Além disso, como boa parte das empresas de saúde vêm num forte processo de fusões e aquisições, que exigem recursos e elevam o endividamento, o resultado financeiro se deteriorou com a alta dos juros, refletindo no lucro líquido.
As mais afetadas no trimestre foram a operadora Hapvida e a corretora e administradora de convênios médicos Qualicorp, ambas com grande perda de clientes. A Hapvida, que concluiu sua fusão com a NotreDame Intermédica em fevereiro, teve 431 mil contratos suspensos e outros 157 mil cancelamentos devido à demissões nas empresas que ofereciam o benefício a seus funcionários. Houve 524 mil novas vendas, mas não foram suficientes para cobrir todas as perdas. O mesmo ocorreu com a Qualicorp, que conquistou 115,1 mil clientes, mas teve 131,1 mil baixas na carteira.
No dia da divulgação dos números trimestrais, o papel da Quali desvalorizou 13% na bolsa e da Hapvida, quase 17%, diante dos resultados fracos, mas também por causa das perspectivas. O cenário daqui para frente é incerto com os juros elevados e altos reajustes dos planos, cujos aumentos esperados giram entre 15% e 20%, em média. Por um lado, a recomposição da inflação médica vai proporcionar melhoria na receita e outros ganhos às companhias, mas ao mesmo tempo há um risco maior de inadimplência e desistência do convênio. “Início de 2022 fraco, mas o pior já passou?” foi o questionamento feito pelos analistas do Itaú BBA, em relatório.
As seguradoras SulAmérica, Bradesco Saúde e Porto Saúde viram sua taxa de sinistralidade aumentar no primeiro trimestre, que foi compensada pela melhora no resultado financeiro. As seguradoras têm esse indicador melhor porque têm maior volume de reservas do que as operadoras e não estão promovendo aquisições no mesmo ritmo de suas concorrentes.
A OdontoPrev, maior operadora de planos dentais do país, também sentiu o impacto do ambiente econômico. No primeiro trimestre, a companhia perdeu 28 mil usuários e o tíquete médio caiu 1,2%.
Os cinco grupos hospitalares - Rede D’Or, Mater Dei, Dasa, Kora e Oncoclínicas - viram a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cair, com variações entre 0,2 a 3,7 pontos percentuais. No início do ano, a disseminação da ômicron fez o tíquete médio dos procedimentos realizados nos hospitais ser menor. Na Rede D’Or, a redução foi de 3,2% e na Mater Dei, 12%. “Vemos a queda de tíquete, pressão de margens e alta alavancagem como uma combinação preocupante para os resultados no curto prazo”, diz relatório da XP.
Entre as redes de medicina diagnóstica, há perda de rentabilidade devido à covid e resultado financeiro negativo. Mas a performance entre elas varia bastante. Fleury e Hermes Pardini registraram alta de dois dígitos na receita, mas a última linha do balanço foi pressionada por despesas financeiras. Já a Alliar, que teve o controle vendido ao empresário Nelson Tanure, teve piora nos principais indicadores. A rede atribuiu o desempenho à onda de covid, que levou à redução de exames eletivos e ao afastamento de profissionais da empresa.
Em comum, os executivos das empresas destacaram em suas teleconferências com analistas e investidores que o cenário no mês de março já foi de retomada, com menor volume de demissões nas empresas contratantes de convênios médicos. Além disso, há expectativa positiva com aumento dos tíquetes vindo dos reajustes dos planos e retomada de procedimentos eletivos, que geram maior ganho, com o arrefecimento da covid.
A maior parte dos presidentes e diretores financeiros dos grupos de saúde disse que, apesar do atual patamar da taxa Selic e seu impacto na última linha do balanço, não pretende reduzir a estratégia de crescimento por aquisições. Eles ponderaram que as análises estão mais criteriosas, mas não houve mudança de planos. A Hapvida tem no radar 20 ativos para compra. Já a Dasa informou que as aquisições não vão ocorrer no mesmo ritmo dos dois últimos anos. Nesse período, a companhia, controlada pela família Bueno, promoveu nove aquisições com desembolsos de R$ 2,5 bilhões.
Nos últimos meses, os negócios de destaque foram a aquisição da SulAmérica pela Rede D’Or e o investimento conjunto de R$ 678 milhões de BP - Beneficência Portuguesa, Bradesco Saúde e Fleury em uma empresa de oncologia.