicações surgem, inclusive, com as expectativas dos pacientes que estão cada vez mais receptivos ao atendimento digital e, de agentes da saúde, que experimentam o valor das ferramentas.

A chegada do 5G tornará os serviços ainda mais disruptivos, com maior conectividade e velocidade na transmissão de dados, oferecendo um futuro ainda mais eficiente para a saúde.

Se antes melhorar experiência do paciente, inovação e o crescimento sustentável do setor eram variáveis incompatíveis na mesma equação, hoje, as empresas começam a enxergar que tecnologia aliada ao cuidado pode ser a chave para unificar tais objetivos.

A partir de agora, o grande desafio para a saúde será usar os recursos digitais para aperfeiçoar a experiência do paciente sem desumanizar o atendimento.

O setor precisa caminhar para um modelo de atendimento preventivo, rápido e focado no bem-estar do paciente. A tecnologia nos ajuda a remodelar o conceito tradicional do atendimento reativo e mecânico para uma assistência contínua, preditiva e humanizada.

A combinação da capacidade de processar imensas quantidades de dados das tecnologias de automação aliada à expertise humana será fundamental para a medicina encontrar curas, tratamentos mais promissores e diagnósticos preventivos para uma sociedade mais saudável, estabelecendo um ecossistema de cuidado. E isso é tudo que o paciente quer.

*Vivian Coutinho é diretora de operações da ProCare Saúde

Fonte: Exame




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