Telemedicina já é realidade. Agora, o desafio é melhorar continuamente a experiência do paciente
20/05/2022

Não faz muito tempo que a discussão sobre telemedicina e o uso de soluções digitais em consultas recebia forte resistência em todo o setor de saúde. Havia uma preocupação latente sobre a capacidade de realizar bons diagnósticos sem o contato físico entre médico e paciente. Até que veio a pandemia de covid-19 a partir de março de 2020 – e o atendimento remoto passou a ser a única alternativa viável para manter as consultas em um cenário em que a aglomeração e o contato social precisavam ser reduzidos.

Hoje, após dois anos de intensa transformação digital, debater sobre a telemedicina perdeu o sentido. A consulta remota já é uma realidade para grande parte da população brasileira, e o setor soube se estruturar do ponto de vista de equipamentos e regras diante da urgência imposta pelo coronavírus. A ponto de outro tópico assumir o protagonismo entre autoridades e profissionais: melhorar a experiência do paciente nas consultas, sejam elas digitais ou não.

A quarta edição do Painel TIC Covid-19, organizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) não deixam dúvidas. Praticamente um quarto (25%) da população com acesso à internet no país realizou uma consulta on-line durante a pandemia de covid-19. Desse total, praticamente sete em cada dez pessoas (69%) afirmaram que optaram por este recurso na rede pública com o Sistema Único de Saúde. Na rede privada, o indicador é de 53%.

 

Os dados reforçam que o atendimento remoto na medicina já é uma realidade comum a todos. Se antes os médicos não enxergavam utilidade das soluções digitais na consulta com seus pacientes, hoje a situação é outra. O surgimento do novo coronavírus fez com que a digitalização se tornasse uma necessidade, e não uma opção. Mesmo os profissionais mais reticentes tiveram que se render a ela e, principalmente, descobrir como manter e melhorar a qualidade de suas orientações mesmo sem o contato presencial.

É neste ponto que um outro elemento ganha força e espaço na rotina médica: a análise de dados. Se as interações ocorrem no ambiente digital, cada contato realizado, seja a consulta propriamente dita ou o simples envio de documentos, deixa uma série de informações pelo caminho que podem – e devem – ser coletadas e compreendidas pelo profissional de saúde.

Ao fazer esse novo tipo de leitura, é possível não só compensar a ausência do olho no olho com o paciente, como também chegar a diagnósticos mais precisos em um prazo bem mais curto. Afinal, o médico pode cruzar os dados coletados na consulta on-line com outras fontes, como base de conteúdos clínicos, o histórico da pessoa e de seus familiares, as medicações tomadas, entre outras. Tudo isso leva a um melhor atendimento e, principalmente, a uma resolução mais rápida do problema.

Não à toa, esse é o principal desafio que os profissionais de saúde precisam encarar daqui para frente. O uso de soluções digitais na relação entre médicos e pacientes já é página virada aqui no Brasil, como mostra a pesquisa realizada pelo CGI.br. A questão é justamente saber o que fazer com elas. É preciso utilizar essas ferramentas de forma adequada para potencializar a experiência do paciente. Em outras palavras: garantir que a consulta, seja ela presencial ou virtual, atenda todas as expectativas da pessoa com o apoio dessa tecnologia.

Trata-se de um conceito que nascei no ambiente corporativo, mas que avançou a outros setores com a transformação digital. Hoje, é inevitável pensar na jornada que um paciente faz para conseguir um atendimento médico. No caso da telemedicina, é uma questão de necessidade: sem o contato presencial, os recursos tecnológicos substituem as interações.

 

Mas o maior controle da pandemia com a vacinação em massa leva essa necessidade também para os consultórios. Ninguém quer mais esperar vários minutos na recepção para conversar por cinco minutos com o médico em sua sala. As pessoas querem relacionamento, mas com agilidade e eficiência. A humanização tão desejada só é possível quando o profissional da saúde se livra de procedimentos burocráticos e se dedica mais a ouvir e conhecer seus pacientes.
 

Evidentemente é necessário encontrar os melhores recursos para isso. A mesma pesquisa mostra que o meio mais utilizado para realização de teleconsultas foram os aplicativos de mensagem, com 59% das respostas. São ferramentas importantes, sem dúvida, mas os médicos precisam ir além. Se os dados são a matéria-prima essencial para o trabalho médico em prol da experiência do paciente, então é preciso encontrar as soluções que saibam trabalhar com essas informações.

Nesse sentido, o prontuário eletrônico revela-se como o hub de conteúdo que um consultório precisa atualmente. Por meio dele é possível condensar informações cadastrais, histórico médico e até acessar bibliotecas de conteúdos clínicos para facilitar esse cruzamento e, a partir daí, receber insights melhores sobre os pacientes. Nenhuma consulta, presencial ou não, será bem sucedida sem a utilização desse recurso no dia a dia.

Com dois anos de pandemia de Covid-19, muito se fala das mudanças provocadas pela aceleração digital. Isso vale para a educação, varejo e, claro, saúde. Porém, a grande maioria dos debates, principalmente na medicina, ainda gira em torno da eficiência e da necessidade de soluções tecnológicas.

Discute-se se a telemedicina é viável ou não e se as ferramentas de TI são úteis para a rotina médica. Isso é um assunto que já não leva a lugar algum. Ao invés de pontuar que a tecnologia está presente na rotina dos profissionais de saúde, é mais importante entender como ela pode ajudar na consulta de seu paciente. O futuro das consultas remotas já chegou – agora é se preparar para o que vem pela frente.
 

* Tiago Delgado é sócio-fundador da Medicina Direta, empresa especializada em gestão e serviços digitais para clínicas e consultórios





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