Considerado um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, o câncer está entre as quatro doenças que mais causam mortes prematuras, antes dos 70 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. Apesar do índice preocupante, hoje, o câncer não é mais uma sentença de morte e caminha para se tornar uma doença crônica.
No Brasil, são esperados mais de 625 mil novos casos até o final de 2022, o que mostra que é de extrema importância que haja um olhar global para as ações de promoção da saúde populacional, que viabilizem o diagnóstico precoce do câncer, e alternativas terapêuticas que proporcionem aos pacientes o tratamento adequado, com foco em melhores perspectivas e possibilidades de cura.
Com relação ao tratamento, uma das possibilidades ainda muito utilizadas é a quimioterapia, mas a evolução da ciência no tratamento oncológico avançou significativamente nas últimas décadas e as terapias avançadas têm se consolidado como importantes alternativas para vários tipos de câncer e trazem perspectivas promissoras. Essas inovações possibilitam que o tratamento seja muito mais humanizado e personalizado, com a medicina de precisão.
Para entender este tipo de abordagem, é importante lembrar que o câncer ocorre quando uma célula passa por uma mutação e se transforma em uma célula tumoral, começando a se multiplicar descontroladamente. No tratamento tradicional, os medicamentos buscam combater as células que estão se multiplicando, mas de forma não muito específica ou direcionada
Na oncologia de precisão, como o próprio nome sugere, os tratamentos são mais direcionados, específicos, podendo serem chamados de terapia-alvo. Primeiramente os cientistas buscam a identificação da alvos específicos que estão relacionados ao tumor e quais foram as alterações genéticas que ocorreram. A partir daí, são desenvolvidas terapias inovadoras e personalizadas para atacar somente as células malignas e combater o tumor.
A personalização cada vez maior do tratamento do câncer permite um olhar mais profundo para determinados tipos de tumores. Um exemplo dessa abordagem é a terapia celular, que realiza a reprogramação da célula de defesa do corpo do paciente para tratamento da doença.
Essas novidades da medicina, que começam a chegar no Brasil, são um avanço para tratar, de forma mais eficaz e assertiva, pacientes que apresentam doenças que até então tinham opções limitadas de tratamento, proporcionando mais qualidade e tempo de vida. A Anvisa regulamentou a via de registro destas tecnologias em fevereiro de 2020, com a introdução de uma nova categoria de medicamentos especiais chamada de Produtos de Terapias Avançadas (PTAs). A primeira terapia celular acaba de ser aprovada, constituindo o primeiro tratamento deste grupo para pacientes com Leucemia Linfoblástica Aguda e Linfoma Difuso de Grandes Células B.
Outro tipo de tratamento-alvo e também disruptivo sobre a história do câncer mais prevalente na mulher, o câncer de mama, são os inibidores CDK 4/6, uma classe de medicamento de administração por via oral, para quem possui câncer de mama tipo RH+/HER2-, em estágio avançado. Por atuarem em mecanismo distinto na interrupção do crescimento das células cancerígenas, conseguem atuar também nos mecanismos de resistência, aumentando de forma importante tanto a sobrevida livre de progressão quanto a sobrevida global dos pacientes.
Essas novas abordagens criam animadoras possibilidades devido ao potencial de tratar doenças até então sem opções terapêuticas. Para que cada vez mais pacientes tenham acesso às terapias inovadoras, é necessário um esforço e investimento em pesquisas clínicas, além de formar parcerias que buscam soluções para os desafios da saúde no Brasil, atuando em todo o ecossistema com base em ciência e inovação, para gerar acesso inclusivo ao melhor cuidado e contribuir para a sustentabilidade da saúde do país.
*André Abrahão é Diretor Médico da Novartis Brasil.