A implantação de um modelo de gestão nos moldes ESG exige o rompimento com as práticas tradicionais ainda em uso pela maioria das empresas e demais instituições públicas e privadas. Essa ruptura é o que chamamos nos dias de hoje de disrupção, palavra que traduz com fidelidade as iniciativas das startups com certo destaque para as healthtechs, empresas que desenvolvem tecnologias para otimizar o sistema de saúde e tudo a ele relacionado.
Abro espaço para falar das healthtechs porque, quando o tema ESG é comentado, a Saúde normalmente não é a primeira a ser lembrada como uma área prioritária para implantação de uma gestão mais sustentável. É natural que as pessoas pensem primeiro em corporações cujas atividades causem mais impactos ambientais, como as mineradoras e siderúrgicas, entre outras. Mas esquecem das consequências de um sistema de saúde mal gerido e de como isso se reflete na vida de cada cidadão.
E é aí que está a importância das healthtechs. Elas podem ser a ferramenta para que o sistema de saúde, que envolve o público e o privado – seja mais eficiente, menos dispendioso e alcance mais e mais pessoas. Sustentabilidade não se limita à questão ambiental. Envolve também iniciativas sociais e de eficiência na gestão. É um pacote. E as tecnologias que essas startups desenvolveram e continuam a desenvolver, são essenciais para que o nosso sistema de saúde enfim possa entrar na era da disrupção.
Healthtech é um modelo de negócio com características distintas do restante do mercado, pois seus produtos e serviços têm escalabilidade, facilidade para replicar a ideia e diferenciais inovadores mesmo em um cenário de incertezas. Dessa forma, elas trazem melhorias para a oferta de serviços de saúde, assim como as fintechs trouxeram para o setor financeiro. Em suma, elas estão contribuindo para a humanização do atendimento médico sem que isso signifique aumento de custos.
Vamos pegar como exemplo o setor público de saúde. Se um cidadão sofre um acidente grave, ele é imediatamente levado para um hospital do Sistema Único de Saúde (SUS), onde é prontamente atendido, faz exames e, se necessário, até uma cirurgia. Tudo gratuitamente. E isso é bom. Mas se a situação for outra, por exemplo, ele estiver em casa e começar a sentir dores ou qualquer outro sintoma estranho, a eficiência não é a mesma. O atendimento é demorado, leva dias ou meses e, ao ser encaminhado para exames clínicos e laboratoriais, acaba entrando em uma fila de espera, o que pode agravar o diagnóstico.
O setor privado também tem seus problemas, tanto que se tornou comum planos de saúde quebrarem e serem absorvidos por outros; pacientes reclamarem da falta de atendimento quando ele passa a necessitar de procedimentos mais complexos; e por aí vai. E como melhorar tudo isso sem aumentar demasiadamente os custos? Como atender bem gastando pouco? Com certeza, as healthtechs têm algumas respostas importantes, contribuindo com soluções para esses problemas.
Elas têm desenvolvido soluções inovadoras em vários segmentos da saúde como a medicina preventiva, que evita ou minimiza efeitos das doenças; medicina preditiva, cuja finalidade é identificar a predisposição a alguns males como câncer, hipertensão, etc. Vale ressaltar também o bom trabalho de algumas dessas startups em medicina proativa, que estreita e prolonga a relação entre médico e paciente de forma suportada pela tecnologia e a medicina personalizada que, como o próprio nome diz, permite que tratamentos sejam aplicados conforme a característica de cada indivíduo.
É para pensar os benefícios que soluções inovadoras nesses segmentos da medicina podem trazer para pacientes e para a própria área em si. Prevenir custa menos ao sistema de saúde e gera maior bem-estar ao paciente do que tratar uma doença em estágio avançado. Bem implantada, a tecnologia reduz a quantidade de consultas presenciais sem prejuízo para o tratamento e para a relação médico/paciente e ainda contribui para redução de filas em clínicas e hospitais e também do número de vezes que o paciente tem de se locomover de casa ao consultório apenas para mostrar um exame que poderia ter chegado ao médico por meios digitais.
Tudo isso é ganho de tempo, de eficiência, de qualidade de vida para quem precisa e, na outra ponta diminuição de custos, redução da emissão de carbono, já que exige menos locomoção, e do uso de papel por meio da digitalização. Enfim, o sistema de saúde como um todo – público e privado – pode atender mais e melhor mudando seus paradigmas e as healthtechs podem ser protagonistas desse processo disruptivo, bastando a formulação de uma política bem elaborada para a área.